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As dúvidas de um planeta de plástico!
Antonio Carlos do Nascimento
05/12/2021 | 22:42
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Os plásticos em todas suas apresentações vêm sendo contestados por ambientalistas há algumas décadas, mas neste momento sua utilização enfrenta combativa resistência da ciência médica, dado o fato de liberarem facilmente grande número de compostos químicos capazes de interferir na recepção e ação hormonal.

O comportamento humano em qualquer observação é gerido por substâncias que residem ou transitam por algumas regiões cerebrais que compõem o sistema límbico, também denominado cérebro emocional. Alegria, tristeza, raiva, medo, ansiedade, agressividade, paciência, desejo sexual, sexualidade, fome e saciedade estão entre os itens que derivam dessa central de comando.

As estruturas químicas liberadas pela lixiviação dos plásticos são acusadas especialmente de interferir na fisiologia do hipotálamo, área pertencente ao sistema límbico que possui importância maiúscula por regular a produção de hormônios em todo o ciclo biológico, desde a gestação, no que envolve fome, sede, saciedade, desejos de toda ordem e outras inúmeras atribuições.

O Bisfenol A (BPA) é um dos integrantes de alguns plásticos e potencialmente capaz de interferir na interação entre o hipotálamo e os hormônios da saciedade, provocando com isso o aumento do consumo calórico, o que permite posicioná-lo como uma das possíveis causas da epidemia de obesidade. Este comprometimento pode ocorrer ainda na vida intrauterina, a partir da nutrição materna.

Estudos utilizando camundongos, com fêmeas prenhas e expostas ao BPA, não encontram interferência na diferenciação de genitálias, mas apontam importante alteração na sexualidade da prole. O nível de exposição nessas pesquisas não ultrapassa aquele aceito como seguro para humanos. Tais constatações formataram a suposição que o BPA possa interferir na identificação de gênero em mamíferos, por ação antes do nascimento e/ou durante a amamentação.

O BPA apenas enfileira a longa fila de compostos provenientes de plásticos, os quais interferem nas ações hormonais podendo gerar importantes mudanças de comportamento, assim como favorecer o surgimento de cânceres e outras moléstias, incluindo as doenças autoimunes.

O grande impasse é que o plástico com esses integrantes é utilizado amplamente, em pisos e revestimentos, embalagens da indústria alimentícia, utensílios de cozinha, indústrias têxtil e automobilística, móveis, cosméticos, assim como em inúmeros outros artigos de contato direto com nossos organismos. Se de um lado temos certeza dos danos, do outro, buscamos com timidez, talvez por falta de opções, o enfrentamento.

Assinada em 2001 e vigorando desde 2004, a Convenção de Estocolmo ou Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes é uma discreta ferramenta criada para globalmente combater os componentes biologicamente nocivos, no que estão inclusas as citadas substâncias.

De meu lado, sem pretensão impositiva, mas sim de esclarecimento, a Endocrine Society, entidade americana à qual pertenço, lançou em dezembro de 2020, um guia informativo cujo título pode ser traduzido para o português como: Plásticos, Saúde e Desreguladores Endócrinos.

É muito difícil dizer o que faremos ou seremos com este cenário absolutamente estabelecido, em princípio é possível assegurar que podemos nos adaptar como seres humanos, porém, menos provável é garantir que o planeta plastificado suportará o convívio conosco e nossas criações. 




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