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‘Espero devolver em três meses a vaga ao Auricchio’
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
04/01/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Prefeito em exercício de São Caetano depois que, na sexta-feira, foi eleito presidente da Câmara, Tite Campanella (Cidadania) diz esperar que até março a situação jurídica do ex-prefeito José Auricchio Júnior (PSDB) esteja regularizada para “devolver a cadeira a quem de direito”. 

Em entrevista ao Diário, o vereador, um dos mais leais ao tucano – que teve o registro de candidatura indeferido e viu seus 42,8 mil votos suspensos –, avisa que não promoverá mudança no ritmo do governo, declara não passar pela cabeça derrota jurídica do aliado e argumenta que é preciso trazer paz política à cidade. “São Caetano precisa parar de pensar em eleição. Precisa se acalmar.”

Como o senhor recebeu a informação de que seria o candidato governista à presidência da Câmara e, consequentemente, iria virar prefeito? Por que o senhor acha que foi escolhido pelo ex-prefeito José Auricchio Júnior (PSDB)?

Trabalhamos quatro anos de maneira muito unida porque a liderança do governo na Câmara propicia que tenha contato mais estreito com a administração. Conhecer o projeto desde a concepção, desde o desenvolvimento, até o momento em que é enviado à Câmara, ou quando se trata de outro programa que não necessariamente vá para a Câmara, mas que tenha de ter um olhar porque pode ser alvo de especulação por parte da oposição. Você tem de conhecer muito. Nos aproximou mais do que a gente era próximo. A partir disso foi fácil construir esse consenso com os vereadores (governistas) de que eu seria presidente no primeiro biênio. Houve problema de prazos da Justiça Eleitoral, que todos foram dilatados (em razão da Covid) e não teve tempo de o Auricchio poder recorrer em um prazo para assumir a cadeira que é dele por direito. Essa proximidade acontece há quatro anos e, com essa proximidade administrativa, acabou sendo consequência (assumir interinamente o Palácio da Cerâmica). Encaro como uma missão, mais uma tarefa do trabalho do vereador e também do grupo político ao qual faço parte. Em grupo político há o líder, que fica no plenário brigando, tem o presidente da Câmara, os secretários. Há série de missões. Acabou, por coincidência, que eu tenha de ocupar esse cargo de prefeito durante esse breve período de tempo.

O senhor dará uma cara sua ao governo ou será continuidade da gestão de Auricchio?

Completamente de continuidade. Não terá uma cara minha. A administração que foi aprovada pela população, que recebeu quase 43 mil votos, foi a do Auricchio. Com esses secretários, com esses projetos e programas. Merece ser continuada, com mesma equipe, mesma filosofia. Não existe projeto pessoal nem personalista de governo.

O senhor pretende mudar secretários? Isso foi tema de conversa do senhor com Auricchio?

Algumas pontuais podem acontecer, quando o secretário não tiver eventualmente o interesse em continuar, algo nesse sentido. A maioria dos secretários permanece. Serão convidados a permanecer. 

O Auricchio terá função no governo?

No começo vai ajudar como amigo mesmo. Alguém com quem você pode conversar, se aconselhar, se apoiar. O conhecimento que ele tem da administração, dos projetos em andamento e de São Caetano é enorme. No princípio vai ser isso. Ele vai ter a participação que ele quiser ter no governo. Se amanhã ele pensar em ter função mais explícita, ele tem meu total apoio para isso. Acho que ele vai se voltar, a princípio, para ele mesmo e a família, são anos de muito trabalho, incessante, e ele precisa de uma semana de descanso. Depois, se debruçar nas questões que precisa resolver para voltar a ser prefeito.

Como é virar prefeito em um ambiente turbulento política e juridicamente, além de toda a crise por causa da pandemia de Covid?

Quando fui vereador a primeira vez, em 2000, você tinha mundo completamente diferente. Não tinha as inúmeras amarras que a administração pública tem hoje. Atualmente há fiscalização forte, onipresente, do Tribunal de Contas, do Ministério Público, da própria sociedade civil organizada. Você tem de criar mecanismos, a Controladoria-Geral do Município foi criada para isso, para filtrar problemas que possa ter lá na frente. É tudo muito diferente de quando eu assumi como vereador pela primeira vez. Hoje em dia você tem muita fiscalização, se demanda muita transparência de todos os atos que você faz, você tem de estar antenado aos novos tempos. A pandemia, ao mesmo tempo que torna o trabalho do gestor, principalmente da saúde, mais dificultoso, joga com algo que você não conhece. Ela dá possibilidade de coisas que merecem maior fiscalização, tem estado de emergência, a dispensa de algumas licitações, precisa dobrar o olho fiscalizatório sobre isso para evitar problemas lá na frente.

São Caetano se prepara para comprar doses de vacina, buscando se antecipar ao calendário federal de imunização. Como o senhor lidará com os projetos para conter a Covid na cidade?

A gente teve ações exemplares. A cidade se preparou muito bem para o enfrentamento da pandemia. O fato de a gente ter médico como prefeito foi muito positivo. Temos uma equipe de saúde maravilhosa comandada pela Regina Maura (Zetone, secretária da pasta). A gente se antecipou e em muitas coisas fomos referência no País todo em ações de combate à pandemia. Temos mais um desafio, além da pandemia que não vai embora, que é a vacinação. Ainda há a questão da volta às aulas. Tudo está mais ou menos interligado. E digo que mais uma vez vamos dar exemplo de como tem de trabalhar nesses três aspectos. Estamos em busca de 120 mil doses da vacina, aliás. Na segunda-feira (hoje) terei conversa com a Regina para tratar disso, ver em que pé estamos nisso. Há países vacinando e o Brasil está para ser um dos últimos a iniciar a vacinação. Mas vamos sair na frente, mais uma vez, nas ações que vamos implantar no grande desafio do primeiro semestre.

Como é ocupar a cadeira que seu pai ocupou (Anacleto Campanella foi prefeito de 1953 a 1957 e de 1961-1965)?

Fico muito feliz, orgulhoso. Infelizmente convivi muito pouco com meu pai, porque perdi meu pai quando eu tinha 11 anos de idade (Campanella morreu em 1974). E na maior parte que convivi ele havia sido cassado pelo regime militar (Campanella havia sido eleito deputado federal em 1966, mas foi punido pela ditadura). Eu o conheci como pai, não como político. Não fizemos campanha juntos, não participei de sua administração. Tenho ele como pai e ídolo, como é o pai de todo mundo. Mas tenho alguns valores e princípios que ele deixou para a gente, que minha mãe soube perpetuar entre nós da família e que vão continuar norteando as nossas ações. E onde for. Seja na presidência da Câmara, na Prefeitura, em casa. Isso vai continuar fazendo com que a gente leve as coisas para frente.

O senhor foi candidato a prefeito em 2004, ficando na quarta colocação, naquele pleito em que Auricchio venceu pela primeira vez. Chegou ao Palácio da Cerâmica agora, 15 anos depois. Mas do jeito que o senhor sonhava?

Quando você pensa em ser prefeito, e eu sempre pensei nisso, você espera ser em momento de felicidade. Ganhei a eleição, superei meus adversários, a população acreditou nas minhas propostas, achou que meu trabalho é melhor. Na circunstância em que ocorreu minha posse, é triste. Para mim é triste.

O senhor é considerado um dos principais aliados de Auricchio. O fato de estar à frente da Prefeitura neste momento pode credenciá-lo a suceder o tucano em outras eleições?

Não necessariamente. Tenho hoje isso muito bem resolvido dentro de mim. Essa coisa de individualidade na política é interessante até certo ponto. Quando se deixa de ter projeto coletivo, de cidade, de comunidade, a coisa fica um pouco complicada. Quando não há continuidade de grupo político... Tivemos ruptura em 2012 (então governista, Paulo Pinheiro deixou o bloco de Auricchio e venceu Regina Maura na eleição daquele ano, dando início a uma rivalidade que persiste até hoje) e, consequentemente, queda acentuada da qualidade dos serviços públicos prestados, algo que poderia ter sido evitado com uma transição tranquila, com um grupo ajudando o outro a fazer a administração da cidade. Quando a gente retomou a cidade, e a gente tem o instituto da reeleição que permitiu que o Auricchio pleiteasse novamente e fosse reeleito, há oito anos de continuidade na implantação de projetos. Mas se houver nova ruptura, se perde tudo aquilo que conquistou. Importante que esse grupo permaneça unido e faça o sucessor. Esse sucessor pode ser qualquer um. Eu gosto de usar um clichê, mas que se aplica bem. Eu sou soldado do grupo. Se precisar desempenhar papel de líder, desempenho, se precisar ser apoio no plenário, serei. No caso aqui, por obra e graça de Deus estou podendo exercer um cargo legal, também como soldado. Não tem questão pessoal nem vaidade dentro do trabalho que vou realizar.

Derrota jurídica de Auricchio passa pela sua cabeça?

Não. De jeito nenhum.

O senhor está preparado para ficar até quando como prefeito?

Espero o prazo mais breve possível entregar a cadeira a quem de direito. A minha conta é de três meses. Espero que em três meses possamos voltar à normalidade institucional e o Auricchio possa assumir a Prefeitura. Se forem quatro ou cinco meses, claro que a gente tem preparo para isso, temos equipe para isso, não tem problema nenhum. O mais breve possível é o ideal para cidade.

A demora em resolução do impasse jurídico atrapalha de que maneira a gestão? A oposição bate na tecla de que haverá nova eleição. Isso pode prejudicar ainda mais em um momento tão delicado política e administrativamente?

Eles (oposição) só exploraram isso (a situação jurídica de Auricchio). Não houve proposta, plano, projeto sendo debatido ou discutido com a população por parte deles. Eles estão em campanha permanente. Acho que a gente tem de acalmar a cidade. A cidade precisa parar de pensar em eleição. Uma eleição que não acaba nunca é ruim para todas as partes envolvidas. Eleição não se faz a bel-prazer dos grupos políticos. A Justiça Eleitoral é muito econômica para liberar ocorrência de eleições extemporâneas. No nosso caso, a população disse que queria o Auricchio, isso tem de ser levado em consideração. Ele foi muito bem votado, será inocentado do processo a que responde. A primeira coisa a se fazer é acalmar um pouquinho a cidade com a questão de política, deste Fla-Flu, deste Palmeiras e Corinthians que a gente está vivendo. Temos de voltar à normalidade administrativa e deixar os políticos um pouquinho de lado. 




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