Prefeito Paulo Serra pede colaboração da população com relação ao descarte de resíduos; município dispõe de 20 ecopontos de coleta
Os 109 milímetros de chuva que despencaram em um intervalo de 32 minutos sobre Santo André no dia 28 de dezembro fizeram com que antigos pontos de alagamento da cidade fossem novamente notícia. Após hiato de quase três anos sem registros de enchentes, o Piscinão da Vila América não suportou tanto volume em tão pouco tempo e transbordou, trazendo prejuízos dos mais diversos tipos. Outros pontos do município também registraram grande acúmulo de água, em cenário que se repetiu – não com a mesma intensidade, é verdade – dia 3 de janeiro, quando nova tempestade desabou sobre Santo André.
Em ambas as situações, uma se repetiu: muito lixo que estava nas ruas foi levado para dentro dos córregos, que nos últimos dias passaram por limpeza feita por funcionários da administração andreense – foram retiradas nada menos do que 500 toneladas de lixo levado pela enxurrada, “especialmente resíduos inservíveis, pneus e móveis”, diz, em nota, a Prefeitura. A média mensal da cidade é de 30 toneladas, com aumento de 20% em meses chuvosos, dados que dão noção do impacto daquela tempestade.
Já a equipe de varrição, responsável pela remoção de resíduos acumulados nas vias, além de raspagem e lavagem das mesmas, recolheu 79 toneladas de detritos após as chuvas. “Estamos tendo chuvas intensas neste verão. Por isso, evitar o descarte irregular de lixo, não descartar pneus e resíduos nas ruas, margens de rios e córregos ajudam no combate e prevenção às enchentes”, alerta o prefeito Paulo Serra (PSDB). “As nossas equipes estão nas ruas, fazendo diariamente a manutenção e a limpeza. Mas é importante a união da nossa gente para estes cuidados básicos, que fazem a diferença”, continua o prefeito, que indicou que os munícipes coloquem o lixo para fora apenas próximo do horário da coleta. “Precisamos ter conscientização. Às vezes uma tampa cai numa boca de lobo e alaga uma rua que nunca encheu”, exemplifica.
Segundo o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), a cidade “oferece 20 estações de coleta espalhados pelo município (a lista completa e o que pode ser descartado estão no site www.semasa.sp.gov.br/residuos/coleta-domiciliar-2/coleta-seletiva/estacoes-de-coleta/) que estão preparadas para receber, gratuitamente, resíduos volumosos, entulho e recicláveis e, assim, evitar que estes materiais sigam de forma inadequada e causem obstrução de bocas de lobo e outros equipamentos de drenagem urbana”. Estes ecopontos estão preparados para receber resíduos como madeira, telhas de amianto, óleo de cozinha e até roupas em bom estado. Até novembro de 2021, por exemplo, as estações receberam 17.559 sofás e colchões, 21 mil toneladas de restos de construção e quase 167 toneladas de pneus, que poderiam chegar aos cursos pluviais e prejudicar a vazão da água.
“Ao utilizar as estações de coleta e destinar os resíduos de forma correta, o cidadão colabora com o meio ambiente, permitindo minimizar os impactos dos alagamentos”, explica o superintendente do Semasa, Gilvan Junior.
Especialista abre debate sobre piscinões e sugere alternativas
A maioria das cidades do Grande ABC tem como principal recurso de combate às enchentes a instalação de piscinões, que são grandes reservatórios para onde a água se encaminha na finalidade de evitar enchentes ou inundações. A região, inclusive, vai ter em breve a inauguração do Jaboticabal, maior piscinão da Grande São Paulo – as obras começaram no mês passado. No entanto, existem outras alternativas, mais baratas e ecológicas, como sugere a bióloga, especialista em recursos hídricos e professora da USCS, Marta Marcondes.
“O nome técnico do piscinão é reservatório de detenção. Quando chove e ocorrem as inundações e as enchentes, esses reservatórios enchem com toda aquela água que infelizmente vem cheia de resíduos, cheia de material particulado, lama e etc. E aí esse material todo, quando a água vai embora, fica no reservatório. E se fica no reservatório, tem de fazer uma limpeza depois. E essa limpeza é cara, principalmente quando é um grande reservatório, porque tem de entrar lá com as dragas, retirar tudo aquilo. Então quais são as soluções que a gente tem hoje: jardins de chuva, parques lineares e parques de inundação”, sugeriu.
Marta Marcondes ainda explicou cada uma dessas alternativas. “Os jardins de chuva são criados e pensados para tratar, reter e absorver a água que escorre das ruas. Podem ser nas calçadas, no meio da avenida, encostas ou no fundo de vale. As cidades estão todas impermeabilizadas. Se a água não acha nenhum lugar para que seja absorvida, vai chegar com muita velocidade no fundo de vale, que é onde tem os rios. E estes rios, obviamente, vão encher de água e vão chegar até as casas das pessoas”, iniciou a especialista. “Os parques lineares são áreas que são criadas ao longo e no entorno dos corpos d’água, às margens. Também têm como característica reter e absorver a água e vai reter todo o sedimento que vem com a água. As pessoas, por ser parque que vai alagar no momento que tiver uma enchente, vão saber que não é local para morar, nem habitar. Porque é área de inundação. Então é uma solução”, continuou. “E os parques de inundação funcionam mais ou menos como os parques lineares, só que são áreas maiores. Ao invés de ser só mesmo no entorno, nas margens dos rios, eles também são construídos em áreas onde você tem um grande local que era a várzea do rio. Esse local vai absorver a água, vai ter plantas específicas que fazem absorção dessa água. Quando os resíduos vierem, porque infelizmente a gente ainda tem muitos resíduos aí no nos rios, eles vão ficar em cima, então é muito fácil de você fazer a limpeza.”
“Qualquer uma dessas soluções, que são mais baratas, mais fáceis de serem implementadas e cuidar, essas soluções vão precisar de manutenção, limpeza adequada. E em última instância, pode ser feito um pequeno reservatório, em áreas estratégicas e que sejam fáceis de ser esvaziado e limpos posteriormente”, finalizou.
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