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A flora intestinal e a obesidade
Antonio Carlos do Nascimento
16/08/2021 | 07:08
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A microbiota, também conhecida como flora intestinal, vem ganhando imenso destaque, com inúmeras pesquisas científicas relacionando seu conteúdo a muitas patologias, incluindo a obesidade na infância e adolescência.

De acordo com as notificações do Sisvan (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional) – Ministério da Saúde –, de 2019, 16,33% das crianças brasileiras entre 5 e 10 anos estão com sobrepeso; 9,38%, com obesidade; e 5,22%, com obesidade grave. Em relação aos adolescentes, 18% apresentam sobrepeso; 9,53% são obesos; e 3,98% possuem obesidade grave. Não possuímos pesquisas que contemplem os custos relacionados a esta ocorrência.

A obesidade nestas faixas etárias também é sério problema nos Estados Unidos, afetando cerca de 17% das crianças e adolescentes em todo o país, de acordo com seu centro de controle e prevenção de doenças. Adicionalmente, a obesidade infantil está associada a um gasto anual de aproximadamente US$ 14,1 bilhões pelo governo norte-americano em medicamentos, consultas ambulatoriais e emergenciais para este grupo de pacientes.

O estudo mais interessante abordando este contexto é norte-americano e foi publicado em 2016 pelo Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, demonstrando que as bactérias intestinais que compõem a microbiota de jovens obesos são diferentes daquelas encontradas em magros de mesma idade.

Um total de 84 crianças e adolescentes, com idades entre 7 e 20 anos, foram avaliados quanto à microbiota intestinal e peso. Deste total, 27 jovens encontravam-se obesos, 35 severamente obesos, sete com sobrepeso e 15 com peso normal.

Os pesquisadores analisaram a microbiota intestinal de todos os participantes, os quais foram também submetidos a exame de ressonância magnética para avaliar distribuição da gordura corporal, realizaram coletas de amostras de sangue para avaliação laboratorial, mantendo dieta preestabelecida por três dias.

Foram encontrados oito grupos de microbiota intestinal relacionada com maior percentual de gordura corporal dos participantes. Estas comunidades bacterianas encontradas em jovens que são obesos tendem a ser mais eficientes na digestão de carboidratos do que a flora intestinal de adolescentes e crianças de peso normal.

Além disso, as crianças com obesidade são propensas a ter níveis mais elevados de ácidos graxos de cadeia curta na corrente sanguínea quando comparadas com crianças com peso normal. Os ácidos graxos de cadeia curta encontrados neste estudo são produzidos por alguns tipos de bactérias intestinais, que estão associados com a produção de gordura pelo fígado e em tecidos.

A importância da microbiota no binômio fome-saciedade definitivamente é gigantesca. Temos razões (e trabalhos científicos) de sobra para aceitar tal relação.

Então, antibióticos que tomamos durante nossas vidas podem modificar a população destas bactérias e decidirem nosso destino ponderal?

Outros medicamentos, comuns ou não, que utilizamos nos tempos atuais poderiam agir semelhantemente? Os conservantes dos alimentos industrializados? Corantes? Aditivos? Agrotóxicos?

O que temos certeza é que portadores de sobrepeso e obesidade são vítimas e não culpados, sendo credores de uma dívida preconceituosa e histórica que passa da hora de ser paga! 




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