Subsecretária de inovação se transforma em figura central da gestão em S.Caetano a ponto de participar das principais decisões da administração
Em abril, Tite Campanella (Cidadania) completava o quarto mês à frente da Prefeitura de São Caetano, cargo para o qual foi alçado diante da instabilidade na política da cidade. Acomodado na cadeira, ele decidiu fazer um dos movimentos mais ousados nos bastidores. Trouxe de volta ao Palácio da Cerâmica Marília Marton. Hoje, ela é considerada a primeira-ministra do governo de Tite.
O Diário conversou com servidores da Prefeitura e figuras públicas sobre a participação de Marília na administração e a maioria destacou o papel central que ela tem no dia a dia da gestão. São raras as decisões políticas e administrativas tomadas por Tite sem digitais de Marília, que foi secretária de Governo no último mandato de José Auricchio Júnior (PSDB), mas havia sido exonerada em agosto do ano passado.
Marília tem todo esse protagonismo mesmo exercendo, em tese, uma função de segundo escalão. Quando regressou à Prefeitura, foi nomeada para ser subsecretária de tecnologia e inovação, setor vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, atualmente dirigida pelo ex-prefeiturável Thiago Tortorello (ex-PRTB). Ela tomou lugar de Luiz Morcelli, rebaixado a assessor, a despeito de receber elogios do meio empresarial do município – Marília obtém mensalmente R$ 18 mil brutos; Morcelli, agora como assessor, ganha R$ 8.045,19.
A exoneração de Marília na gestão Auricchio, no ano passado, aconteceu em meio a muito suspense. À ocasião, a Prefeitura informou que a saída dela se deu por motivos pessoais. Mas havia boato de desgaste no cargo, em especial na relação com outros secretários. Ela havia sido nomeada secretária de Governo no fim de 2017, para o lugar de Rodrigo Toscano, deslocado para gerir o antigo DAE (Departamento de Água e Esgoto), hoje Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental).
Outras duas figuras costumam ser pilares de opinião de Tite na rotina da administração em São Caetano. Silvia de Campos passou o mandato de Auricchio como secretária de Planejamento e Gestão. Assumiu a pasta de Governo com a saída de Marília e permaneceu respondendo pelo expediente com Tite. Considerado quadro técnico, Silvia virou braço direito do chefe do Executivo em questões relacionadas a licitações.
Mesmo papel é exercido pelo advogado Allan Frazatti Silva, atualmente assessor de produção de informação e inteligência da Controladoria-Geral do Município. Frazatti teve passagem por outros departamentos do governo e foi secretário de Assuntos Jurídicos na primeira passagem de Clóvis Volpi (PL) como prefeito de Ribeirão Pires.
O governo Tite não retornou aos questionamentos feitos pelo Diário sobre a participação de Marília na gestão.
Auxiliar é casada com Beto Torrado
Marília Marton é casada com o empresário Walter Roberto Torrado, que atingiu seu apogeu político em Santo André utilizando o apelido pelo qual era conhecido nos bastidores: Beto Torrado.
Próximo do tucanato paulista quando Geraldo Alckmin era governador, Torrado ingressou no segundo turno da campanha do então candidato Aidan Ravin (morto em janeiro) à Prefeitura de Santo André. Com a eleição surpreendente de Aidan – venceu o favorito Vanderlei Siraque (à época no PT, hoje no PCdoB) –, ele foi convidado a participar da administração e virou interlocutor do governo com a Câmara.
Marília e Beto Torrado estão juntos há duas décadas e sempre tiveram bom trânsito com o tucanato paulista. Tanto que Marília tem, em seu currículo, passagens pelas secretarias estaduais de Educação e de Cultura, na Assembleia Legislativa e em subprefeituras da Capital, sempre patrocinada por nomes de peso do PSDB.
Em solo andreense, Beto Torrado teve vida difícil. Além de uma relação conturbada com a Câmara, não finalizou o mandato de Aidan como chefe de gabinete. De quebra, foi denunciado pelo Ministério Público no escândalo do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), acusado de ser um dos artífices de esquema de cobrança de propina para liberação de licenciamentos ambientais na autarquia.
Torrado responde a duas ações pelo episódio – uma na esfera criminal e outra na cível. Na primeira, foi condenado a 14 anos, nove meses e dez dias de prisão por associação criminosa e corrupção passiva. Segundo a juíza Maria Lucinda da Costa, da 1ª Vara Criminal de Santo André, Torrado, juntamente com outros nomes do governo Aidan, montaram um balcão para travar propositadamente o andamento de licenças ambientais para forçar o pagamento ilícito. Ele nega as acusações e recorre do caso no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).
A ação na área cível, por improbidade administrativa, transcorre na 2ª Vara da Fazenda Pública de Santo André. O promotor Marcelo Nunes, autor da denúncia formal, requereu a condenação de Torrado à perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente. Nunes avaliou que a ação de Torrado trouxe prejuízo de R$ 2,4 milhões aos cofres públicos.
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