O Brasil está muito perto de, pela primeira vez na história, conquistar a vaga olímpica no skeleton, modalidade que consiste em descer uma pista de gelo em alta velocidade em cima de um trenó sem freio e direção. Nicole Silveira, de 27 anos, vem tendo ótimos resultados internacionais e deve carimbar sua vaga para os Jogos de Inverno, em Pequim, que será realizado daqui a 50 dias - a cerimônia de abertura será em 4 de fevereiro.
No início de novembro, em Whistler, no Canadá, ela conquistou três vezes o primeiro lugar em etapas da Copa América. Antes, disputou um evento-teste em Yanqing, na China, e obteve a oitava posição. Se antes o foco era apenas conseguir a classificação para representar bem o Brasil, agora ela sonha ir cada vez mais longe.
"Após o evento-teste na China e algumas competições no Canadá, já penso bastante e tenho confiança em obter um Top 6. A confiança continua crescendo! Me perguntam se me vejo no pódio, recebendo medalha, e tenho dito 'never say never' (nunca diga nunca). Tudo é possível. Sei que vai dar trabalho e será difícil, mas estou pronta para dar o meu melhor", disse.
Nicole nasceu na cidade gaúcha de Rio Grande, mas aos 7 anos se mudou para o Canadá. Seus pais eram donos de uma padaria no Rio Grande do Sul, mas optaram por mudar de país por causa da violência e criminalidade crescente. E foi na América do Norte que a garota praticou diversas modalidades como ginástica artística, rúgbi, vôlei e futebol. Também fez fisiculturismo, crossfit e levantamento de peso, até chegar ao bobsled, sua porta de entrada para os esportes no gelo.
"Eu trabalhava em uma loja de suplementos quando estava estudando na faculdade. Uma pessoa foi fazer compras e descobriu que eu era brasileira. Perguntou então se eu queria fazer parte do time feminino de bobsled, pois estavam precisando de mais uma atleta para tentar qualificar para os Jogos de Inverno de 2018. Refleti um pouco e resolvi fazer parte da equipe. Participei de uma temporada de bobsled como brakewoman, que é a atleta que fica atrás do trenó, responsável por empurrar no início e frear no final", contou.
Apesar da aventura, a equipe acabou não se classificando para a Olimpíada. Nicole então se formou como enfermeira e não quis abri mão do contato com os esportes no gelo, mas queria algo que tivesse "mais controle". Foi assim que acabou indo para o skeleton, uma modalidade individual. "Nesse meio tempo, o presidente da confederação comentou que o Brasil nunca teve nenhum atleta representando o País no skeleton em Jogos Olímpicos e que essa modalidade seria o foco. Tomei a decisão e quando experimentei o skeleton pela primeira vez, sabia que ia ser pra mim."
Ela começou a praticar no final de 2018. Mas depois disso veio a pandemia de covid-19, e seus serviços como enfermeira se tornaram mais urgentes em um momento delicado para o mundo. "Eu tive muita sorte em continuar tendo acesso a equipamentos para continuar treinando durante a pandemia. Também tive sorte de que alguns dos picos da pandemia ocorreram nos meses de verão no Canadá, então podia treinar na rua sem problemas. Consegui equilibrar entre trabalhos na linha de frente e continuar com meus treinos. Meus dias consistiam em 8 a 12 horas de trabalho, treino, comida e dormir por um bom tempo."
Agora que a situação está mais calma e ela não precisa ficar na linha de frente no combate à covid-19, Nicole tem se dedicado aos treinos físicos e nas pistas de gelo. Então acorda cedo, toma café da manhã e já vai para a pista. Costuma andar a pé por ela, para ver os detalhes, aí faz um aquecimento e desce com seu trenó que pode chegar a 135 km/h. Também faz levantamento de peso para fortalecer a musculatura e costuma correr.
Para além disso, costuma observar os vídeos de suas descidas para aprimorar detalhes de postura. Outro ponto importante é que precisa cuidar do trenó e das lâminas. "Elas não podem estar muito arranhadas. Se estiverem assim, preciso lixar a lâmina. Quando é dia de competição é uma rotina parecida, mas aí preciso tentar dormir mais cedo", afirmou.
Seu foco agora está em fazer um bom papel nos Jogos de Inverno e construir um legado em uma modalidade que nunca teve brasileiro nos Jogos de Inverno. Ainda. "Olhando para o próximo ciclo, realmente pretendo estar batalhando por medalhas em etapas da Copa do Mundo e principalmente na Olimpíada. Para o futuro, pode ser que continue até 2030. Tenho várias ideias. Quero voltar para a escola e ser quiroprata ao lado de também ser enfermeira, ser treinadora para o futuro time do Brasil de skeleton e continuar competindo. São muitas possibilidades, mas por enquanto o foco está 100% em Pequim-2022."
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