O Brasil superou ontem a marca de 550 mil vidas perdidas para a Covid-19 – das quais, 9.550 delas de moradores do Grande ABC. É uma catástrofe! Não bastassem os reflexos diretos da ação nefasta do novo coronavírus, há, ainda, série de eventos submersos que impactam diretamente na qualidade de vida dos brasileiros. Um deles é o represamento das cirurgias eletivas ocorrido desde que a pandemia começou, em março do ano passado. Sem poder dar conta de tudo, por conta da escassez de recursos e estruturas, os municípios priorizaram o atendimento de casos mais urgentes, deixando para depois os que podiam esperar. É evidente que agiram certo, mas agora a conta começa a chegar.
Cirurgias eletivas são aquelas que podem ser adiadas porque não trazem riscos imediatos à saúde do paciente. Retiradas de cistos e verrugas, realização de biópsias e laqueaduras são alguns dos exemplos deste tipo de procedimento. Mas, como bem lembrou a médica Cristiane Ortiz Flora, coordenadora do Hospital e Maternidade São Lucas, em Ribeirão Pires, embora, a princípio, sejam pequenas lesões, “podem evoluir para um estado mais grave”. Com o agendamento prejudicado há um ano e meio, é grande a possibilidade de que muitos casos clínicos tenham evoluído de complexidade.
Só agora, quando a Covid começa a arrefecer, abrindo espaço nos hospitais, é que as secretarias de saúde dos municípios poderão traçar um quadro real dos efeitos causados pelo acúmulo das cirurgias eletivas. Em Ribeirão Pires, a única das sete cidades que tratou o assunto com transparência quando questionada pela equipe do Diário, o estrago foi grande.
Nos seis primeiros meses do ano, Ribeirão já realizou 1.074 procedimentos que estavam na fila. Ainda restam 248 pacientes à espera, o que dá uma ideia de como a situação pode estar nas demais cidades do Grande ABC. Infelizmente, a tragédia do coronavírus não se resume à montanha de cadáveres que se acumula. Como se vê, a saúde vai seguir com suas demandas em alta mesmo após a vitória contra a Covid-19, que está cada dia mais perto.
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