Boa parte dos parlamentares ouvidos pelo Diário recua de postura crítica à atuação; alguns admitem que jamais compareceram à entidade
Um dia após aval à indicação que pedia ao Executivo de São Bernardo, chefiado por Orlando Morando (PSDB), retirada da cidade do quadro que compõe o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, parlamentares amenizam o tom e recuam da ofensiva contra entidade regional. Na quarta-feira, vereadores elaboraram documento no qual solicitavam que Morando enviasse projeto ao Legislativo com intenção de desligamento do município do colegiado. Aprovada, a propositura recebeu 18 crivos favoráveis e apenas um contrário, da opositora Ana Nice (PT).
A iniciativa se deu na base governista, mas teve impacto negativo na esfera regional. Apesar do ímpeto inicial, os vereadores abrandaram críticas à entidade, que atualmente tem se tornado sede dos principais debates voltados ao combate da pandemia de Covid-19 na região. “A gente sabe da importância do Consórcio Intermunicipal. A gente queria fazer apenas uma pressão para que se resolvessem essas questões regionais. (Nós vereadores) Decidimos ali na hora (de fazer a indicação)”, declarou o líder de governo na casa, vereador Ivan Silva (PP), que admitiu jamais ter comparecido a uma assembleia do colegiado. “Nunca fui convidado”, justificou.
Também integrante da base de sustentação, o parlamentar Maurício Cardozo (PSDB) reconheceu que a intenção inicial do bloco era de apenas elaborar nota de repúdio contra o Consórcio, porém, que a movimentação cresceu no Legislativo por indicar ao governo a alternativa de retirada. “Na verdade, nem acho que a indicação será acatada pela Prefeitura de São Bernardo. O Consórcio tem sua grandeza para a região”, avaliou o tucano. Cardozo afirmou ainda que, como vereador, nunca compareceu a uma reunião da entidade regional e não soube citar quais os assuntos discutidos pela instituição atualmente.
Único parlamentar petista a apoiar a medida na casa, Joilson Santos alegou que não enxerga na entidade regional os caminhos para a efetivação de políticas públicas para o Grande ABC. Na visão do vereador, falta espaço para que parlamentares participem do colegiado. “Tenho acompanhado as últimas discussões do Consórcio e que têm girado em torno do combate à pandemia na região”, citou, admitindo, contudo, que nunca participou das reuniões do Consórcio.
Já o vice-líder de governo na Câmara, Julinho Fuzari (DEM), por outro lado, manteve linha contrária entre os vereadores ouvidos pelo Diário. Dizendo-se crítico da atuação do Consórcio “desde muito tempo”, o democrata declarou acreditar que o colegiado “é uma caixa-preta”. “O Consórcio não passa quais são as pautas que estão sendo discutidas. Fico sabendo o que acontece lá pela imprensa. Para mim, o Consórcio é uma caixa-preta”, sintetizou. Fuzari afirmou ainda que elabora projetos para participação de vereadores na entidade desde 2013. “O diálogo com o Consórcio Intermunicipal é muito complicado”, disse. Assim como os outros colegas, Fuzari nunca participou de um encontro na entidade. “Nunca recebi convite.”
Colegas de outras cidades estranham
Figuras políticas das demais cidades do Grande ABC estranharam movimento bancado por parlamentares de São Bernardo e se posicionaram em defesa da atuação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.
Para o líder do governo na Câmara de Santo André, Professor Jobert Minhoca (PSDB), a movimentação do Legislativo de São Bernardo causou estranheza. “Acho o momento inoportuno para qualquer discussão sobre a saída de municípios do Consórcio. Depois que tivermos vencido o novo coronavírus, aí sim podemos discutir. Mas vamos avaliar também o trabalho do atual presidente em comparação com as antigas gestões. Não me lembro de os antecessores de Paulo Serra (PSDB) terem cuidado das divisas, feito investimentos ou trazido inovações para o Grande ABC. E olha que eles não tinham uma pandemia para enfrentar.”
O presidente da Câmara de Ribeirão Pires, Guto Volpi (PL), afirmou que tem acompanhado de maneira próxima a atuação da entidade regional, principalmente nas ações que visam combate à pandemia do novo coronavírus. “Temos de reconhecer que o Consórcio foi um dos primeiros colegiados a se movimentar e buscar a compra de vacinas (contra a Covid)sem que precisasse passar pelo governo do Estado ou federal. Sua atuação na região é importante”, sustentou.
Parlamentar de Rio Grande da Serra, Benedito Araújo (PSB) declarou que a entidade sempre teve atuação relevante, principalmente para as menores cidades da região, como o seu reduto eleitoral. “Fui contra as duas vezes, por exemplo, que os prefeitos de Rio Grande (Gabriel Maranhão, Cidadania, e Claudinho da Geladeira, Podemos) quiseram sair do Consórcio. O Consórcio sempre ajuda e ajudou Rio Grande. É um equipamento regional de extrema importância”, avaliou o socialista.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.