Em resposta à acusação do MPF por corrupção, prefeito de S.Bernardo diz que indicação de Maciel, seu ex-secretário, à FUABC foi de colega andreense
Denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por peculato (desvio de recursos públicos), crime contra a administração pública, corrupção, fraude de licitação e organização criminosa no âmbito da Operação Prato Feito, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), tenta incluir o prefeito Paulo Serra (PSDB), de Santo André, nas investigações sobre suspeita de fraude em contratos públicos. A situação expõe racha no tucanato regional.
Em junho do ano passado, a procuradora regional da República Elizabeth Mitiko Kobayashi apresentou ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) acusação contra Morando e mais 12 pessoas no escândalo da Prato Feito, que apontou existência de esquema para forçar contratações emergenciais de empresas ligadas a políticos na área da merenda escolar e alimentação em unidades de saúde.
A peça central da acusação é o advogado Carlos Roberto Maciel. Secretário de Coordenação Governamental no governo Morando, Maciel foi presidente da FUABC (Fundação do ABC) entre 2017 e 2018. Foi justamente neste período que, conforme o MPF, Maciel ratificou dispensa de licitação para contratar firma de seu genro, Fábio Mathias Favaretto, para fornecimento de alimentos em hospitais gerenciados pela instituição.
Em sua defesa preliminar ao TRF-3, Morando argumenta que não foi ele quem indicou Maciel para presidir a FUABC e, sim, Paulo Serra. “O Ministério Público Federal se equivoca ao afirmar a interferência de Orlando Morando Júnior na nomeação de Carlos Roberto Maciel ao cargo de presidente da Fundação do ABC, pois sua indicação não partiu do acusado (Morando) e, sim, de Paulo Serra, prefeito de Santo André”, diz trecho da resposta, confeccionada pelo renomado escritório Alamiro Velludo Salvador Netto Advogados Associados.
Maciel chegou à presidência da FUABC em 2017 em meio a uma crise interna na entidade. No início daquele ano, Paulo Serra havia apresentado o nome de Maria Bernadette Zambotto Vianna para comandar a organização social. Nos bastidores, porém, o tucano sofria pressão de Morando. Tanto que, em setembro, cedeu e consentiu em trocar sua indicação.
Em manobra, Maciel foi apresentado ao conselho de curadores como nome de Santo André, mesmo sem nunca ter tido ligação com o município – o advogado teve papel central na campanha de Morando em 2016 e foi vereador de São Bernardo no início dos anos 2000. A prova de que houve ingerência na indicação está presente no site da FUABC, durante a apresentação do então novo presidente.
Em trecho do comunicado à imprensa, a FUABC admite que foi Morando quem convidou Maciel para dirigir a entidade. “No início de setembro, Orlando Morando questionou doutor Maciel se aceitaria assumir a FUABC. ‘Gosto de desafios e respondi que sim, desde que com o suporte da estrutura da Fundação e também da estrutura política dos municípios mantenedores. O prefeito garantiu esse apoio e agora estou aqui, com objetivo de fazer o melhor para que a Fundação mantenha os princípios que foram as razões de sua constituição lá atrás, em 1967’, detalhou doutor Carlos Maciel durante a reunião.”.
Ao Diário, Maciel também reconheceu que foi à FUABC a pedido de Morando. Tanto que, no fim de 2017, quando a indicação passou a ser de São Bernardo – diante de rodízio dos mantenedores –, ele foi novamente apresentado ao conselho de curadores. “O prefeito (Morando) me pediu que entrasse lá e fizesse o que deveria ser feito”, discorreu, em entrevista publicada no dia 2 de outubro de 2017.
Em nota, a defesa de Morando disse que apenas “esclareceu equívocos” apresentados pelo MPF em sua denúncia (veja mais abaixo). Paulo Serra não retornou aos contatos da equipe do Diário para comentar o assunto. Maciel não foi localizado para fornecer sua visão acerca do episódio.
Pressão de Morando provocou divisão no PSDB
Ao tentar imputar ao prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), responsabilidade no escândalo da Operação Prato Feito, o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), torna público racha no tucanato regional que teve início em 2017.
Paulo Serra e Morando fizeram parte do mesmo grupo político – são, inclusive, compadres, já que Morando foi padrinho de casamento de Paulo Serra. Em 2016, quando ambos se elegeram pela primeira vez prefeitos em suas cidades, o que se esperava era relação harmoniosa. Porém, desde o início Morando pressionou para que sua vontade fosse feita.
A fórceps, foi eleito presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Não sossegou enquanto não emplacasse um aliado direto como presidente da FUABC (Fundação do ABC) – no caso, Carlos Maciel. Mas o copo d’água transbordou na eleição de 2018.
Morando não aceitou que sua mulher, Carla Morando (PSDB), tenha registrado menos votos que Thiago Auricchio (PL) na eleição a deputado estadual em Santo André – ambos foram eleitos: ela com 7.492 votos andreenses e Thiago, com 7.738.
A partir daquele episódio, Morando foi ficando isolado na região. A ponto de municípios, de maneira inédita, iniciarem processo de desligamento do Consórcio – antigo aliado de Morando, o então prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), puxou a fila. Coube a Paulo Serra reverter a debandada.
Em 2020, o tucano são-bernardense não engoliu o fato de Paulo Serra ter sido reeleito com percentual e votos absolutos maiores do que ele registrou em São Bernardo. Agora, com a potencial candidatura da primeira-dama andreense, Ana Carolina Barreto Serra, a relação de ambos tende a piorar.
RESPOSTA
Ao Diário, a defesa de Morando minimizou o fato de ter relacionado Paulo Serra na Operação Prato Feito.
“A petição apresentada perante a Justiça Federal apenas esclareceu todos dos muitos equívocos cometidos pelo Ministério Público na formulação da infundada acusação. Quanto à indicação de Carlos Maciel, a defesa apenas retratou cada um dos períodos. Naquele momento foi feita uma substituição de uma pessoa que havia sido indicada pelo prefeito de Santo André. Depois permaneceu no cargo por sugestão do prefeito de São Bernardo”, informou a defesa do tucano, que assegura total inocência de Morando. “Inexiste qualquer irregularidade nas nomeações relacionadas à Fundação do ABC.”
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