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Dois anos depois de chuva histórica, problemas de alagamento continuam

Munícipes cobram solução das prefeituras; enchente de março de 2019 deixou 10 mortos e 284 desabrigados

Yasmin Assagra
Diário do Grande ABC
11/03/2021 | 07:00
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Arquivo/Diário do Grande ABC


Há exatos dois anos, em 11 de março de 2019, o Grande ABC foi palco de uma das piores enchentes da história, que deixou dez mortos – duas em Santo André, uma em São Bernardo, três em São Caetano e quatro em Ribeirão Pires – e 284 pessoas desabrigadas. Algumas cidades da região, como Santo André, São Bernardo e Ribeirão Pires, registraram 150 milímetros de chuva, quando o normal para um dia de grandes temporais não passa de 80 milímetros. De lá para cá, pouca coisa mudou, a não ser o medo da população que vive em área de risco cada vez que o céu fica escuro.
 

No bairro Santa Teresinha, em Santo André, moradores dizem que as enchentes “são problemas antigos”. A região, que conta com auxílio de piscinão municipal, ainda carece de outras ações, principalmente quando as chuvas são mais intensas. “(Em 2019) Não conseguimos salvar televisão, sofá, mesa, perdemos tudo. Tudo indo por água abaixo”, lembra o aposentado Manoel Lopes, 73 anos, que mora com a mulher, a também aposentada Eldenir Lopes, 84, e reside na Rua Mato Grosso. “Depois que só sobrou sujeira, fizemos mutirão com toda família para tirar a água de casa. Até hoje nada foi feito. Só olhar pela rua, o mato fica alto e não temos ajuda”, completa o aposentado. Segundo o munícipe, à época da enchente a Prefeitura ajudou os moradores com limpeza das ruas, doações de produtos de limpeza e isenção do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
 

Em São Bernardo, o cenário é o mesmo. Na Rua Tamanduateí, na Vila Vivaldi, a insegurança permanece. A aposentada Ivone Stux, 81, lembra que há dois anos a água chegou na comporta da sala, invadiu a lateral da casa e entrou pela cozinha, que não tinha o reforço na porta.“Deu para salvar pouca coisa. Perdemos a geladeira, mesa e fogão”, conta.
 

Moradora da rua há mais de 40 anos, Ivone diz que nenhuma providência foi tomada. “A galeria da rua transborda e, aí, começa a invasão para dentro das casas. Não precisa nem chover para ficarmos com medo, quando o céu escurece, já é motivo para ficarmos preocupados”, relata a aposentada. Em 2019, a administração entregou aos moradores produtos de limpeza e também isentou o pagamento do IPTU. Os moradores que já tinham pago o imposto tiveram o reembolso, como foi o caso de Ivone.
 

Já na Rua Coligni, no bairro Fundação, em São Caetano, Emídio Vieira de Melo, 103, mora com a filha, Lucia Maria de Melo, 65, que é deficiente mental. Emídio e Lucia estavam na casa com o outro filho de Emídio, Cláudio José dos Santos, 56, que, por sorte, conseguiu ajudá-los. “O Cláudio colocou eles em cima de uma cadeira e depois em cima da pia da cozinha. Mesmo assim, a água chegou a bater no pescoço deles”, detalha a cuidadora da família, Ilzete Soares, 57.
 

A profissional também é moradora do bairro Fundação e, na época, vivia com a mãe em um sobrado próximo à Avenida dos Estados. Ilzete comenta que, desde 2019 até hoje, o cenário é o mesmo. “Na casa do Emídio, semana passada, a água já começou a invadir a garagem mesmo. O bom seria limpeza nos córregos e bueiros toda semana, ou sempre vai entupir e nós é que saímos como prejudicados”, critica Ilzete.
 

A Prefeitura de São Caetano beneficiou alguns moradores atingidos pela chuva, com auxílio de R$ 3.000, dividido em seis parcelas, para famílias com renda até R$ 954 (o salário mínimo da época). Emídio e sua filha, Lúcia, foram contemplados.

Estado inicia a desapropriação da área do Piscinão Jaboticabal

Anunciado como solução definitiva para os problemas de enchentes em São Bernardo, São Caetano e São Paulo, o Piscinão Jaboticabal, que será construído na divisa entre as três cidades, vai atrasar pelo menos dois anos. A obra, que ganhou importância principalmente depois da enchente de março de 2019, era para ter ficado pronta no fim deste ano, agora o novo prazo do Daee (Departamento de Água e Energia Elétrica) é 2023.
 

O Daee diz que iniciou o processo de desapropriação da área do piscinão neste ano. O projeto, em debate há dez anos, já teve o Consórcio Rac Jaboticabal como vencedor da licitação. Segundo o órgão estadual, não houve liberação federal para a desapropriação por meio da Caixa, assim o Estado viabilizou parte dos investimentos para efeturar o processo, no valor estipulado de R$ 106 milhões.
 

Agora, o governo estadual segue em busca de financiamentos para a execução do reservatório. Caso as liberações não ocorram, as obras serão iniciadas no segundo semestre, com recursos do Tesouro Estadual, com investimento total de R$ 238 milhões. Como são pelo menos 18 meses de obra, o reservatório deve ser entregue em meados de 2023.
 

O piscinão será construído no Córrego Jaboticabal, entre os ribeirões dos Meninos e dos Couros, próximo à Via Anchieta. Terá a capacidade para armazenar 900 mil metros cúbicos de água da chuva, sendo o maior piscinão do Estado, beneficiando cerca de 500 mil pessoas. No total, serão investidos cerca de R$ 344 milhões.
 

O Daee assegura que o reservatório terá interligação com outros piscinões da região, com o intuito de trazer eficiência no escoamento de águas pluviais.

Prefeituras seguem com operações preventivas para controlar enchentes

As prefeituras da região disseram que mantêm ações permanentes para evitar danos causados por enchentes. Santo André, onde duas pessoas morreram em março de 2019, informou que desde fim de 2019 aumentou a capacidade do Piscinão Santa Teresinha, onde um dos mortos foi encontrado, em 25%, e que está em andamento o projeto para a construção de um reservatório na região do Córrego Guarará, junto ao tanque de detenção. A administração também disse, por meio de nota, que estão previstas obras complementares para otimizar o sistema de drenagem da Vila América e Vila Pires.
 

São Bernardo inaugurou, em agosto de 2019, o Piscinão do Paço, com armazenamento de 220 milhões de litros de água. Atualmente, a Prefeitura executa a canalização do Córrego Ribeirão dos Couros, no bairro Jordanópolis, além das limpezas contínuas das bocas de lobo e manutenções em galerias de águas pluviais. <EM>São Caetano informou, por meio do Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento), que mantém um plano de drenagem urbana com limpeza periódica de bocas de lobo e operação de duas estações elevatórias ao longo da Avenida Guido Alibert.
 

Diadema informou que mantém o recolhimento de entulho e limpeza das ruas, assim como Ribeirão Pires, que, atualmente, realiza a limpeza da galeria pluvial localizada na região central da cidade, desassoreamento do Ribeirão Grande, na Avenida Prefeito Valdírio Prisco; de córregos na Quarta Divisão; na Estrada da Cooperativa; e em Ouro Fino.
 

Até o fechamento desta edição Mauá e Rio Grande da Serra não responderam à demanda do Diário.




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