Política Titulo Entrevista da semana
'Alguns contratos na FUABC deverão ser rescindidos’

Regina Maura Zetone diz, em entrevista exclusiva ao Diário, que realizará novos procedimentos de compra para garantir mais transparência

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
14/02/2022 | 00:01
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Claudinei Plaza/ DGABC


Há exatamente um mês no comando da FUABC (Fundação do ABC), após ser indicada pelo prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), e com o aval dos prefeitos de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), e de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), a médica Regina Maura Zetone começa a ter ideia do cenário que herdou da gestão anterior. Em entrevista exclusiva ao Diário, ela revela os próximos caminhos à frente da instituição: “Estamos analisando contrato a contrato. Já temos casos que deverão ser rescindidos e novo procedimento de compras, realizado”. Regina também explica como irá fortalecer a relação com o governo do Estado.

Qual será o fio condutor de sua gestão à frente da Fundação do ABC?

Estamos trabalhando com lisura, transparência e reorganização de processos. Precisamos de uma Fundação do ABC moderna, ágil, e que atue em sintonia com as políticas públicas dos municípios e do governo do Estado. Vamos buscar esse maior entendimento e proximidade com os governos e secretarias de Saúde, além de tomar medidas para realinhar o passivo da instituição.

Qual foi e qual está sendo a importância da FUABC, principalmente na pandemia de Covid-19? E no que poderá ajudar no pós-pandemia?

A Fundação do ABC tem conseguido responder de forma bastante célere a todas as demandas urgentes que a pandemia impõe, como na abertura de novos leitos, fornecimento de medicamentos necessários à manutenção da vida, especialmente quando vimos cenário de escassez e falta de insumos no País todo. A FUABC tem sido ágil no fornecimento das medicações, insumos e também da mão de obra necessária. Sabemos que tivemos necessidade de contratação e reposição de muitos profissionais, e a Fundação conseguiu dar conta das demandas, inclusive qualificando essa mão de obra para o combate à Covid. Nós temos esse perfil e essa expertise de capacitar pessoas para a assistência à saúde. No pós-pandemia, estamos olhando com bastante atenção para o retorno às atividades e sequelas que ficaram, tanto físicas como emocionais. A reabilitação dessas pessoas precisa ser especializada, tanto do ponto de vista pulmonar, quanto de reabilitação física e no apoio à saúde mental. Juntamente com o Centro Universitário FMABC, temos condições técnicas de abrir centros de reabilitação em qualquer equipamento público de saúde que necessitar. Aqui mesmo na região temos o exemplo da Rede Lucy Montoro de Diadema, uma parceria nova, onde estamos desenvolvendo esse trabalho com bastante competência.

Os prefeitos mantenedores da FUABC pediram mais integração entre as redes de saúde dos municípios e do Estado. Como a Fundação pode ajudar a equacionar este pedido?

Nós mantemos contratos de gestão da saúde tanto com os municípios quanto com o Estado. Muitas vezes, no mesmo município, administramos unidades estaduais e municipais. Nada mais natural do que a Fundação do ABC, que está dia a dia trabalhando nessas duas frentes, utilizar sua expertise para identificar pontos que podem ser aprimorados, oportunidades de melhoria e soluções para situações muitas vezes complexas de um sistema de saúde tão importante. Com certeza temos muito a contribuir com essa maior integração e exerceremos esse papel.

Em números, qual é o tamanho da Fundação do ABC? Quantos funcionários atuam diretamente na instituição? E indiretamente? Quantos e quais municípios a instituição atende? E qual é o orçamento da entidade para este ano?

Hoje a Fundação do ABC conta com 26 mil funcionários diretos e está entre as maiores instituições de saúde do País. O orçamento aprovado para 2022 é de R$ 3 bilhões, divididos entre todas as unidades gerenciadas. Respondemos pela gestão de 18 hospitais e seis Ames (Ambulatórios Médicos de Especialidades), além do Centro Universitário FMABC e da Central de Convênios, que está à frente de dezenas de unidades nas áreas de atenção básica, saúde mental, urgência e emergência, entre outras. Estamos presentes em unidades de saúde instaladas em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Mauá, Guarulhos, Itatiba, Itapevi, Sorocaba, São Paulo (Capital) e Mogi das Cruzes, além de Praia Grande, Santos e Guarujá.

A senhora considera a possibilidade de reduzir a capilaridade no campo de atuação da instituição, no sentido de garantir prestação de serviços com qualidade ainda mais consistente? Ou, ao contrário, entende que a FUABC tem expertise para ampliar a gama de parceiros? E o que seria necessário para isso?

Nossa intenção é fortalecer os laços com o governo do Estado de São Paulo e ampliar a capilaridade conforme a necessidade e demanda do próprio Estado. No âmbito municipal, nossa ideia é a manutenção das parcerias com as cidades com as quais já temos um histórico positivo de parceria e colaboração. Contudo, nosso foco principal está voltado aos municípios instituidores, Santo André, São Bernardo e São Caetano.

Qual o legado que a senhora quer deixar na instituição de saúde após finalizar o mandato?

Buscaremos resgatar a credibilidade da Fundação do ABC e deixar como legado uma entidade sólida, que efetivamente atue em cooperação com o poder público na execução de políticas que beneficiem os usuários do SUS (Sistema Único de Saúde). O objetivo tem que ser esse, de trabalhar em favor da população que utiliza o serviço público de saúde.

A senhora declarou que passaria pente-fino nos contratos da FUABC, principalmente nos convênios realizados na gestão anterior. O que a senhora espera encontrar? Já tem algum retorno da empresa responsável?

Estamos analisando contrato a contrato. Já temos alguns casos que deverão ser rescindidos e novo procedimento de compras, realizado, aumentando a participação das empresas, com total transparência e igualdade de condições para a concorrência. Além disso, nosso setor de compliance fará pente-fino nos contratos das empresas que prestam serviços para a Fundação do ABC e para todas as unidades. Paralelamente, ainda temos contratado o serviço de auditoria independente, que verifica in loco os contratos e trabalhos das nossas unidades.

Ainda na gestão anterior, houve mudança em dispositivo que embasa indicação de cargos de comando, como ocorreu no Hospital Estadual Mário Covas. Pretende rever essa situação?

O conselho de curadores é soberano. Vamos seguir rigorosamente o regimento interno da Fundação do ABC e garantir que os profissionais que respondem pelas nossas unidades de saúde sejam efetivamente técnicos, capacitados a exercer a função e que cumpram com as exigências dispostas no TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado com o Ministério Púiblico). Somente os dirigentes com esses pré-requisitos poderão ser avaliados e eventualmente referendados pelo conselho curador.

Qual tipo de inovação a senhora pretende implantar na FUABC?

Vamos buscar ferramentas e ideias que possibilitem inovações e soluções administrativas. Precisamos perseguir constantemente a melhoria de processos, que tragam mais qualidade, agilidade e economicidade à gestão corporativa. Sou uma pessoa muito aberta a todo tipo de inovação, especialmente quando envolve sistemas que facilitem o acesso à saúde, que otimizem os trabalhos e tragam benefícios tanto para quem contrata os serviços quanto para quem utiliza efetivamente, ou seja, o usuário do SUS. Outro ponto diz respeito à inovação no Centro Universitário FMABC, através das pesquisas. Queremos que os projetos inovadores desenvolvidos por nossos docentes e discentes tenham visibilidade, a fim de que empresas interessadas cheguem a esses pesquisadores e possam investir nos trabalhos e no avanço da ciência.

A senhora também pensa em implementar inovações na Faculdade de Medicina? Quais seriam?

A Fundação do ABC foi criada há mais de 50 anos com objetivo de ser mantenedora de uma faculdade de medicina. Não podemos perder isso de vista. Vamos trabalhar conjuntamente com o Centro Universitário FMABC e apoiar suas iniciativas de ensino, pesquisa, assistência e extensão. Temos ótimo relacionamento com o atual reitor, o professor doutor David Uip, que também é pesquisador e um grande incentivador da ciência. Não tenho dúvidas de que teremos grandes novidades e muitos projetos conjuntos em andamento nos próximos anos.

Aliás, a FMABC tem trabalho importante na área de pesquisas, embora pouco divulgado. Poderia nos falar quais pesquisas estão sendo desenvolvidas no momento e qual o investimento da instituição?

De fato, o Centro Universitário FMABC tem bastante tradição em pesquisa. Na sexta-feira (11 de fevereiro) tive a oportunidade de participar da reunião do conselho universitário, quando foi apresentado o relatório anual do CEP (Comitê de Ética em Pesquisa). Os números e a produção são impressionantes. Ao todo, 307 projetos do Centro Universitário foram submetidos em 2021. Tivemos 90 projetos somente na área de Covid-19, o que confirma a importância da FMABC para o Grande ABC no combate à pandemia do coronavírus, e também para o avanço da ciência de maneira geral.




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