Desvendando a economia Titulo Coluna
O imediatismo na análise da atividade econômica
Sandro Renato Maskio
11/10/2021 | 00:01
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Além da aceleração da inflação neste ano, repetidamente exposta pelos meios de comunicação e sentida no bolso pelos cidadãos, há outros indicadores que nos trazem um panorama não muito animador da dinâmica conjuntural, de curto prazo, da economia brasileira. 

Nos últimos meses, os indicadores das pesquisas setoriais mensais do IBGE sinalizam redução no ritmo da atividade econômica. Após discreto resultado positivo em maio, a produção industrial entre junho e agosto apresentou queda mensal, acumulando retração de 2,3%. Os dados sobre volume de vendas no comércio apontam no trimestre junho-agosto queda de 3,79%. O setor de serviços, embora não tenha apontado redução no volume de prestação, acumulando variação positiva de 4,87% entre maio e julho, no mês de julho desacelerou o ritmo. Os dados de agosto para esse último setor ainda não foram divulgados.

Outro ponto que merece atenção é a comparação do comportamento desses setores com o observado nos mesmos períodos dos anos anteriores. A trajetória de produção da economia ao longo de cada ano apresenta ciclos bem definidos. Ao analisarmos a trajetória do PIB trimestral brasileiro dessazonalizado entre 1980 e 2021, observamos que o primeiro trimestre de cada ano apresenta PIB mais tímido comparativamente aos demais trimestres. No segundo trimestre o desempenho da economia começa se acelerar e atinge seu auge no terceiro trimestre. O quarto e último trimestre apresenta ciclo de desaceleração da atividade econômica. 

Setorialmente estes comportamentos cíclicos também ocorrem. Analisando as séries históricas dessazonalizadas das pesquisas setoriais mensais do IBGE, a indústria, serviços e comércio também apresentam maior variação média positiva no período entre o segundo e terceiro trimestres do ano, com pequenas diferenças entre os meses de maior crescimento para cada um dos setores. 

Como 2020 registrou retração de 4,1% do PIB, a expectativa é de que a economia consiga retomar o volume de produção de riqueza – reduzido na queda do ano anterior – e traga algum ganho adicional. Essa lógica compõe a expectativa do governo de que a economia brasileira crescerá entre 5% e 5,5% neste ano. 

Entretanto, se observarmos o desempenho dos setores nos trimestres entre junho e agosto de 2021, a indústria e o comércio apresentaram desempenho bastante inferior ao observado na média para o mesmo período entre 2003 e 2021. Para os serviços, cuja série histórica se inicia em 2011, o comportamento observado nos trimestres encerrados em junho e julho de 2021 apresentaram melhor desempenho que iguais trimestres na última década. 

Ao compararmos a variação acumulada entre janeiro e agosto de 2021, ajustada sazonalmente, com a média observada na série histórica dos dados das pesquisas mensais setoriais, os setores industrial e comercial também apresentaram desempenho ruim. 

O que quero expor ao fazer comparação com períodos longos, é que a recuperação da economia tem ocorrido de forma lenta. A desaceleração do desempenho dos setores entre o segundo e terceiro trimestres do ano é especialmente preocupante. Ao analisarmos a dinâmica da economia, há grande risco de sermos enganados se observarmos apenas o curto prazo e fizermos comparações imediatistas.

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Faculdade de Administração e Economia da Metodista.




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