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Nova vida para joias do
‘coração’ do Ipiranga

Programa de fomento artístico de banco dos Estados Unidos foi o que ajudou o museu a recuperar quadros

Do Dgabc.com.br
Com agências
25/07/2021 | 00:01
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Oficialmente é Salão Nobre ou Salão de Honra. Mas, para os 250 mil visitantes que todos os anos realizavam o percurso interno do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, o imponente ambiente de 182 m² e mais de 10 metros de pé-direito, acessado pela escadaria monumental do edifício, sempre foi o coração do passeio.

No percurso expositivo planejado pelo historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (1876-1958) um século atrás para celebrar o primeiro centenário da Independência, em 1922, coube a esse salão a exibição de dez telas importantíssimas para a própria criação do imaginário nacional – entre elas, Independência ou Morte, obra de 4,15 por 7,6 metros, pintada em 1888 por Pedro Américo (1843-1905) e que se tornaria a maior tela em exposição permanente em um museu de São Paulo.

Era de se esperar que esse espaço e suas obras merecessem um cuidado especial durante as obras de restauração e ampliação do edifício-sede do Ipiranga, em andamento desde outubro de 2019. O museu está fechado desde 2013, quando foi interditado às pressas por segurança. A previsão de reinauguração está mantida para 2022, no bicentenário da Independência.

Mas havia um problema: falta de caixa. “O Museu Paulista tem uma grande quantidade de obras que precisariam ser restauradas para a reabertura das exposições”, conta a arquiteta Rosaria Ono, diretora da instituição. “São 43 no total (incluídas as dez do Salão Nobre), com um custo aproximado de R$ 1,3 milhão.”

“No entanto, sua concretização dependia de verbas para a realização. O museu tinha, em seu orçamento, cerca de 20% do valor garantido.” Veio a ajuda, por meio de um programa de fomento artístico do Bank of America, dos Estados Unidos.

Dez meses de trabalho. O valor total investido pela instituição bancária não é divulgado, mas, conforme Ono, “o restauro de nove será contemplado pela doação do Bank of America, assim como a aplicação do verniz final do quadro Independência ou Morte” – a tela já vinha sendo recuperada, mas a conclusão do trabalho sofreu atrasos em decorrência da pandemia de Covid-19. “Todos esses quadros compõem o Salão Nobre, o espaço mais visitado do museu antes do fechamento”, ressalta a diretora.

Responsável pela área de meio ambiente, social e de governança do banco na América Latina, o executivo Thiago Fernandes diz que “fazia tempo” que a instituição vislumbrava apoiar o Museu do Ipiranga. “Além de representar uma documentação visual de importantes momentos históricos, seu acervo nos propicia refletir e admirar, nos conectar a nós mesmos e vivenciar emocionalmente acontecimentos passados”, destaca. “Quem quiser entender a construção da Nação brasileira independente tem de passar pelo Museu do Ipiranga.”

Há a previsão ainda da produção de um livro com os bastidores do restauro e a história dessas obras. O início deve ocorrer ainda em julho, e o cronograma prevê que as telas estejam prontas em maio do ano que vem. Independência ou Morte, cujas dimensões não permitem retirada segura do ambiente, teve o trabalho de restauro – e agora terá a finalização – feito no próprio salão.

“A obra permaneceu na parede em que foi instalada desde 1895. Ela está protegida por uma estrutura metálica e vedações erguidas antes do início das obras de restauro arquitetônico do edifício e do salão”, conta o historiador Paulo César Garcez Marins, pesquisador do Museu do Ipiranga.

Segundo ele, a última vez que esses trabalhos foram restaurados foi nas décadas de 1960 e 1970. “Nove das pinturas ficaram exibidas nesse salão ao longo de quase um século, sendo que Independência ou Morte está ali há cerca de 125 anos – e foi restaurada em 1972.”

Quadros criaram o imaginário nacional

O conjunto de obras do Salão Nobre do Museu do Ipiranga foi pensado para exaltar a história do País. À exceção de Independência ou Morte, obra de Pedro Américo (1843-1905) já instalada no cômodo no centenário, todas foram encomendadas aos artistas Oscar Pereira da Silva (1867-1939) e Domenico Failutti (1872-1923).

“Juntas, essas telas formam um dos mais importantes conjuntos de pinturas de história do País e certamente o mais destacado sobre representações de episódios e personagens da Independência”, explica o historiador Paulo César Garcez Marins, pesquisador do museu. “São muito conhecidas pelos brasileiros, pois ilustram centenas de livros didáticos do País desde o início do século XX, assim como cédulas, moedas, medalhas e objetos decorativos.”

“A estrela é certamente Independência ou Morte. É a mais conhecida representação da Independência entre nós. Foi custeada pelo governo imperial e inaugurada em Florença na presença do imperador Pedro II e da rainha Vitória da Inglaterra. Antes do museu, viajou até Chicago, onde foi exibida na Exposição Internacional de 1893. Sua realização e exibição no museu a partir de 1895 garantiram a São Paulo e ao Ipiranga uma imagem que associa diretamente a Independência à cidade, embora as negociações políticas no Rio de Janeiro e as batalhas na Bahia e no Norte tenham sido decisivas para a consolidação da separação política entre Brasil e Portugal.”

“A pintura foi reproduzida ou reinterpretada inúmeras vezes, incluindo no filme homônimo de Carlos Coimbra, que tentou reproduzir a cena do quadro em torno de Tarcísio Meira, como Pedro I, e até em revistas da Turma da Mônica.”

RETRATOS DE UMA NAÇÃO

Quase todas as telas a serem restauradas são da época do centenário da Independência, exceto a mais valiosa, Independência ou Morte, de Pedro Américo, do Império (1888).

As demais são de Oscar Pereira da Silva e de Domenico Failutti:

Príncipe Regente Dom Pedro e Jorge de Avilez a Bordo da Fragata União (1922), de Oscar Pereira da Silva

Retrato de D. Pedro I (1925), de Oscar Pereira da Silva

Retrato de Dona Leopoldina de Habsburgo e seus filhos (1921), de Domenico Failutti

Retrato de Joaquim Gonçalves Ledo (1925), de Oscar Pereira da Silva

Retrato de José Bonifácio de Andrada e Silva (1922), de Oscar Pereira da Silva

Retrato de José Clemente Pereira (1925), de Oscar Pereira da Silva

Retrato de Maria Quitéria de Jesus Medeiros (1920), de Domenico Failutti

Retrato do Padre Diogo Antônio Feijó (1925), de Oscar Pereira da Silva

Sessão das Cortes de Lisboa (1922), de Oscar Pereira da Silva  




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