Setecidades Titulo Preocupante
Reservatórios que atendem a região têm queda de 32% em um mês

Especialista aponta ausência de políticas públicas para manutenção dos mananciais

Por Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
05/06/2021 | 00:01
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


Em pleno Dia do Meio Ambiente, o Grande ABC encara redução dos níveis dos principais reservatórios de água que alimentam a população de 2,8 milhões de pessoas. E a situação pode ficar ainda mais preocupante, já que teve início em maio o período de estiagem, quando são esperadas menos chuvas até o fim de setembro.

O Diário realizou levantamento junto ao portal da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que apontou queda nas bacias, principalmente no braço que leva água para Santo André, o manancial Rio Claro. No reservatório, em um mês, houve redução de 17,3%. Se em maio o manancial tinha 66,9% do recurso, ontem, quando os dados foram analisados novamente, a reserva era de 49,6%. Ao todo, e puxado pela queda do Rio Claro, os reservatórios que suprem a região diminuíram em 32% sua capacidade.

Conforme o coordenador de pesquisas do IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade), Guilherme Checco, a responsabilidade com a água potável, assim como o cuidado com as áreas de mananciais vão além de levar o recurso até a torneira de cada cidadão. Para o especialista, o debate deve ser abordado pelo poder público com mais ênfase e planejamento.

“Os mananciais são os produtores destas águas que são utilizadas para o abastecimento público. E o poder público se mantém afastado das estratégias, das ações, das diferentes políticas públicas relacionadas à água”, declarou Checco.

O braço Rio Grande, por exemplo, teve redução de 9,5% em maio, quando apresentava 91,1% de seu limite e, agora, esse valor é de 81,6%, o que ainda pode ser considerado satisfatório. Apesar de demonstrar apenas 3,7% de perda em dois meses, o Sistema Cantareira, que supre a cidade de São Caetano, já atingiu volume menor que a metade. Em abril, a bacia mantinha 50,9% do total e agora esse valor é de 47,2%.

A redução dos níveis dos mananciais impacta diretamente na vida dos moradores da região. Entre 2014 e 2015, por exemplo, quando o Estado de São Paulo atravessou crise hídrica, a gestão à época, realizada pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), instaurou esquema de rodízio. Além disso, áreas mais periféricas dos municípios sofreram com constantes faltas do recurso nas torneiras.

O governo federal emitiu, no mês passado, alerta de emergência hídrica para o Estado de São Paulo e outros quatro Estados e que se localizam na Bacia do Rio Paraná, que deverá receber pouca chuva devido ao período de estiagem. Essa é a primeira vez que um alerta com esse teor é emitido.

Checco avalia que um dos maiores problemas encontrados e que diminuem a vida útil dos mananciais é a falta de política pública voltada especificamente para o saneamento básico. O ambientalista explica que o sistema utilizado pelo País é o segundo, em todo o mundo, que utiliza mais água.

“Precisamos mudar a estratégia para isso, que vise o modo em que se cuida da água. Nós queremos que o setor colabore com o que tem do cano (que chega em casa) para trás. Isso poderia proteger nossos mananciais. Essa é uma ação necessária, utilizando conhecimento científico e podermos montar uma estratégia para saber o que se fazer nestas áreas”, sustentou.


Sabesp descarta risco de desabastecimento

Apesar de cada vez mais baixo o nível dos reservatório que atendem o Grande ABC e também os da Região Metropolitana de São Paulo, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) descartou a possibilidade de faltar água nas cidades da Grande São Paulo neste momento, mas evitou garantir que a situação se sustente até o fim da estiagem, em setembro.

“A Sabesp informa que não há risco de desabastecimento neste momento na Região Metropolitana de São Paulo, mas reforça a necessidade do uso consciente da água em qualquer época. Composto por sete mananciais (Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço), o sistema que atende a Região Metropolitana é integrado e suas represas são interligadas. Essa integração permite transferências rotineiras entre regiões, dando mais segurança ao abastecimento. Isso é possível porque obras vêm sendo realizadas desde a crise hídrica (entre 2014 e 2015), com destaque para a Interligação Jaguari-Atibainha (que traz água da Bacia do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira) e o novo Sistema São Lourenço”, garantiu a companhia.

A Sabesp destacou que novas obras estão sendo realizadas para garantir a manutenção do fornecimento. “A interligação do Rio Itapanhaú com o Sistema Alto Tietê é principal obra em andamento para reforçar a segurança hídrica. É uma nova captação de água, que vai transferir, em média, 2.000 litros por segunda desse rio (cerca de 10% de sua vazão média) para a Represa Biritiba Mirim, do Sistema Alto Tietê. A previsão de conclusão das obras é para o fim de 2021, quando será iniciada a sua operação, beneficiando mais de 20 milhões de pessoas. O investimento é de R$ 91,7 milhões”, informou a empresa, em nota. 


Foto: Claudinei Plaza/DGABC

Foto principal: Celso Luiz/DGABC




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;