É impossível determinar o começo do uso do sino em eventos, prédios públicos e principalmente no culto das diversas religiões. Os sinos em sua musicalidade sóbria tornam-se símbolo da comunidade reunida na fé. As histórias referentes aos sinos sempre estão envoltas em anúncio de libertação e alegria. Convocam para celebrar a vida, tanto em momentos tristes como alegres, em especial no Natal.
Mas, temos alegria para celebrar neste Natal? Por mais que esteja escura a noite é preciso cantar, na certeza do amanhecer. Os sinos de Natal anunciam a alegria do nascimento de Jesus e o anúncio feito aos pastores, os primeiros a serem convidados a visitar o menino Jesus: “Não tenham medo! Eu vos anuncio uma boa notícia, que será alegria para vocês e todo o povo: hoje em Belém nasceu o Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,10).
Estamos envoltos numa situação dramática, para não dizer trágica, que atinge a todos. Nem sempre é fácil interpretar a realidade, e principalmente esta da pandemia, que paralisou o desenrolar da história. Talvez mais que cantar e fazer barulho com aglomerações, somos convidados a meditar, refletir, fazer uma pausa e escutar.
Contemplemos em silêncio, como fizeram Maria e José, ao receberem o misterioso menino Deus, que nascia em uma manjedoura, na gruta de Belém. Talvez, olhando aquele menino que mudaria a história da humanidade, eles tivessem pensado como nós hoje: ‘Sabemos o que era o passado, mas não sabemos como será o futuro!’
Mesmo em meio ao silêncio e paralisia geral, ouçamos os sinos tocarem em nossos corações. Vamos contemplar o presépio e orar.
Diante da manjedoura, peçamos que ela nos recolha como somos, pobres, nus e desamparados diante do Cosmos e do mistério do homem e da Encarnação do Verbo.
Olhando o burro, peçamos forças para carregar as preocupações, as inquietações dos nossos amigos e todas aquelas preocupações pesando sobre nossos ombros.
Diante do boi, peçamos que sejamos aquecidos com seu hálito, com seu calor e nos console neste inverno das separações, criadas pelo confinamento e pela indiferença.
Contemplando as ovelhas, peçamos orientação para não seguirmos estupidamente o rebanho, que sejamos ovelhas desconfiadas dos falsos pastores, impostores egoístas e falsas notícias. Que eu seja fiel ao Bom Pastor, capaz de guiar-me para a vida plena.
Peçamos ao pastor: ensine-me a ler à noite a mensagem das estrelas, capaz de indicar-me como permanecer no rumo da Esperança, e seguir o caminho da verdadeira Alegria, da única Alegria que é Deus vindo até nós.
Peçamos a José: impeça minha raiva quando as coisas não saírem do meu jeito e, ao invés disso, ajude-me a manter o silêncio, com paciência e na paz. E ajude-me a perseverar em meu trabalho.
Peçamos a Maria a coragem e a sabedoria de perceber a diversidade quando julgo os outros e os eventos. Ela, sempre desafiada a compreender as ações do Filho, pode instruir-me – com sua sabedoria e santidade – a considerar as coisas sem perder de vista o essencial, e a ter confiança.
E por fim, contemplando o mistério deste Menino-Deus que nasce na pobreza, peçamos-lhe a graça de vivermos com dignidade a pobreza de todo ser humano, que deseja ser o homo deus, mas na verdade é o homo sapiens. Que sejamos felizes de verdade, sem querer tomar o lugar de Deus. Porque Jesus, sendo Deus, se fez homem para nos engrandecer com sua divindade.
Natal é momento de alegria e ação de graças. Deus sendo solidário conosco e vindo até nós, tornando-se um de nós, ensina-nos o caminho e o modo de superar todas as dificuldades: a solidariedade! Jesus na gruta de Belém, coloca as bases “subversivas” do cristianismo: justiça, fraternidade, liberdade e paz!
Mesmo em meio à decepção deste tempo de pandemia, temos motivos para soar os sinos de Natal! Feliz Natal a todos!
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