Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na primeira semana deste mês apontaram inflação ao consumidor de 0,53% em junho no País, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). No acumulado do ano, a inflação soma alta de 3,77% e, nos últimos 12 meses, de 8,35%. Isso é bastante acima do centro da meta para a inflação do Banco Central para 2021, de 3,75%, com variação de 1,5% para cima e para baixo.
Na Região Metropolitana de São Paulo, onde está o Grande ABC, a inflação acumulada nos últimos 12 meses encerrados em junho foi de 7,53% e nos seis primeiros meses de 2021, de 3,31%. Ao detalharmos a composição dos grupos de preços que integram o cálculo da inflação ao consumidor, os principais vilões nos últimos 12 meses foram: alimentação (11,4%); habitação (8,79%), com destaque para o botijão de gás de cozinha (24,65%) e energia elétrica residencial (17,33%); transporte (12,73%), com destaque para combustíveis para veículos (41,36%); e artigos de residência (11,65%), que incluem mobiliários, eletrodomésticos e utensílios residenciais.
Isso quer dizer que o orçamento pessoal ou familiar de cada morador da Região Metropolitana de São Paulo foi impactado exatamente pela variação de 7,53% dos preços registrados no IPCA nos últimos 12 meses? Ou seja, o poder de compra de todos os leitores e suas famílias encolheu na mesma proporção em razão da inflação registrada?
A resposta é não.
Isso ocorre porque o parâmetro definidor do peso dos preços dos diferentes produtos e grupos de produtos na composição da inflação é a avaliação da forma como as famílias utilizam seu orçamento. Algumas usam proporção maior da renda com alimentação, outras com habitação, outras com saúde, educação etc. A chamada POF (Pesquisa de Orçamento Familiar), realizada pelo IBGE, faz essa avaliação e detalha a divisão dos gastos orçamentários realizados pelas famílias.
Por isso, a inflação ao consumidor, que é uma média ponderada pelo peso dos diferentes grupos de produtos captados pela POF, não é necessariamente a inflação que afeta o bolso de cada morador da região e suas famílias. Pelo mesmo motivo, a variação de preços ao consumidor difere regionalmente, entre famílias de diferentes níveis de renda, diferentes composições familiares, entre outros.
Também por isso, a inflação agregada, calculada pelo IPCA, é um importante indicador para compreendermos a trajetória do comportamento da economia, fundamental para o planejamento das decisões dos setores privado e público, bem como para políticas públicas.
Para o orçamento de cada indivíduo ou família, voltado ao planejamento financeiro familiar, é essencial que se tenha conhecimento sobre a forma como cada orçamento é utilizado, as principias despesas presentes na vida de cada um. Infelizmente, nem todos têm esta clareza sobre o cenário.
Somente a partir da organização do orçamento pessoal e familiar é que cada um poderá avaliar, de forma mais apropriada, o quanto a variação dos preços na economia está reduzindo o poder de compra do orçamento da família, e assim tomar decisões que se mostrem mais apropriadas para a realidade de cada um com vistas a amenizar os efeitos inflacionários.
Material produzido por Sandro Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo.
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