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Mauá o fim da casa-sede da fazenda do Capitão João
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
15/10/2021 | 02:12
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Chega o Barão

Pesquisa e texto:

William Puntschart

Ao revisitarmos o acervo documental existente no Museu Barão de Mauá, deslumbramos relíquias do passado local que devem se tornar públicas e, assim, ganhar dimensão cidadã. Ali estão, por exemplo, cópias de manuscritos do século XIX remanescentes de uma Mauá rural, plantas de demarcação de fazendas, compiladas no Museu Paulista (Museu do Ipiranga), além de dados da coleção Aguirra, referentes à ocupação territorial na região.

Desse universo, destacamos os manuscritos alusivos aos empreendimentos de Irineu Evangelista de Souza – Barão e, mais tarde, Visconde de Mauá – na antiga Caaguaçú, depois nomeada Pilar e, hoje, Mauá. Note-se que os negócios do barão em cidades europeias e países na América do Sul, já estão documentalmente comprovados e apontados pela historiografia. A esse respeito, o leitor pode consultar, entre outras, a obra de Jorge Caldeira, intitulada Mauá: Empresário do Império. Inclusive, Caldeira ao lançar seu livro, em 1995, nas dependências de nosso museu, destinou ao acervo um exemplar autografado.

O barão, ao adquirir vasta extensão de terra na região, já tinha em mente o traçado da futura estrada de ferro, pela qual se arrastaria a “enorme serpente emplumada de fumaça”, nas palavras de Hobsbawm (Eric John Ernest Hobsbawm, historiador britânico). Essa aventura férrea superou outros desafios, entre os quais a transposição da Serra do Mar, obstáculo natural entre o planalto e Baixada Santista. A partir de então, foi criada em 1867, por meio de concessão, a São Paulo Railway Company, a primeira do Estado, integrada ao transporte do café e outros gêneros agrícolas. Nesse cenário, por meio de seu procurador José Ricardo Wright, o barão investiu na antiga Pilar elevadas somas. O negócio envolvia duas grandes fazendas contíguas, pertencentes ao capitão João José Barbosa Ortiz e irmãs, de acordo com a escritura expedida pelo Cartório do Primeiro Tabelião de Notas da Capital, em 5 de junho de 1861. Ao transcrevê-la, a professora Alessandra Ceoldo Scaramal – in memoriam – destacou que pela primeira, denominada Caaguaçú, foi paga a significativa quantia de 14 contos e 500 mil réis. Já pela segunda, Capoava, de menor extensão, foi investido o montante de oito contos de réis.

No passado, Caaguaçú, ou Mata Grande, nomeava a extensa área entre a Zona Leste da Capital paulista e os atuais municípios de Mauá e Ribeirão Pires. Já Capoava, ou terreno para o plantio, designava parte remanescente da enorme fazenda do Capitão João, cuja casa-sede foi indevidamente demolida, em 1974, por ocasião da edificação do Viaduto Juscelino Kubitschek.

Outro imóvel adquirido pelo barão, na região do atual Grande ABC, foi o Sítio Guarará, localizado entre os terrenos da Vargem do Rio Tamanduateí e a fazenda que foi do capitão João. De acordo com a escritura emitida em 8 de abril de 1865, o comprador, por meio de seu procurador, Dr. Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva, pagou a quantia de 500 mil réis a Jesuino Soares de Moraes e sua mulher, Maria Ignaria de Assumpção.

Por fim é importante destacarmos que, com a falência do já Visconde de Mauá, parte dos bens da Mauá e Cia, principalmente terras, foi arrematada, em 1892, por Antonio Queiroz dos Santos. Nessa época, Queiroz já era um homem rico, cujos interesses fundiários alcançavam, a partir da Estação de São Bernardo (hoje Santo André), grande área até Ribeirão Pires e Paranapiacaba.
 




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