Bombardeios, vidros de janelas se quebrando, tremor nas residências e ataques durante um funeral. Estas cenas até parecem tiradas de filmes de ação e terror, que existem apenas na ficção. Entretanto, elas foram vivenciadas por moradores do Grande ABC que estavam no Líbano de férias e que presenciaram os bombardeios israelenses, que desde o último dia 12 atingem o país. Os conflitos entre o Estado judeu e o grupo radical Hezbollah, que parecem não ter mais fim, preocupam a comunidade muçulmana radicada na região e que conta com cerca de 500 famílias, a grande maioria libanesas.
O caso mais impressionante ocorreu com Kalil Orra, 76 anos, quando o morador de São Bernardo prestava as últimas homenagens ao amigo Dib Barakat, ex-subprefeito de Riacho Grande, vítima de um bombardeio israelense em sua fábrica de móveis, na cidade de Sultan Yacoub, Vale do Bekaa, no último dia 19.
“Eles atacaram a poucos metros de onde estava sendo realizado o funeral de Dib. Foi horrível. Todo mundo começou a correr, as pessoas entraram em pânico e alguns até se esconderam dentro do túmulo. Na correria, eu cai e me machuquei”, relata, mostrando os arranhões no lado superior do rosto.
Kalil Orra também conta que ficou confinado na cidade de Sultan Yacoub e que todos tinham muita dificuldade até para comprar comida. “As pessoas estavam com medo. Me arrisquei e resolvi fugir. Foram cerca de 20 horas até chegar na Turquia”, diz Orra, que chegou no Brasil na última segunda-feira em vôo da FAB (Força Área Brasileira).
Inaan Saifi, que também mora em São Bernardo, teve mais sorte. Um dia antes de bombas atingirem a cidade de Lucy, onde vivem muitos brasileiros, a moradora da região resolveu deixar o Líbano. Inaan voltou por conta própria para o país e na última sexta-feira era uma das pessoas que mais se emocionaram durante passeata realizada por diversas entidades da sociedade civil no Centro de São Bernardo. “O povo está sofrendo. Eles estão bombardeando tudo, até caminhões que tentam levar comida para a população”, afirmou.
A brasileira Aischa Baldak, que estava morando no Líbano, e agora se refugia na casa de parentes em São Bernardo, se sentia em uma “verdadeira prisão”, desde que os ataques israelenses começaram a atingir o país. Era impossível sair. Sentíamos muito medo. Acordávamos com o barulho das bombas, as crianças corriam desesperadas pela casa. Os vidros de janelas quebravam e a casa tremia”, relata. Aischa, moradora do Vale do Bekaa, largou a casa e também familiares no Líbano. “Levei uma semana para conseguir sair do país. Não são todos que conseguem fugir e deixar suas casas para trás. Saí de lá com a esperança de um dia voltar”, diz.
Nascido em São Bernardo e radicado no Líbano desde os 10 anos, o universitário Mohamad Hindi, 20, também pretende regressar ao país. “Estou estudando e quando acabar tudo quero voltar. Mas acho que isso ainda vai demorar”, acredita.
Após o início dos conflitos, Hindi saiu de Beirute e foi para a cidade de June, onde ficou em um hotel, que logo depois de sua saída foi bombardeado. Em seguida, o estudante buscou refúgio no Vale do Bekka, região que mais tarde entrou na rota de alvos por parte de Israel. “O bairro em que estava foi atacado duas vezes no mesmo dia. Não dá para fazer nada. Qualquer um pode morrer nesta situação”, diz.
Apesar de estar aliviado por ter chegado ao Brasil com a mãe e o irmão, Hindi deixou tios, avôs e primos que não conseguiram sair do país. “Estamos muito preocupados”, diz.
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