Setecidades Titulo De longe
Ucraniana da região lamenta invasão russa

Maria Kerikuk, que mora em São Caetano, tem parentes na cidade de Mykolaiv, que foi bombardeada

Renan Soares
Especial para o Diário
25/02/2022 | 00:01
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


Após meses de tensão entre a Rússia e o Ocidente, a potência europeia atacou o seu país vizinho, a Ucrânia. Ontem, o exército russo adentrou nos territórios ucranianos, dando início àquela que pode ser a pior crise bélica na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). De longe, a comunidade ucraniana no Grande ABC acompanhou o começo dos ataques, inicialmente na região Donbass, área que concentra os separatistas – ucranianos que se reconhecem russos.

“Chorei quando deram a notícia. Já não dormi essa manhã (ontem). Ele (Vladimir Putin, presidente russo) já avançou, tem tanque lá, falaram que oito pessoas já morreram, outras foram feridos. Nosso presidente (Volodymyr) Zelensky quis conversar com ele, telefonou, ele nem atendeu nosso presidente”, lamentou Maria Kerikuk, 80 anos, ucraniana que mora há 53 anos no Brasil, sendo 47 em São Caetano.

Maria chegou ao País em 21 de setembro de 1968, quando conheceu seus pais. A imigrante foi deixada pela mãe aos 2 anos devido ao difícil período que a Europa vivia, durante a Guerra Fria (1947-1989), o que forçou seus pais a irem à Alemanha buscar trabalho. Maria passou a infância junto da tia e até hoje ainda não sabe ler e escrever, pois não frequentou a escola. Moradora do bairro Barcelona, em São Caetano, a ucraniana conheceu os pais aos 26 anos, quando chegou ao Brasil. Stephano Salzake era carpinteiro, e a mãe, Ekaterina Salzake, dona de casa. Ela teve dois irmãos, Valdemiro e Pedro, o segundo, inclusive, já nascido no Brasil – todos já mortos. Maria casou-se com Valdemiro, também ucraniano, que trabalhou 31 anos na Ford e morreu em 2016 após uma queda do telhado, o casal teve um filho ainda na Ucrânia, Bassilli, hoje com 59 anos. 

Atualmente, a idosa é presença frequente na Igreja Ortodoxa Ucraniana de São Valdomiro, também no bairro Barcelona, e relata que guarda carinho muito grande pelo lugar, onde se casou e frequenta há mais de 47 anos, mas relata que a comunidade ucraniana vem diminuindo. “Era grande a presença de ucranianos e agora virou gato pingado. Os velhos foram embora, morreram, e os mais novos não querem (frequentar). Meu filho mesmo não quer ir à igreja”, diz Maria.

A imigrante tem parentes na Ucrânia, na cidade de Mykolaiv, na divisa com a Polônia, um dos alvos dos ataques. Ela conta que já foi dez vezes ao seu país de origem para visitar Daria, prima por parte de mãe, da qual ela diz ter grande afeto. Agora, os contatos se limitam a ligações telefônicas, uma única vez por mês. Em fevereiro, Maria disse que ainda não falou com Daria, que tem três filhos. “Eu telefono só uma vez por mês, porque é caro, não tenho internet, não tenho celular, nada, eu só tenho o telefone fixo, mas, no mês passado, eles não falaram nada (sobre a invasão)”, explica.

OUTRO LADO

Se no Brasil ucranianos observam com temor os acontecimentos da guerra, um brasileiro que vive em Moscou há 22 anos relata que, no país, tudo segue normal. João Santos Lima é natural de Curitiba e foi à Rússia para estudar. Formado em relações internacionais, ele trabalha com exportações entre o Brasil e o país europeu.

“Por incrível que pareça, aqui em Moscou nada mudou. Não tem nada acontecendo, é como se não estivesse acontecendo uma guerra do lado do país”, conta João, que afirma que a imprensa vem cobrindo os eventos com veemência. “A mídia russa está cobrindo 100%, todos os canais estatais, os canais particulares também estão cobrindo toda a guerra. Ninguém aqui está escondendo nada”, garante.

O empresário afirma que no país há sensação de segurança, principalmente por conta do potencial militar russo, e que se o governo tomou a decisão de invadir “é porque eles têm total confiança de que podem nos defender”. Ao ser questionado sobre uma possível volta ao Brasil por conta dos recentes acontecimentos, João afirma que essa “é uma possibilidade”, mas acredita que daqui duas a três semanas as coisas voltarão ao normal em relação à atual tensão na fronteira.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;