Virou rotina no País perguntarmos se os preços do gás de cozinha e dos demais combustíveis subiram. Dificilmente passamos por um mês ilesos aos aumentos. E por que será?
Notem, a inflação acumulada do gás de cozinha medida pelo IPCA-15, de janeiro a setembro deste ano, ultrapassa os 26%. Para a gasolina mais de 33% e para o óleo diesel, mais de 30% no mesmo período, no Brasil.
Estamos sofrendo com a elevada demanda mundial por combustíveis, já que, por conta da pandemia, muita produção ficou represada e agora, para atender a procura, a produção necessariamente precisa ser maior. Além disso, há um ponto muito importante que precisamos falar. O preço dessas commodities praticados pela Petrobras é reflexo dos preços mundiais, que já estão altos por conta do excesso de demanda que citei. Associado a isso, temos uma tremenda desvalorização da moeda nacional... Ou seja, o real está valendo cada vez menos. Como o preço dos combustíveis é cotado em dólar, cada vez mais temos que dispender mais dinheiro para pagar a conta.
Isso, sem levar em consideração a energia elétrica, que aumentou quase 21% no acumulado janeiro-setembro/2021, de acordo com o IPCA-15, no Brasil. Aqui temos problemas com a escassez hídrica, que vem trazendo à tona, além do aumento substancial dos preços das tarifas de energia, a falta de investimentos em infraestrutura que se arrasta há anos. Temos o país com maior região costeira (à beira mar), onde os ventos são abundantes e cadê investimentos maciços para produção de energia limpa?
Desemprego agrava o quadro
Nesse contexto, a taxa de desocupação apontada pelo IBGE é de 13,7%. Ou seja, tínhamos no último trimestre maio-julho aproximadamente 14,1 milhões desocupados no Brasil. O rendimento médio das pessoas com 14 anos ou mais caiu quase 9% quando comparamos esse trimestre com o mesmo período do ano anterior. Esse rendimento médio é de R$ 2.508 por pessoa, o que retrata queda desde meados de 2020.
Agora deixe-me fazer uma pergunta: quantas são as pessoas que você conhece que recebem em média esse valor? Se consideramos uma família de quatro pessoas em idade ativa, então teríamos uma renda familiar média de cerca de R$ 10 mil. Isso é a realidade da grande maioria da população?
Pesquisa da FGV revelou que na média de 2019 a proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza era de 10,97% antes da pandemia, o que representa cerca de 23,1 milhões de pessoas na pobreza. Em setembro de 2020, por causa do auxílio emergencial com valor mais alto, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu para 4,63%, ou 9,8 milhões de brasileiros. Mas, no primeiro trimestre de 2021, quando houve suspensão do auxílio emergencial, com o retorno do Bolsa Família chegamos a 34,3 milhões de pobres.
Na metade mais pobre da população, a perda de renda atingiu mais de 20%, segundo estudos da FGV. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, piorou, chegando a 0,674 – o pior da série. Ele já vinha se deteriorando entre 2014 e 2019, quando saltou de 0,6003 para 0,6279.
Diante desse cenário, temos uma combinação estranha de inflação alta e desemprego elevado, o que leva à estagflação, que é mais um fator de impacto nos mais pobres, em um momento de choques de oferta juntando a pandemia, possibilidade de racionamento...
Como se não bastasse, a farra com o dinheiro público parece não ter fim. E aqui preciso explicar melhor. Acredito ser de fundamental importância que tenhamos um olhar cuidadoso com toda a população, especialmente com os mais pobres, que são muitos! E que precisam ser cuidados! Mas para isso precisamos, enquanto governo e sociedade, gastar de forma planejada, praticar gastos públicos que sejam capazes de gerar emprego e renda, de forma direta e indireta, que contribuam efetivamente com o crescimento e desenvolvimento econômico e com o bem-estar da sociedade.
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