A nacionalização do petróleo e do gás na Bolívia representa uma péssima notícia para as companhias internacionais, cada vez mais submetidas às obrigações impostas pelos Estados para explorar os recursos naturais.
A decisão do presidente boliviano Evo Morales confirma "um movimento de nacionalismo no setor petróleo e gás na América Latina liderado por Venezuela e Brasil e que poderia se estender até o México", alerta Nicolas Sarkis, especialista famoso do setor e diretor da revista Pétrole e Gaz Arabes.
Morales anunciou na segunda-feira que as jazidas de petróleo e de gás, que estavam nas mãos de 26 companhias estrangeiras, serão administradas pela companhia pública nacional, a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos). A Bolívia detém as segundas maiores reservas de gás da América Latina, atrás apenas da Venezuela.
O grupo espanhol Repsol, que controla 25,7% da produção de gás boliviano, ou seja, 17% das reservas do país, expressou preocupação nesta terça-feira. O francês Total e o americano ExxonMobil, que têm participação da produção de jazidas de gás, estão acompanhando de perto a situação.
A Comissão Européia também se disse "preocupada" com a publicação do decreto de nacionalização.
Para Sarkis, "é um sinal preocupante para o futuro, pois os países onde as companhias podem trabalhar livremente são cada vez mais raros".
A Rússia, que abriga imensas reservas de gás, autoriza os investimentos estrangeiros com a condição de que os grupos russos detenham 51% dos contratos de exploração. O Irã, quatro produtor mundial de petróleo, inscreveu em sua Constituição a proibição do regime de concessão para fechar o acesso aos recursos.
Na maioria dos países produtores, como a Arábia Saudita, as companhias estrangeiras são praticamente obrigadas a estabelecer parcerias com grupos locais, mesmo se nenhuma lei imponha tais associações, explica uma grande companhia petrolífera internacional.
Para Pierre Terzian, diretor da revista Pétrostratégies, a decisão tomada por La Paz é "lógica", no contexto de um barril cujo preço passa dos US$ 70: a cada vez que os preços disparam, os Estados tornam a fiscalização mais pesada para que as empresas estrangeiras não sejam as únicas a aumentar seus benefícios.
Porém, "pela primeira vez na história, isso acontece num momento em que o mundo precisa mais do que nunca investir em novas capacidades de produção", destaca Terzian. "O próximo passo pode ser o fechamento aos estrangeiros do acesso às reservas e das possibilidades de investir".
Com a disparada dos preços, as relações com os Estados produtores mudou, afirma Terzian. "Esse fato é demonstrado pelo exemplo do Chade, um país produtor novo que não duvida em enfrentar o Banco Mundial", disse.
"Os Estados que precisam de capitais, de experiência e de tecnologia não precisam de empresas", afirma Terzian. "Com um estatuto de produtor, tudo se compra, por exemplo por meio de contratos de serviços".
Porém, pondera o especialista, a decisão da Bolívia não passa de "um fogo de palha", comparada com as ondas de nacionalização dos hidrocarbonetos lançadas nos anos 70, principalmente pelo Iraque e pela Argélia. "Os grandes grupos sempre se adaptaram", concluiu.
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