Entrevista da Semana Titulo Entrevista da semana - Rodrigo Cannaval
‘Seguiremos investindo em Santo André’
Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
20/12/2021 | 00:01
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Divulgação


Como foi o desempenho da Unipar durante a pandemia?

O nosso primeiro objetivo dentro da Unipar, e creio que fomos bastante exitosos, foi na questão de proteção às pessoas. Nós, no primeiro momento, criamos comitê de crise, e dentro desse comitê desenvolvemos ações para proteger colaboradores e seus familiares, para poder manter a nossa operação a todo vapor. E os resultados acabaram sendo muito bons, por distintas razões. Em 2020 nosso resultado financeiro foi excelente, e até agora o resultado vem bastante forte. Estamos em boa caminhada. Apesar dos desafios impostos pela pandemia.

Como está sendo a retomada?

Retomamos a operação já há algum tempo nas unidades fabris, respeitando todos os protocolos e, agora, de maneira gradual nos escritórios, sobretudo em São Paulo. Diria que colaboradores mudaram alguns hábitos, filhos na escola, então estamos fazendo mix, conciliando a vida pessoal e profissional deles, não só pensando no aspecto higiênico, mas de ‘correção com as pessoas’. Quantas pessoas mudaram a vida e estão em casa? Tem de fazer retomada bem suave para nova adaptação. E acho que esse é o grande ponto. Nossa retomada está sendo gradativa, voluntária e, nesse aspecto, crescente. Parte estava doida para voltar, e outra parte que não estava tão doida para voltar. E a gente está indo aos poucos. Na nossa retomada nada será como antes. Vai ser um pouco diferente do que a gente tinha no período pré-pandemia.

Quantos funcionários atuam na unidade de Santo André?

Temos 470 colaboradores, mais 400 terceiros ativos, recorrentes. Entre colaboradores Unipar e prestadores de serviços hoje está na casa de uns 860. Vale lembrar que este ano foi muito importante para nós em Santo André, porque, em conjunto com a parada do polo petroquímico, tivemos mais de 1.000 pessoas a mais do que já temos envolvidas na operação de manutenção e implementação de projetos de melhoria. E agora estamos colhendo frutos pela confiabilidade pela operação, voltamos a produzir muito bem.

Quais são os principais produtos desenvolvidos pela empresa?

A Unipar está posicionada em seguimento que se chama ‘cloro, soda, PVC’. A água tratada pela Sabesp contém cloro, contém Unipar, agente sanitizante muito importante vendido por nós. Também somos produtores do hipoclorito, a famosa água sanitária. A gente vende hipoclorito como matéria-prima para empresas de limpeza, higiene, depois elas colocam as marcas e vendem como água sanitária. O terceiro produto é a soda, utilizada na indústria de alimentação, no ajuste de Ph, limpeza, higiene, produção de papel, de sabão, enfim, infinitos usos. Outro é o ácido clorídrico, que também é utilizado no tratamento de água, de esgoto, indústria, siderúrgica no tratamento do aço, na preparação do ferro para fazer metais, por exemplo. Por isso que nosso slogan é ‘fazemos a química acontecer’, porque os nossos produtos estão distribuídos em distintas indústrias, promovendo benefícios. Outro é o PVC, que é um termoplástico, com aplicações em tubos e conexões, construção de caixas-d’água, venezianas, janelas, portas, bolsas de sangue utilizadas em transfusão, brinquedos.

Como se obtém os produtos cloro, soda e PVC?

Tudo começa no famoso sal de cozinha, cloreto de sódio, nosso ouro branco. Nós trazemos para Santo André o sal do Nordeste brasileiro, via Porto de Santos. Misturamos água e fazemos salmoura, que passa por processo químico chamado eletrólise – quebra por adição de energia elétrica. Depois submete-se a salmoura a carga elétrica. Quando se faz isso, vira cloro. Outra coisa que sai desse processo é o hidrogênio, que misturamos com cloro para fazer o ácido clorídrico. O hidrogênio com o cloro coloco no forno e faço ácido clorídrico. Com esse hidrogênio também posso produzir energia elétrica, vapor, e outras coisas. Em 2023, quando estivermos recebendo energia elétrica oriunda de parque eólico ou solar, e produzindo o hidrogênio da eletrólise, é o famoso hidrogênio verde, que vamos produzir em Santo André. Outro produto que sai é a soda. Misturo cloro com hidrogênio e dá HCL. Tenho tubo conectado com a Braskem e reajo etileno que vem da Braskem com o cloro da Unipar e faço produto chamado de cloretano, depois faço outra reação, o monômero vinílico, e depois a polemirização e crio o PVC. Basicamente estamos sempre na química do cloro. 

Quanto tempo acredita que volta à normalidade o setor?

É a primeira vez que a gente vive crise longa. Se olho pelos índices de forte redução no número de mortes, de contaminados, me dá esperança de que a coisa tende a se normalizar no curto prazo. Ao mesmo tempo, a cada dia a gente é surpreendido com novas questõs, por exemplo, a nova variante, que sabe-se que é nova, mas ainda não se tem ideia de quão nociva é. Estamos em momento de incertezas. Mas tão importante quanto saber quando a história acaba é continuar a manter distanciamento, uso de máscara, protocolos. Essas coisas a gente não vai abrir mão enquanto não tiver a certeza absoluta. Por isso, digo que a gente não pode deixar faltar cloro. A água que bebemos depende de cloro, não posso deixar faltar. Tenho de seguir o sistema rígido, independentemente do que estiver acontecendo.

Existe temor de nova onda da pandemia do coronavírus (variante ômicron). Como empresa tem se preparado nesse sentido? 

Quantas ondas existiram? Já nem sei falar quantas. No nosso ponto de vista, estamos trabalhando ainda com a Covid, nas grandes linhas é a Covid. E quais são as medidas que a gente conhece contra a Covid? Distanciamento, higiene, lavar as mãos, desinfectar os ambientes, proteger a respiração, proteger-se. Nós temos campanha que chamamos de Cuidado Ativo. E qual é nosso entendimento de cuidado ativo? Cuido de mim, cuido de você e nós nos cuidamos uns dos outros. É isso que a gente faz na Unipar. Se tenho leve sintoma, me protejo, comunico. Se vir alguém em situação insegura, comunico, porque quero proteger a pessoa. Acho que isso crias cultura, ambiente que dá abertura de dialogar. O que a gente vem tratando forte reforça a cultura de segurança, que já é grande nas indústrias químicas. Uma coisa que a gente tem feito internamente, e estou bastante contente com os resultados, é que a gente tem o nosso vacinômetro, onde cada colaborador, depois de vacinado, declara que está vacinado. Minha expectativa é que nos próximos dias, até talvez o fim do ano, no Brasil a gente atinja 100% de colaboradores vacinados. Vamos nos proteger, nos vacinar.

A Unipar anunciou investimento de R$ 100 milhões na unidade de Santo André. Tem perspectivas de novos aportes?

A expectativa do startup desta planta é no segundo semestre de 2023, então durante 2022 é o desenvolvimento do projeto, construção, montagem. Ao mesmo tempo, na unidade de Santo André nós estamos trabalhando na questão, investimos quase R$ 70 milhões nos últimos dois anos e meio em melhorias de processos para recuperação de ativos, melhoria das operações. Diria que em Santo André tenho investimentos recorrentes , contínuos, justamente visando a confiabilidade da operação. Outro ponto que gente vai estar olhando para Santo André é o acesso a energias renováveis. Nós anunciamos dois parques, um eólico na Bahia e um solar em Minas Gerais, e essa energia sustentável vai abastecer parte da demanda em Santo André. Somos empresa que precisa de bastante energia elétrica, de gás natural e estamos olhando agora outros meios, outras fontes com baixo carbono. Acho que esse é outro projeto que vai impactar positivamente a operação de Santo André, que é o acesso a essa energia de fontes renováveis. O projeto acontece lá, em 2023, e o benefício acontece aqui. 

Quais ações a empresa desenvolve em relação à proteção do meio ambiente?

Em grandes linhas, redução de CO2 por energia elétrica, por novos projetos, por otimização de energia, redução do consumo de água de reúso e conscientização, e proteção às áres verdes que temos no entorno da unidade de Santo André. Um exemplo é esse projeto que a gente acabou de anunciar, que é bastante interessante em termos de proteção ao meio ambiente, porque vai trazer mais volume de produção para a unidade de Santo André, consequentemente mais faturamento, e, ao mesmo temo, redução, porque vai fazer reúso de água, de energia, e vai fazer com que a unidade gere menos CO2 do que gera hoje. E isso, para mim, é medida clara de ótimo desenvolvimento, porque estou fazendo desenvolvimento econômico com novos volumes de produção e, ao mesmo tempo, trabalhando na proteção ao meio ambiente, trabalhando para descarbonização. O segundo projeto é a questão das energias. Hoje a matriz energética brasileira, que é 60% hidráulica, 8% eólica, 4% solar e o restante termoelétrico, tem sido o grande problema do custo de energia no Brasil. Quando se passa a usar de fonte sua, de autoprodução, deixa-se de ter a necessidade de usina termoelétrica, então basicamente está contribuindo com a redução do CO2. Outra iniciativa importante nossa é que temos grande área verde em Santo André, a unidade é cercada de verde, e estamos estudando ações que trabalhem a consciência ambiental e uso educativo dessas áreas. A grande questão de proteger o verde passa por conscientização, seja das pessoas, das comunidades, da sociedade no entorno. E tem uma quarta ação, a redução do consumo de água. Estamos trabalhando meta para ter projetos dentro da empresa relacionados à captação de água e por consequência menos uso de água. 

E nas questões sociais, a Unipar desenvolve quais projetos?

Nós temos conselho comunitário consultivo em Santo André, no qual membros da sociedade civil se reúnem conosco com certa frequência, onde a gente discute temas do entorno da Unipar. E foi criado um projeto que a gente chama de Projeto Pescar. Temos 20 jovens em situação de vulnerabilidade social. Eles vão para a Unipar e têm aulas. Não é formação técnica, mas formação de cidadão. Acho que tão importante quanto formar técnicos é formar cidadãos. Temos aluna que o sonho dela é ter salão de beleza, quer ser cabeleireira. Nesse projeto a gente quer formar cidadãos. Se eles vão trabalhar para a Unipar ou não, é outra questão, porque está se falando de cidadania. Não vou poder contratar cabeleireiro na Unipar, mas se eu tiver o cabeleireiro em Rio Grande da Serra ou Santo André bem formado, que vai prestar serviço à sociedade, acho que esse é o intuito. O Projeto pescar é marcante, essa relação com a comunidade. Durante a pandemia também doamos cestas básicas, ativos de higiene para as comunidades nas nossas cercanias. Na época da crise dos respiradores, para a Prefeitura de Santo André doamos um respirador como suporte naquele momento de crise sanitária brasileira. E não só em Santo André. Na crise do oxigênio em Manaus, a Unipar participou de consórcio com outras empresas, e gente doou unidades de oxigênio a hospitais. Estou bastante contente porque tivemos bons resultados mesmo estando em período pandêmico, e esses bons resultados também nos deram capacidade de poder ajudar a sociedade com esse tipo de situação. A gente teve desafios, porque no ano passado, quando a gente lançou esse projeto, quando começou a pandemia e o isoiolamento, aí teve de trabalhar o tema de ‘como trabalhar com jovens que você nem conhece’, de maneira isolada. A gente teve que investir em telefonia, em redes para poder habilitar para que eles pudessem participar de casa. Se não podia levá-los para a fábrica para manter eles seguros durante a pandemia, a gente teve de fazer esse projeto. 

O mundo vive falta de insumos para a produção. No ramo químico isso também ocorre?

Diria que todos os ramos estão sofrendo com isso. Sofremos ou pela falta ou pelo aumento de preços. Tem metais subindo preços. E por que metal nos interessa? Porque nos projetos preciso de reatores, de tubos, então isso faz com que o custo de projetos aumente. O mundo está tendo incremento do preços dos metais, tem dificuldade logística muito grande. Faltam contêineres para exportar, para receber coisas, faltam navios, eos custos logísticos também estão bastante altos. Para nós o PVC gerou oportunidade, porque estava faltando PVC no mundo durante a pandemia. Os estoques mundias de PVC caíram muito, o que nos deu oportunidade enorme de venda. Como a gente operou muito bem durante a pandemia, e os principais produtores de PVC no mundo, sobretudo os Estados Unidos, tiveram sequência de furações e outras coisas, isso deu oportunidade à Unipar de vender e ter o resultado que teve. 

O Brasil se prepara para uma eleição presidencial que promete ser bastante disputada. Isso impacta o desempenho da empresa? 

Nós temos estratégias de longo prazo na companhia. Quando falo em investir em energia elétrica, eólica ou solar, estou falando de investimentos de 20 anos. O investimento que fazemos aqui em ácido clorídrico, que vamos desenvolver durante o ano que vem, e esses R$ 100 milhões também têm efeitos de longo prazo. O ponto de vista da Unipar é ‘você olha para política de Estado, política de País, e a política de País em algum momento independe do governo’. Afinal, nós acreditamos no Brasil, por isso investimos e olhamos no longo prazo. É lógico que no curto prazo as questões eleitorais fazem o câmbio subir ou baixar, mas são coisas incontroláveis. Acho que faz parte do jogo. Para o nosso cenário não há grandes impactos porque a gente olha sempre o horizonte muito maior do que o próximo ano.

Com relação ao mercado internacional, como a Unipar está posicionada?

Temos três unidades, Santo André, Cubatão e Bahía Blanca (Argentina). E desde Santo Andé e Bahía Blanca somos exportadores, para quase todos os continentes. Com a desvalorização do real a gente tem vantagem competitiva em termos de uso, então isso foi cenário que nos ajudou. Mas olhando no longo prazo, nós precisamos trabalhar fortemente a questão da otimização de custos. No Brasil o gás natural é muito caro, precisa ter gás natural mais competitivo. A gente tem ainda carga tributária excessiva, e a gente tem de trabalhar essa agenda para sermos efetivamente competitivos ou ainda mais competitivos no mercado internacional.

Muitas cidades estão deixando a região em razão do custo de impostos, logística e mão de obra. Como a empresa vê relação com a Prefeitura de Santo André?

A Unipar está em Santo André desde 1940. Complexo químico. As empresa que estão saindo são de escritórios. Ele fala ‘vou para outro local e reduzo a taxação’. Para a empresa que tem estrutura de ativos que temos, é impossível mudar de um lugar para outro. Por isso é muito importante a tomada de decisão de investimentos. Quando a gente acabou de anunciar que vamos investir mais de R% 100 milhões em nova produção em Santo André, já estou indicando que vou ficar em Santo André e que Santo André é meu porto seguro.

Existem perspectivas de novos aportes no Grande ABC?

A gente já vem investindo nas atuais operações do (Grande) ABC. Nós vamos ter impactos positivos no (Grande) ABC, e estamos trabalhando alguns projetos para olhar ainda novas tecnologias em Santo André, que é polo importante para a Unipar. Santo André é unidade estratégica para a Unipar, por isso investimos e seguiremos investindo.

Raio X

Nome: Rodrigo Cannaval
Estado civil: casado (uma filha)
Idade: 44 anos
Local de nascimento: Mogi Guaçu, Interior de São Paulo
Formação: engenheiro químico
Hobby: jardinagem
Local predileto: minha casa
Livro que recomenda: Mar sem Fim, de Amyr Klink.
Profissão: diretor executivo de operações
Onde trabalha: Unipar, desde 2020




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