Economia Titulo Entrevista da semana
‘Não vendemos apenas paredes, mas lares’

Valter Patriani,empresário e fundador da Patriani

Yara Ferraz
Diário do Grande ABC
15/02/2021 | 07:00
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O empresário Valter Patriani, 63 anos, sempre foi uma referência no setor de turismo, afinal, ele participou da criação da CVC, principal companhia do segmento. Fundou a Patriani, construtora que hoje é uma das principais do ramo e que, em 2021, completa nove anos. “Eu sou um turista no setor da construção, mas uso muitas técnicas do turismo para vender apartamento”, disse ele. No ano passado a empresa cresceu 40% e contratou 158 colaboradores. Para este ano, a previsão de crescimento é de mais de 50%. Entre os diversos projetos, também está o início de fábrica em Mauá para a produção de componentes e móvies para os apartamentos.

Desde março do ano passado, observamos como a pandemia afetou economicamente todos os setores produtivos. A construção civil conseguiu driblar o cenário, mantendo as contratações e os lançamentos. Como foi possível neste ano tão difícil?
No início todos ficamos muito assustados, inclusive a construção civil. Era uma sensação de fim de mundo e, inicialmente, nós paramos, inclusive o stand de vendas. Entretanto, alguns setores foram considerados essenciais e não pararam, incluindo a construção civil aqui no Estado. Mas se criou uma grande angústia: será que vai vender? Porque a gente não sabia se o nosso cliente continuava empregado. E foi assim por 60 a 90 dias. Lá para maio, a gente percebeu que a tragédia não seria tão grande para a construção civil porque as obras seguiam, os clientes continuavam fazendo os pagamentos e havia uma demanda por apartamentos e casas. Pessoas querendo comprar casas maiores ou ir para o Interior. As pessoas começaram a dar mais valor para o lar, já que ficaram em casa. Por isso que 2020 foi um dos melhores anos para a construção civil brasileira, que ficou entre 3% e 4% atrás de 2019, o que em ano de pandemia não é nada.

E a Patriani?
A Patriani cresceu por volta de 40%. Todos os nossos lançamentos venderam em velocidade impressionante. Foi um ano muito bom para toda a construção civil, apesar de ser muito complicado para outros setores, como, por exemplo, o turismo, que está em uma dificuldade monumental.

O senhor participou ativamente da criação da CVC, empresa andreense que hoje é líder no setor de turismo. Na companhia, atuou como presidente e é visto como referência do segmento. Como foi essa transição para a construção civil?
Eu fui para a construção civil porque eu tinha uma experiência como investidor. Apesar de que os setores se parecem: temos o sonho das férias e o sonho da casa própria. Eu sou um turista no setor da construção, mas eu uso muitas técnicas do turismo para vender apartamento. Quando você vende férias é muito importante entender as pessoas. Apartamento também. É algo muito importante porque a classe média brasileira só vai realizar o sonho da casa própria duas ou três vezes na vida. É uma decisão de grande preocupação e muito pensada. A gente quer transformar a experiência da compra de um apartamento que não é boa em uma experiência muito legal. Por isso que a gente faz coisas, como, por exemplo, o test drive de vagas de garagem, onde o morador consegue testar aquela vaga que vai ser sua. Outra questão é que a maioria dos prédios é entregue sem gerador. Neste caso, se ficar sem elevador, como uma mulher grávida ou o filho de alguém que teve alguma fratura vai subir 15 andares? O prédio hoje já tem que nascer moderno e, por isso, já ter gerador. É desta maneira que nós trabalhamos.
 

Vocês estão de mudança para Santo André, sendo que a sede era, anteriormente, em São Caetano. Como está sendo o processo de mudança?
Nosso primeiro departamento chega em maio. Vamos levar uns três meses para fazer a mudança. No total, os 250 funcionários irão junto nesta mudança.

Por que decidiram mudar para Santo André?
Surgiu a oportunidade. Santo André é onde a Patriani mais constrói e a cidade nos convida e recebe bem. É a sétima cidade do Brasil, fora das capitais, em número de população. Nós achamos que é a cidade centro do Grande ABC para o comércio hoje. E tem o bairro Jardim, é difícil achar um bairro com essas características. Acredito que seja nossa Moema e achei que nossa sede cabia (no bairro), sem demérito às outras cidades. Santo André e Patriani combinam. A gente tem muito orgulho em ser do (Grande) ABC, Região Metropolitana poderosa, rica e muito populosa. Também temos uma sede em Campinas.

De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia, em 2020 o setor foi o único que fechou com saldo (admissões menos desligamentos) positivo no Grande ABC, com geração de 1.071 vagas de emprego. Qual a importância do setor para a geração de empregos na região?
A vantagem da construção civil é que ela necessita de muita mão de obra. Uma fábrica de carros, hoje, já não demanda tanto. Conforme dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), a cada R$ 1 milhão investido na construção civil são gerados 11 empregos. E gera mesmo. Quando a gente vai lançar o prédio, antes de eu contratar um pedreiro, já tenho engenheiro, calculista, caminhão, corretor trabalhando. Também tem um lado social importante, porque muito da mão de obra dos canteiros teria pouca chance em um currículo nas grandes empresas. O nosso setor enxuga bem essa mão de obra não tão qualificada e isso cria um equilíbrio social muito importante para o Brasil.
 

E quantos trabalhadores foram contratados no último ano pela Patriani?
No último ano contratamos 158 colaboradores diretos e realizamos 529 contratações terceirizadas.

Quanto o setor deve crescer neste ano?
Segundo o Secovi, entre 5% e 10%. Na Patriani, eu acho que a gente vai acima dos 50%. É que somos uma empresa jovem e temos muitas oportunidades ainda, temos muito para crescer e muito para fazer.

A Patriani está construindo uma fábrica em Mauá para ajudar a equipar os apartamentos. Qual o valor do investimento?
Nos próximos anos, a planta industrial de Mauá da Patriani terá investimento de R$ 50 milhões. O nosso objetivo será a produção industrial de ‘itens de qualidade percebida’, ou seja, tudo aquilo que os nossos clientes veem todos os dias, como marmoraria e caixilharia (caixilhos são engradados que recebem os vidros, utilizados em janelas, postigos, normalmente executados em alumínio, ferro ou madeira), por exemplo. A Patriani precisa controlar a qualidade do que o cliente tem contato todos os dias. Já iniciamos a produção da caixilharia, com 70 funcionários. Em seis meses, começaremos a fabricação de marmoraria, onde vamos cuidar da qualidade dos acabamentos das pedras que usamos nos empreendimentos. Daqui um ano, iniciaremos a produção de móveis, pois futuramente entregaremos cozinhas e armários nos apartamentos. Queremos sempre oferecer mais para nossos clientes, pois não vendemos apenas paredes, mas lares.

E por que Mauá?
Porque a cidade está no Grande ABC e a duas quadras do Rodoanel, portanto, conseguimos estar num eixo de 100 quilômetros de São Paulo e a uma hora dos prédios que construímos, permitindo mais facilidade na logística.

Observamos que nos últimos anos o Grande ABC vem perdendo importantes indústrias, mas, de modo geral, há crescimento nos setores de comércio e serviços. Isso afeta o mercado imobiliário?
Afeta sim, mas o (Grande) ABC conseguiu uma coisa espetacular que é aumentar renda, o comércio ajudou a construção civil. Hoje o Grande ABC é menos dependente das indústrias, mas é inegável que elas afetam o nosso PIB (Produto Interno Bruto). Seria melhor ter as indústrias aqui.

Quantos canteiros de obras a Patriani tem hoje?
Temos 13 canteiros de obras, sendo sete em Santo André, um em São Caetano, um em São Bernardo, dois em Campinas, um em Sorocaba e um em São Paulo.

O metro quadrado da região ainda é mais atrativo financeiramente do que o de São Paulo. O senhor acredita que essa é uma vantagem competitiva para o crescimento da construção civil na região?
Sim, é mais atrativo. Os terrenos no Grande ABC são mais baratos do que em São Paulo e o potencial construtivo também é maior. Os seja, as leis do Grande ABC são mais atrativas do que as leis de São Paulo. Por isso, o Grande ABC é bacana, mas devo ressaltar que o custo da construção civil não muda, independentemente da cidade.

A Patriani também vem mirando cidades do Interior, como Atibaia, para lançamentos. Quais são os atrativos dessas cidades? Atualmente, elas são mais competitivas do que o Grande ABC para o setor?
Num raio de 100 quilômetros de São Paulo temos pelo menos 90 cidades com mais de 100 mil habitantes que são carentes de prédios tecnológicos. Como a Patriani está no médio e alto padrão tecnológico, construindo neste raio de 100 quilômetros, e nossos prédios são atrativos e com excelentes velocidades de vendas, queremos levar todas essas modernidades para essas cidades do Interior. Atibaia é uma delas e queremos cada vez mais abrir os horizontes. Mas o Grande ABC ainda é mais competitivo.

Quais os próximos lançamentos da Patriani?
Neste ano, Patriani terá dez lançamentos, sendo um em São Caetano, dois em Santo André, quatro em Campinas, um em Sorocaba, um em São José dos Campos e um em São Paulo, com VGV (Valor Geral de Venda) estimado em R$ 845 milhões.

RAIO X

Nome: Valter Patriani
Estado civil: casado, pai de dois filhos.
Idade: 63 anos
Local de nascimento: Novo Horizonte, Interior do Estado, e mora em São Paulo.
Formação: 2º grau completo.
Hobby: trabalhar.
Local predileto: Noruega, para curtir a natureza; e Las Vegas, para diversão.
Livro que recomenda:Nos últimos dez anos, o mundo ficou tão diversificado e complexo que virei um leitor feroz de jornais. Leio cinco por dia (Valor Econômico, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário do Grande ABC e Correio Popular, de Campinas).
Artista que marcou sua vida: Os cantores Daniel e Roberto Carlos.
Profissão: empresário
Onde trabalha: Patriani
 




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