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Falta de peças faz produção de veículos recuar a 2016

Fábricas de chips da China estão redirecionando itens para videogames; paralisação é descartada

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
06/03/2021 | 00:05
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DGABC


A falta de peças reduziu o ritmo de produção nacional de veículos em fevereiro. Saíram das montadoras 197 mil unidades, 3,5% a menos do que no mesmo período do ano passado e 1,3% inferior a janeiro. Com isso, o mês passado apresentou o menor resultado em sete meses e o pior fevereiro desde 2016, quando foram confeccionados 144,3 mil exemplares.

Os dados foram divulgados ontem pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e incluem carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

Em fevereiro, além de escassez global de componentes eletrônicos, a exemplo de chips, que vêm da China, cujos embarques têm sido atrapalhados pela pandemia do novo coronavírus, os dias parados pelo Carnaval também influenciaram.

O consultor automotivo da Oikonomia, Raphael Galante, destaca que a falta de peças já era sabida desde o fim de outubro, porém, com a instabilidade da economia trazida pela Covid, a opção foi por encomendar volume menor. E quando se tem a redução dos pedidos aos sistemistas, e depois de um tempo volta a fazer mais encomendas, demora um tempo até que as entregas sejam normalizadas. “Todos sabiam, ninguém foi pego de calças curtas”, dispara.

“Quanto aos chips, a história é curiosa. Houve uma migração de consumo, e as fábricas chinesas redirecionaram a produção de chips de veículos para videogames, como Playstation 5 e Xbox, e como a população do mundo inteiro está fazendo mais home office, tem mais gente jogando videogame”, conta Galante. “Está faltando muita peça, mas também insumos como papelão para embalar as peças. Tanto que algumas montadoras estão pedindo de volta aos concessionários as embalagens de disco de freio e amortecedor, por exemplo. O que não se sabe é como ficará daqui para o fim do ano, se continuará uma falta generalizada”, completa.

“Vamos ter bastante emoção na produção até o fim do ano”, comenta o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “A situação dos semicondutores chips usados em circuitos eletrônicos é mais complexa. Não vemos soluções de curto prazo. Semicondutores são o que mais tiram o sono das montadoras no Brasil e fora.”

Moraes afirma que, além da crise de oferta de produtos e desarranjo na logística, a pandemia causou desorganização dos preços relativos da economia, dada a valorização rápida das commodities, com pressão sobre custos. “Em algum momento, isso tem que ser repassado ao consumidor”, pondera, ao citar alta de 61% no preço do aço e de 68% de resinas. Segundo ele, o risco de novas interrupções de produção na indústria de veículos é “permanente”, já que nem todos fornecedores conseguem produzir na mesma velocidade.

Com relação ao retrocesso à fase vermelha em todo o Estado de São Paulo, onde o endurecimento da quarentena vai fechar concessionárias pelas próximas duas semanas, foi descartada paralisação geral das montadoras, como aconteceu em abril do ano passado. Muitas fábricas inclusive adotaram terceiro turno para espaçar os horários de trabalho e reduzir o volume de pessoas atuando na mesma linha de produção. (com Estadão Conteúdo)
 




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