Política Titulo Entrevista da semana - Francisco Saião
"O Brasil desperta grande interesse aos portugueses"
Por Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
15/11/2021 | 00:15
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Divulgação


Portugal deixou de ser o patinho feio da Europa para se tornar um case de sucesso. Superou a crise econômica de 2008, enfrentou a pandemia e hoje tem 86% de sua população de 10 milhões de pessoas completamente imunizadas contra a Covid-19.

De olho em 2022, quando projeta que sua economia crescerá 5,6%, o país realizará, entre 6 e 10 de dezembro, no consulado, em São Paulo, o Portugal Inova, evento presencial e on-line (via YouTube), para apresentar oportunidades de negócios. Francisco da Costa, diretor da Aicep (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) – Delegação Brasil, diz que seu país tem muito interesse nas empresas brasileiras.

Como o governo e as empresas portuguesas veem o Brasil e seu mercado?

O Brasil continua a figurar entre os mercados de maior interesse e potencial para as empresas portuguesas que procuram oportunidades de crescimento internacional. Em 2020, foram mais de 1.500 os operadores econômicos portugueses que estabeleceram algum tipo de relacionamento comercial com o Brasil, o que revela que este País continua a ter uma percepção muito positiva da oferta de bens e serviços portugueses. Em sentido inverso, é inegável assinalar que o empresário brasileiro tem vindo a manifestar particular apetência de investimento em Portugal, em consequência de uma ‘redescoberta’ de Portugal. Sendo facilmente identificável que essa procura se manifestou inicialmente no setor imobiliário (associado ou não à obtenção de autorizações de residência), recentemente é possível verificar uma reorientação para investimentos produtivos ou comerciais, majoritariamente de pequena e média dimensão, atraídos pelo quadro de incentivos potencialmente concedidos pelos sistemas de apoio ao investimento. Numa outra vertente, cabe sublinhar a importância do Brasil enquanto mercado emissor de turistas para Portugal. No período de 2016 a 2019, todos os indicadores compilados pelo Banco de Portugal e Instituto Nacional de Estatística relativos a receitas turísticas, hóspedes e dormidas (hospedagens), apresentam um crescimento gradual e sustentado da procura apenas interrompido pela pandemia. Em resumo, todos os setores econômicos portugueses veem o Brasil como um mercado de enorme relevância, observado como extensão natural no seu processo de internacionalização.

Como está a balança comercial dos dois países, sabidamente afetados pela pandemia?

Dados deste ano colocam o Brasil como 13º cliente de Portugal em termos de comércio de bens (terceiro fora da União Europeia), representando 1,14% das exportações totais.Em 2021, de janeiro a agosto, o impacto da pandemia continua significativo nas trocas comerciais de bens e serviços entre os dois países, tendo-se verificado uma quebra nas exportações portuguesas de -36,6% e aumento de 34,6% nas importações relativamente a período homólogo de 2020. A quebra de quase -60% nas receitas de turismo foi a principal responsável pelo recuo nas exportações. No que tange às importações portuguesas, verificou-se aumento considerável (+170%) dos combustíveis minerais, que chegam a pesar mais de metade do total importado por Portugal e produtos agrícolas, que respondem por mais de 26% do total. Para as empresas portuguesas, o Brasil continua a despertar grande interesse, com particular destaque para os setores do turismo, construção e obras públicas, energia, ambiente, agroalimentar e bebidas, equipamentos e produtos industriais, componentes para a indústria automotiva, tecnologias de informação e comunicação, serviços e distribuição. Verificamos uma tendência de natural crescimento do relacionamento no período de abrandamento da pandemia.

Quais são os principais segmentos que estreitam a relação comercial entre Portugal e Brasil?

A matriz do relacionamento bilateral continua bastante alicerçada no setor agroalimentar. A título de exemplo, os principais grupos de produtos exportados em 2021 (janeiro a julho) de Portugal para o Brasil são agrícolas (42,1%) e alimentares (11,5%). Em sentido inverso, o Brasil também exporta mais para o Portugal aquilo é que é sumamente forte: commodities. No mesmo período que antes mencionei, combustíveis minerais (65%) e agrícolas (23,2%) foram os principais produtos enviados a Portugal. É, pois, com o objetivo de reforçar este relacionamento e diversificar as áreas de cooperação que o Portugal Inova nasce. Queremos apresentar ao público brasileiro a oferta de bens e serviços portugueses em setores onde o conhecimento da mesma é ainda limitado. Mostrar que comprar de Portugal é sinônimo de qualidade, de confiabilidade em todas as áreas.

E no tocante aos serviços?

O comércio de serviços, conforme dados divulgados pelo Banco de Portugal, em 2020 apresentou um saldo favorável a Portugal. Neste âmbito, o peso do Turismo é inegável. Veja-se que as nossas exportações neste item atingiram o seu pico máximo em 2018 com o valor de 1,628 milhão de euros. Em 2020, por conta dos efeitos da pandemia, apresentou uma diminuição (-67,3%), registrando o valor de 532 milhões de euros.

O turismo é um dos principal mercados de Portugal e recebe anualmente milhares de visitantes brasileiros. O país já abriu suas fronteiras e o segmento está aquecido?

Respondo a essa questão com um dado que é revelador: um levantamento realizado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal mostrou que cerca de 120 mil brasileiros entraram em Portugal desde a reabertura das fronteiras, no dia 1º de setembro. Este número, veja-se, já supera os passageiros que entraram em Portugal no mesmo período em 2019 – ou seja, a tendência pós-pandemia é de crescimento. Importante sublinhar, pois, a importância do Brasil enquanto mercado emissor de turistas para Portugal. No período de 2016 a 2019, todos indicadores compilados pelo Banco de Portugal e do INE (Instituto Nacional de Estatística) relativos a receitas turísticas, hóspedes e dormidas (hospedagens) apresentam comportamento francamente positivo, com crescimento gradual e sustentado da procura.

Como está a economia de Portugal?

Economia de Portugal na última década, para além de maior incidência e diversificação dos serviços na atividade econômica, registrou uma alteração significativa no padrão de especialização da indústria transformadora, saindo da dependência de atividades industriais tradicionais para uma situação em que novos setores, de maior incorporação tecnológica, ganharam peso e uma dinâmica de crescimento, destacando- se o setor automotivo e de componentes, a eletrônica, a energia, o setor farmacêutico e as indústrias relacionadas com as novas tecnologias de informação e de comunicação. Sobre as garantias associadas ao investimento, permita-me sintetizar numa frase: Portugal é conhecido pela sua estabilidade social, alto nível de competências laborais infraestruturas de telecomunicações, potencial de aumento da produtividade e qualidade infraestruturas de transporte e logística.

O senhor está organizando evento Portugal Inova 2021 e a quem ele é dirigido?

O Portugal Inova é uma iniciativa da Aicep (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), que pretende, por meio de conversas interativas, disponibilizar ao mercado brasileiro informação relacionada com a oferta portuguesa, destacando o componente de inovação transversal a todos os seus setores. O evento procura evidenciar as razões que posicionam Portugal como um destino seguro e atrativo para quem quer investir ou adquirir produtos e serviços de qualidade reconhecida, mostrando como até mesmo setores considerados mais tradicionais se desenvolvem hoje num ambiente de elevada intensidade tecnológica. Serão ainda apresentados casos de sucesso da parceria entre entidades portuguesas e brasileiras que permitiram o desenvolvimento e implementação de soluções de inovação tecnológica e empresarial nos dois países, contribuindo para a consolidação e reforço da competitividade econômica bilateral.

Quem são os participantes dos painéis? São empresários, empresas brasileiras e também de Portugal? Contará com autoridades do governo português?

Esta ação consiste na realização de um conjunto de conferências setoriais que contarão com oradores empresariais portugueses representativos dos setores em foco, acentuados na componente inovação, e individualidades brasileiras representativas da cooperação bilateral. Cada painel terá a participação de dois palestrantes – um representante de empresa ou associação empresarial portuguesa e outro brasileiro. Entendemos que, com este modelo, conseguiremos apresentar melhor a visão dos dois lados do oceano, assim como exemplos concretos de como esta parceria tem dado resultados. Contaremos com a participação virtual de autoridades do governo português, em particular o vice-ministro para a internacionalização e o embaixador de Portugal.

O Grande ABC possui vários empresários e comerciantes de origem portuguesa. Qual a orientação que o senhor daria a eles?

Esta edição do Portugal Inova 2021 busca atingir públicos distintos em cada um dos setores. Queremos ir mais além, chegar a uma nova audiência – que pode até já ter contato com a realidade portuguesa, como estou certo é o caso dos empresários de origem portuguesa que residem no Grande ABC, mas que ainda não estão atentos para a contemporaneidade da nossa oferta. Em cada episódio um tema será abordado, com convidados diferentes que irão partilhar suas experiências e vivências no capítulo da inovação. Tratando-se de um evento apresentado de forma híbrida, procuraremos ter de forma presencial profissionais locais do setor (importadores, distribuidores, influenciadores, formuladores de opinião) para escutar e partilhar sua própria prática no que tange à inovação. Esperamos ainda que os demais profissionais espalhados em todo o território brasileiro acedam aos conteúdos para se inteirarem dos desenvolvimentos inovadores que têm surgido em Portugal. Deixo, pois, o convite para que se juntem a nós para que tenham acesso privilegiado a informações sobre o que de inovador se tem feito em Portugal e muitas vezes passa despercebido junto do público brasileiro.

Raio-X

Nome: Francisco Saião Costa
Estado civil: solteiro
Idade: 30 anos
Local de nascimento: Portugal
Formação: relações internacionais
Hobby: praticar esporte
Local predileto: Serpa, a minha terra natal
Livro que recomenda: Capitães da Areia, de Jorge Amado.
Artista que marcou sua vida: Yann Tiersen (pianista)
Profissão: diretor do Centro de Negócios de São Paulo da Aicep (Agência para o Comércio e Investimento Externo de Portugal)
Onde trabalha: Consulado Geral de Portugal em São Paulo




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