O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), derrotou neste sábado o governador Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) nas prévias da sigla e alcançou a ambição de ser candidato a presidente depois de disputa histórica que rachou o tucanato. O paulista teve 17.470 votos (53,99%), contra 11.295 (44,66%) do gaúcho. Correndo por fora, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio obteve 427 votos (1,35%).

O resultado das prévias saiu quase uma semana depois do início do processo. No domingo, o canto de vitória dos dois candidatos ficou engasgado depois do fracasso tecnológico no aplicativo desenvolvido para coletar a adesão dos tucanos País afora. A falha do dispositivo aprofundou a rivalidade entre Doria e Leite, que defenderam caminhos distintos para solucionar o vexame eleitoral do partido, que já amarga o pífio desempenho nas pesquisas de intenções de voto.

Ao longo da última semana, a cúpula nacional do PSDB buscou estancar a crise no tucanato e, em meio à guerra de narrativas entre as duas campanhas e até a acusações de compra de votos, tentou limitar o impasse a mero defeito digital da plataforma. Nesse ínterim, Leite e Doria seguiram arrotando favoritismo entre aliados. Nova empresa foi contratada para desenvolver a eleição eletrônica e garantiu a viabilidade da disputa, que foi retomada na manhã deste sábado.

Em discurso em tom conciliador, Eduardo Leite se disse “tranquilo”, a despeito do visível desconforto com o resultado. “Me sinto absolutamente tranquilo, realizado e feliz (com o resultado). Tenho muita confiança que tudo o que tenho falado estará no teu projeto, João. Obrigado a todos que confiaram na gente, do fundo do meu coração”, disse o gaúcho.

O projeto de Doria rumo ao Palácio do Planalto começou a ser costurado ainda às vésperas da eleição de 2018, quando, então prefeito da Capital, Doria passou a ter o nome defendido após a histórica vitória no primeiro turno contra Fernando Haddad (PT). O movimento confrontou o projeto do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), que foi o presidenciável naquele pleito – ficou em quarto lugar, no pior desempenho do PSDB em disputas presidenciais. Doria acabou saindo candidato ao Palácio dos Bandeirantes e venceu o então governador Márcio França (PSB). Na pandemia, encontrou no negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (rumo ao PL) a chance de se distanciar do governo e pavimentar seu projeto à presidência no caminho da chamada terceiria via. “Não há nenhum derrotado. Todos são vitoriosos. O PSDB sai fortalecido”, discursou Doria.

A vitória de Doria fortalece o prefeito Orlando Morando (PSDB, São Bernardo), um dos principais aliados do governador paulista, na briga pela vaga de vice na chapa de Rodrigo Garcia (PSDB) ao governo do Estado. “Agora, é preciso construir alianças que possam viabilizar uma grande coalizão partidária, visando construir um projeto de Brasil. Me sinto muito feliz porque sempre acreditei na sua vitória e tenho a convicção de que João Doria é o melhor para o PSDB. Será preciso construir a sua trajetória para se tornar presidente da República e, juntos, construir também a vitória de Rodrigo Garcia”, frisou Morando.

O prefeito Paulo Serra (PSDB, Santo André), aliado de Leite, afirmou que Doria “terá grande responsabilidade de construir unidade” rumo a 2022. “Quero parabenizar os filiados e o PSDB por essa ousadia, por ter inovado. Tivemos problemas na semana passada, mas esse é o preço por inovar. A gente estava escolhendo quem vai liderar esse nosso projeto pelo Brasil. Eu escolhi o Eduardo e continuo achando que ele seria a melhor escolha. No entanto, o governador Doria foi escolhido e por isso quero parabenizá-lo”, disse o tucano.