Quilo de acém subiu 80% em relação a 2019; clientela sumiu dos açougues ou substitui por outras proteínas
Com as constantes altas do dólar, a carne bovina vem se tornando cada vez mais um artigo de luxo na mesa dos brasileiros. No País, o consumo caiu 13,7% em comparação a 2019. No Grande ABC, a situação não é diferente, já que o insumo ficou até 80% mais caro na comparação com tempos de pré-pandemia. Como consequência, os açougues da região enfrentam dificuldades financeiras e esvaziamento, já que as famílias adaptaram o cardápio.
De acordo com informações da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a estimativa é a de que cada brasileiro consuma neste ano 26,4 quilos de carne bovina – queda de 13,7% em relação a 2019 e de 4,35% na comparação com 2020. O resultado é o menor de toda a série histórica, iniciada em 1996.
No caso do acém, considerado um corte de segunda, o preço subiu de R$ 16,74 o quilo em abril de 2019 para R$ 29,90 no mesmo mês deste ano, o que equivale a 80%. Em 2020, o valor chegava a R$ 19,99 (alta de 49,61% em relação a este ano). Já o coxão mole, uma carne de primeira, passou de R$ 26,11 em 2019 para R$ 39,40 neste ano, um crescimento de 50%. Os números são da pesquisa da cesta básica da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André),
De acordo com o engenheiro agrônomo da Craisa, Fábio Vezzá De Benedetto, o principal componente para a alta do insumo é o câmbio, já que a carne é uma commoditie, ou seja, classificada como matéria-prima e com o preço determinado pela oferta e procura internacional.
“Produtos como soja, combustível e milho também sofreram alta por causa disso, mas não são componentes importantes de nutrição. Com a desvalorização do real, nós vamos pagar mais nestes produtos”, disse ele, que acredita que os preços só devem mudar quando a questão cambial melhorar.
Nos açougues da região, é notável a redução do movimento. Proprietário do Bulls Ateliê de Carnes, localizado no Centro de Diadema, Carlos Alberto dos Santos, 32 anos, afirmou que a clientela caiu aproximadamente 40%.
“Eu tinha clientes que gastavam cerca de R$ 200 por semana. Hoje, essas mesmas pessoas gastam R$ 50 no máximo. A carne está custando o dobro e os clientes perderam os empregos ou diminuíram a renda”, relata. Desde o início da pandemia ele precisou dispensar três funcionários e colocar dinheiro do bolso para manter o negócio. “Hoje praticamente não tenho lucro, já que não dá para ter margem em muitos dos cortes”, afirmou Santos, que planeja vender a unidade por causa da situação complicada.
O Açougue do Raul tem 45 anos de funcionamento e é tradicional no bairro Santa Teresinha, em Santo André. O proprietário, Raul Lima de Almeida, 65, afirmou que este é o momento mais difícil para o negócio de família. “O movimento caiu de 40% a 50%. A maioria dos clientes vem procurando carne de porco, que custa metade da carne bovina, e frango. Nós temos de nos adaptar. Ninguém mais compra um quilo de carne bovina, mas bifes contados para cada um da família”, exemplifica.
Apesar da dificuldade, ele acredita que “dias melhores virão” e segue apostando no negócio. “Nós estamos conseguindo pagar as despesas e quem faz isso já precisa erguer as mãos para o céu e agradecer”, disse.
MUDANÇA DE HÁBITOS
Uma das proprietárias da Companhia Fuxico de Teatro, Alessandra Nascimento, 44, moradora da Vila Guiomar, em Santo André, vem sofrendo com a suspensão dos espetáculos desde o início da pandemia. Para ela e a família, formada pelo marido e a filha de 12 anos, economizar passou a ser a única alternativa.
“Antes nós consumíamos carne vermelha três vezes por semana. Desde que começou a pandemia, nós passamos semanas com frango e ovo e quando eu compro carne, prefiro a de segunda ao invés da de primeira”, contou.
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