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Pais procuram polícia para denunciar ameaças dos filhos
Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
20/05/2012 | 07:00
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Medo e insegurança. Esses foram os sentimentos que abateram a diarista Rose (nome fictício), 42 anos, ao saber que a própria filha, de 12, planejava pedir a ajuda de ‘seus parceiros' para matá-la. Pior ainda foi a vendedora Mônica (nome fictício), 28, que acordou no meio de uma madrugada de março com o filho, 15, apontando um revólver para a sua cabeça.

Assim como elas, pais vêm procurando os DPs de Diadema para registrar ocorrências contra os próprios filhos. O motivo é o mesmo: ameaças de morte e, em casos mais extremos, agressões físicas. Não há um balanço oficial, mas a expectativa da Polícia Civil é de aproximadamente uma ocorrência do tipo por semana. Nenhuma outra cidade da região apresenta problema semelhante, segundo as autoridades responsáveis.

Sem a ameaça consumada, a responsabilidade deixa de ser policial torna-se do Conselho Tutelar da cidade. O órgão alega que não detectou aumento no número de atendimentos do gênero, e diz que encaminha os casos para a Vara da Infância e Juventude local. Na maioria das situações, os jovens levam apenas uma advertência.

"Os pais precisam fazer os acompanhamentos necessários na Vara e buscar mecanismos. O aumento da rebeldia é significativo", disse o professor Erivaldo Freitas, ex-presidente do Conselho diademense.

Em geral, os especialistas apontam o enfraquecimento da estrutura familiar como motivo para aumentar o desrespeito dentro de casa. Em todos os casos vistos pelo Diário, há a ausência da figura paterna, o que força as mães a trabalharem o dia inteiro e, desta forma, deixar o caminho livre para as más amizades.

"Há uma enorme distância entre pais e filhos. Eles ficam muito tempo fora de casa e chegam cansados. Com isso, os jovens são obrigados a se relacionar com um mundo que não é acolhedor e precisa da violência para sobreviver. Há uma grande carência afetiva", disse o psicólogo Miguel Peroso, especialista em atendimentos de adolescentes.

A falta de uma figura familiar em meio a problemas diários pode causar desgaste e fazer com que surjam outras pessoas como referência na vida dos adolescentes. "Há jovens que possuem um nível de insegurança muito grande. E já manifestam isso de alguma forma. Chegar ao ponto de ameaçar os pais pode ser produto de todo o desenvolvimento dele", explicou a psicopedagoga Camila Campos.

Por ficar fora de casa, a recepcionista Viviane (nome fictício), 36, não percebeu os sinais. Seu filho, de 16, mudou ao entrar na escola, no bairro Jardim Inamar. Passou a desrespeitar a mãe publicamente. No início do ano, ela viu um bilhete à namorada. Dizia que os ‘manos' iam dar um jeito nela. "Gostaria de ter mais tempo com ele, mas preciso pôr dinheiro em casa", disse. "Procurei a polícia para minha própria segurança. Dói falar isso. Mas dói mais ainda não confiar no próprio filho", completou.

É melhor conversar do que buscar registro policial

Em todo caso envolvendo menor de idade, desde que não seja crime flagrado, a Polícia Civil é obrigada a acionar o Conselho Tutelar. Por isso, a atuação é restrita à denúncia. Além disso, especialistas desaconselham os pais que sofrem do problema a procurarem uma delegacia como forma de solução para a crise.

"Ir até a polícia é assinar o atestado de incompetência como pai ou mãe", sacramentou Miguel Perosa. "Tem que, permanentemente, mostrar que entende o que está se passando na vida dele. Se o filho se sente aconselhado, abrirá o caminho para um melhor relacionamento."

Rose (nome fictício) alega que procurou a delegacia ‘para ter uma garantia'. A diarista chegou a deixar a filha morando com um casal de amigos em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. "Quando fui buscá-la, eles me agrediram." O registro só piorou as coisas. "Ela disse no Conselho que eu a agredia. Passei a ser a culpa da. Depois, achou que poderia fazer qualquer coisa porque era uma criança ainda", afirmou.

A ajuda veio do ex-presidente do Conselho Tutelar de Diadema, Erivaldo Freitas, que foi pessoalmente na casa de Rose, conversou com as duas e conseguiu a reconciliação. "Viviam na mesma casa, mas distantes uma da outra. Não há fórmula pronta. Cada caso é um caso", completou.

Foi o único final feliz entre as mães ouvidas pelo Diário. Embora não critiquem o Conselho, a maioria das mães não vê solução. "Uma arma! Não há conversa que justifica isso. Eu só posso dizer que desisti. Nem pai ele tem para ficar", disse Mônica.

Informados, jovens tendem a questionar

Na opinião dos especialistas, os pais devem impor limites aos adolescentes ao mesmo tempo em que respeitem a liberdade conquistada pela nova geração, mais propensa ao questionamento devido ao acesso maior às informações adquiridas com a inclusão digital.

"A rebeldia aumentou, mas também aumentaram a introdução ao crime e a evasão escolar", apontou Erivaldo Freitas. O problema maior, admitem, são as drogas. O Conselho Tutelar de Diadema aponta que a maioria dos conflitos familiares envolve o vício em entorpecentes. Por isso, a cidade conta com o Comad (Conselho Municipal Antidrogas).

"Esconder as coisas dos adolescentes é um erro grotesco. É preciso sentar e explicar cada um dos problemas, abrir uma negociação, dosar essa liberdade", completou Freitas.

"Nunca deve haver intolerância em relação à liberdade individual do jovem. As gerações mudam. Esta tem uma consciência política, é culturalmente capaz de questionar valores", afirmou o psicólogo Miguel Perosa.

Por isso, sentar e conversar é visto como o melhor remédio. "Eles acabam abertos ao diálogo. Basta estabelecer os limites", disse a psicopedagoga Camila Campos.




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