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Ribeirão dribla a distância e oferta
curso de Braile em plena pandemia

Professores usam a tecnologia para manter curso mesmo sem poder ter contato físico

Por Yasmin Assagra
Do Diário Do Grande ABC
09/05/2021 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Professores do curso de Braile oferecido pela Prefeitura de Ribeirão Pires usam a tecnologia e a criatividade para driblar os efeitos da pandemia. Por mais que o contato físico seja crucial na atividade, o risco de contaminação tem feito com que os profissionais usem aplicativo de mensagem para enviar áudios e vídeos aos estudantes.

As aulas são ministradas para 25 alunos e os conteúdos são enviados semanalmente. “Logo no início (da pandemia), pensávamos que em dois, três meses iam voltar de forma presencial, mas vimos que não, então, adaptamos os conteúdos para os alunos não esquecerem do que já foi passado”, detalha José Nilton Barbosa Meira, 52 anos, professor do curso, que aprendeu o método Braile desde sua alfabetização, já que foi diagnosticado com glaucoma congênito desde o nascimento.

José explica que para os alunos que não são deficientes, o curso segue com 60 horas de aulas, sendo 30 destinada à escrita e 30 horas para a leitura. Já para os deficientes, não existe tempo estipulado. “O ritmo de cada uma é diferente e vamos percebendo isso a cada aula. Alguns aprendem melhor a escrita e na leitura têm um pouco mais de dificuldade, então vamos trabalhando”, completa José.

Segundo o docente, a maioria dos alunos deficientes visuais possui ferramentas que auxiliam na hora da escrita, como o reglete, que funciona como uma espécie de régua e possui pequenos espaçamentos para preencher com a letra, formada com auxílio da punção, objeto que pressiona o papel e forma a letra em alto relevo.

Nesses espaçamentos é possível criar letra com seis pontos, que permite 63 combinações ou símbolos Braile, que formam frases e textos. “Para os alunos novos, sempre começamos pelos números, letras individuais e depois para formação de frase, acentos e pontuações”, comenta José. A reglete, inclusive, existe de vários tamanhos e formas.

Além disso, segundo o professor, com a reglete a escrita deve ser feita da direita para a esquerda, porque as palavras são lidas pelo relevo que é formado ao afundar a punção no papel, ou seja, primeiro escreve a letra em relevo e depois se vira o papel, para que o relevo fique do outro lado. Mas, atualmente, já existe o chamado reglete positivo, que permite criar o relevo sem precisar virar o papel ao contrário.

No curso, os alunos que não são deficientes visuais e não possuem ainda o reglete podem enviar as tarefas em forma de desenho, ou seja, desenham a formação da palavra no papel. “Eles geralmente desenham os espaços e, dentro deles, formam as palavras. Tiram fotos ou, quando possuem alguma dúvida, nos chamam em vídeo para mostrar”, destaca a professora Camila Cristine de Lima, 30, que atua há oito anos no projeto e lembra que iniciou como estagiária até virar docente. “Cheguei a ministrar aulas ao infantil, mas logo voltei para ajudar o José, inclusive foi ele quem me ensinou o Braile”, recorda.

Estudante cita a dificuldade, mas relata que é possível aprender

O aposentado Ermano Feliz da Silva, 67 anos, morador do bairro Ouro Fino, divisa com Suzano, foi diagnosticado com retinose pigmentar – quando a retina é danificada – e, por isso, se interessou pelo curso de Braile há dois anos. Como a doença é gradativa, ele acredita que daqui alguns anos perderá totalmente a visão e, por isso, se empenha em aprender hoje, mesmo já com baixa visão.

“Esse curso não abandono mais. É difícil, mas não é impossível. Para mim, o mais difícil está em fazer a leitura de uma frase, por conta do tato. A escrita é mais fácil”, detalha Ermano.

A secretária municipal de Educação, Rosi Ribeiro de Marco, comenta que Ribeirão Pires terá novos projetos para a inclusão. “Não estamos falando só de educação, mais sobre a vida. É de extrema importância para o docente e os alunos, mesmo com aulas remotas”, conta a secretaria, que promete criar espaço restaurado para oferecer serviços especializados para pessoas com deficiência, como serviços multidisciplinares em escolas e cursos de Libras (Língua Brasileira de Sinais).




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