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Três índios se suicidam na aldeia Panambizinho, no MS
Do Diário do Grande ABC
09/09/1999 | 20:35
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Cinco índios da aldeia Panambizinho, a 25 quilômetros da cidade de Dourados, no sul do Mato Grosso do Sul, tentaram o suicídio nessa quarta-feira (08). Eles beberam cachaça misturada com os herbicidas Novacron e Secante. Morreram três - Sivone Aquino, de 15 anos, Sulmara Arce, 12 anos, e Valdelen Juca Pedro, 20. Os corpos foram sepultados nesta quinta-feira (9) no cemitério da aldeia.

O grupo ainda chegou com vida ao Hospital da Missao Evangélicas Kaiowas, em Dourados. Luciene Arce, de 15 anos, está internado em coma e um índio nao identificado recebeu tratamento e foi dispensado.

Segundo o chefe do núcleo da Fundaçao Nacional do Indio (Funai) em Dourados, Wilson Matos, os cinco índios resolveram juntos o envenenamento. Este ano já foram registrados quatro suicídios na mesma aldeia. Matos atribui as mortes à tensao na aldeia por causa da falta de espaço para que os índios possam viver com dignidade. O ambiente tenso foi confirmado pelo chefe do posto indígena da Panambizinho, Alexandre Croner de Abreu.

Em Dourados vivem 7 mil índios em pouco mais 6 mil hectares e bem próximos da área urbana. Essa aproximaçao facilita a introduçao de bebidas alcóolicas na aldeia. Quanto à facilidade de se conseguir veneno para os suicídios Abreu explicou que os produtores rurais da regiao nao dao a destinaçao adequada às embalagens de agrotóxicos, deixando-as jogadas no campo com restos de produtos.

Os dois funcionários da Funai explicaram que há 40 anos a aldeia Panambizinho ficou sem 1.180 hectares de área, transformados em assentamento da reforma Agrária pelo entao presidente Getúlio Vargas, O governo de Vargas dividiu os 1.180 hectares em 38 lotes, concedendo títulos definitivos das terras para o mesmo número de colonos. Sao 38 produtores brancos ocupando quase 1.200 hectares e 250 índios guarani-kaiowa vivendo em apenas 60 hectares. A Funai delimitou a área que é contígua à aldeia, registrou e liberou para os índios. Mas decisao do ex-ministro da Justiça Nelson Jobim reconsiderou o direito dos fazendeiros de permanecer na área.

No final do mês passado, um grupo de 200 guarani-kaiowas deteve três funcionários do governo na aldeia. Os servidores estaduais foram avisar os índios sobre o cancelamento da visita do ministro da Justiça, José Carlos Dias, que havia prometido ir à aldeia resolver o problema. Com os reféns, os kaiowas negociaram uma outra data para a visita do ministro, que seria dia 4 último, também cancelada.

Os produtores rurais querem indenizaçoes das benfeitorias, cerca de R$ 5 milhoes para deixar o local. Segundo Wilson Matos um comunicado recebido no início desta semana informa que o Ministério da Justiça vai comprar a Fazenda Sao Paulo, vizinha da aldeia, para assentar os colonos e liberar a gleba para os índios. Segundo informaçoes obtidas no Conselho Indigenista Missionário existem na regiao nove áreas indígenas que foram usadas para assentamentos naépoca de Getúlio Vargas.




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