Desvendando a economia Titulo Coluna
Impactos de um aumento na taxa Selic
Sandro Renato Maskio
Natasha Jaccoud
28/03/2022 | 07:00
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No dia 16 de março, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, aumentou a Selic em 1 ponto percentual, de 10,75% para 11,75%. É a maior taxa desde 2017, quando chegou a 12,25% a.a. (ao ano). Em março do ano passado, ou seja, um ano atrás, a taxa básica de juros Selic estava em apenas 2% a.a., marcando a mínima histórica.

Esse aumento não foi surpresa para o mercado devido aos impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que se somou às pressões de elevação de preços causadas pelo desajuste entre oferta e demanda em nível global a partir dos efeitos da pandemia.

O Banco Central continua sinalizando que nas próximas reuniões a tendência é continuar com uma política monetária contracionista, com elevação dos juros. Isso porque o recente ciclo de aumento dos juros ainda não resultou em desaceleração da inflação, que tem como importantes determinantes fatores de custo, e não de demanda.

Quando o Banco Central decide aumentar a taxa Selic, em geral, seu objetivo de curto prazo é reduzir os índices de inflação. No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, a inflação medida pelo IPCA/IBGE registrou 10,54%. Um pouco mais que os 10,06% acumulados ao longo de 2021.

Com o aumento da taxa básica de juros, o acesso ao crédito fica mais caro e as aplicações financeiras em renda fixa, mais atrativas. Com isso, espera-se reduzir o estímulo ao consumo como forma de reduzir a pressão de demanda sobre a oferta para desacelerar a trajetória dos preços. O efeito colateral é o desestímulo à produção e consumo, desaquecendo o nível de atividade econômica e o crescimento do PIB.

Contudo, cabe ressaltar que há fortes fatores de pressão de custos afetando os preços da economia, como as commodities, os insumos de produção e os combustíveis. Pressões estas que têm ocorrido em nível global, elevando a inflação ao redor do mundo.

Real mais valorizado

Outro efeito bastante importante da elevação da Selic tem sido a atração de fundos financeiros estrangeiros, pois, com o aumento da taxa de juros interna e maior rentabilidade, a aplicação financeira em papéis no mercado brasileiro tem se tornado comparativamente mais atrativa.

Dessa forma, temos uma entrada maior de dólares no Brasil. Com isso, a cotação do dólar tende a cair frente ao real. Nos últimos dias temos visto a cotação fechar abaixo de R$ 5, consequência direta do aumento da Selic. Desde março de 2020 a cotação do dólar tem se situado acima de R$ 5, com exceção de alguns dias em junho desse ano.

Se a valorização do real frente ao dólar assumir trajetória que se mostre um pouco mais sustentável, esta tornará os produtos e insumos importados mais baratos em reais. Ao mesmo tempo, as exportações brasileiras tenderão a ficar um pouco mais caras em dólar no mercado externo.

A elevação da taxa básica de juros não tem ocorrido apenas no Brasil, mas em vários países, como nos Estados Unidos. Com um dos maiores índices de inflação das últimas quatro décadas, agravada recentemente pela guerra na Ucrânia, o FED (Banco Central dos Estados Unidos) também sinalizou ao mercado que novos aumentos na taxa básica de juros deverão ocorrer na tentativa de controlar a inflação.

A década de 2020 se desenha como um período de grandes mudanças.  




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