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Motorista reúne relatos
de passageiros em livro

Objetivo é mostrar histórias de superação; em mais de 10 mil viagens já foram colhidos quase 300 depoimentos

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
06/06/2021 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


 “Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação.” Os versos de Encontros e Despedidas, canção de Milton Nascimento e Fernando Brant composta em 1985, poderiam ser modernizados para os dias atuais com a troca da palavra “estação” por “carro de aplicativo”. Presentes no cotidiano das cidades, as viagens particulares se popularizaram e também viraram palcos para conversas, desabafos e confissões. Atento a isso, o motorista Marcos Henrique Rieger, 50 anos, morador de Santo André, vem reunindo os relatos de seus passageiros para poder escrever um livro de crônicas.

Para Rieger, essa é uma forma de compartilhar com as outras pessoas histórias de superação e de sucesso. “Já ouvi tantas coisas, pessoas que precisaram se reinventar. Contar tudo isso pode fazer com que, quem leia, se identifique e saiba que também pode começar de novo”, afirmou.

Sua própria história foi marcada por momentos em que precisou recomeçar. Em curto espaço de tempo, entre 2018 e 2019, perdeu a mãe, perdeu o emprego e perdeu o que investiu em um negócio. Ser motorista de aplicativo foi a alternativa que encontrou para se manter, honrar seus compromissos como a pensão da filha, de 11 anos, mas, também, começar de novo.

Formado em gestão e educação ambiental, Rieger se deu conta que sua facilidade de comunicação e sua capacidade de ouvir os outros poderiam ser utilizadas para fazer algo de bom. “Notei que as pessoas querem muito ser ouvidas”, comentou. Foi assim que nasceu a ideia do livro. Crônicas de um Motorista de Aplicativo: Viajando Pelas Ruas das Cidades, Desvendando as Pessoas e as Suas Experiências de Vida vai reunir histórias de pessoas comuns, mas com os fatos extraordinários que cada um acumula na sua existência.

A ideia, que vem sendo acalentada desde 2019, é tirar o projeto do papel ainda este ano. A irmã de Rieger atua na área de educação e é quem vai ajudá-lo a transformar os quase 300 relatos, colhidos em mais de 10 mil viagens, em um livro. “Atualmente, o trabalho como motorista de aplicativos é minha única fonte de renda e a pandemia tem me afetado bastante. Mas pretendo me organizar para começar a realizar isso”, pontuou.

Hoje, sempre que está com um passageiro, Rieger conta do livro e pede que a pessoa conte a sua história. No fim da viagem, faz anotações em um caderno e vai puxando da memória os detalhes. Além de contar o que cada um tem de bom, ele pretende resgatar o hábito de conversar. “Hoje as pessoas se fecham nos seus celulares, nos seus mundos, não falam mais com quem está do lado. Seja por medo, pelo motivo que for. A gente tem que mudar isso”, opina.

Entre as histórias que pretende narrar, Rieger destacou a de uma mulher, que hoje mora em São Bernardo. Muito jovem, ela foi vendida para um xeique árabe e passou a integrar o seu harém. O que parecia ser uma vida de princesa, se mostrou uma rotina de dificuldades e até de violência. Com as outras mulheres, ela aprendeu dança do ventre, se destacou e chegou a ter uma carreira como dançarina na Europa. “Parece uma história de filme. Hoje ela está de volta ao Brasil, trabalha na área da saúde e é uma pessoa realizada”, citou. “Com base na experiência dos outros a gente pode encontrar forças para superar”, concluiu. 

Quem quiser mais informações sobre o livro ou puder colaborar de alguma forma pode entrar em contato pelo e-mail marcos.rieger2019@gmail.com.

Andreense quer criar observatório das cidades

Andar todos os dias por cidades e ruas diferentes pode ser uma oportunidade para aprender sobre pessoas e sobre história. Pensando dessa forma, além do livro de crônicas sobre as vivências dos passageiros, o motorista de aplicativo Marcos Henrique Rieger, 50 anos, morador de Santo André, pretende criar o que chamou de observatório das cidades. Instalar câmeras fotográficas no seu veículo para que elas registrem, de maneira aleatória, cenas do cotidiano.

Rieger diz que sempre que passa por uma rua tem vontade de saber quem foi a pessoa que deu o nome àquela via; ou porque existem tantas ruas homônimas nas cidades do Grande ABC. “A ideia é fazer as fotos e depois disponibilizá-las em uma página na internet, com todas as informações possíveis sobre aquele local”, explicou.

Trabalhando como motorista de aplicativo há cerca de dois anos, Rieger já fez mais de 10 mil viagens e afirma que não tem qualquer temor de circular pelas cidades, seja em áreas periféricas ou regiões nobres. “A gente vê a desigualdade, em uma hora estamos em uma região carente, logo depois entramos em ruas com mansões. Se observarmos o Centro de São Paulo, vamos ver ali nossa Champs-Élysées (famosa avenida parisiense), mas os brasileiros ainda sofrem da tal síndrome de vira-latas e acham que tudo que tem lá fora é melhor”, lamentou.

O seu grande objetivo, explicou Rieger, é fazer um resgate das coisas boas. “Pretendo criar uma página para o observatório onde a gente possa denunciar ou enaltecer as coisas que acontecem no dia a dia. Quero um resgate das coisas boas, do ser humano”, concluiu.




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