Política Titulo Politização do caso
Atrasar vacinação poderá levar SUS ao colapso, diz William Dib

Ex-diretor da Anvisa e ex-prefeito de São Bernardo critica falta de planejamento do Ministério da Saúde para imunizar população contra a Covid

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
13/12/2020 | 00:15
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Montagem/DGABC


Ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e ex-prefeito de São Bernardo, William Dib vê com preocupação a politização em torno da vacinação da população brasileira contra a Covid-19. Para Dib, a demora para a imunização pode levar ao colapso do SUS (Sistema Único de Saúde).

Em entrevista ao Diário, Dib fez críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e até mesmo ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por tentar capitalizar politicamente em cima de um assunto de saúde pública. E toda essa briga tem causado reflexos na classe médica e, por consequência, na população, para Dib.

“Não temos ainda um planejamento. O sistema de saúde do Brasil está mostrando fadiga. Tem aumento no número de casos de novo, o que provoca novos sinais de fadiga, de falta de capacidade de repor recursos humanos. A vacinação vai exigir também uma estruturação grande. Vai ter de tirar gente que faz atendimento para fazer a vacinação. Não temos equipe de vacinação e outra de atendimento”, citou. “Eu não tenho os números oficiais de mortes de profissionais de saúde, mas é volume grande de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem. Fora o estresse de trabalhar nessas condições.”

Prefeito de São Bernardo entre 2002 e 2008, Dib foi presidente da Anvisa entre 2018 e 2019. Chegou à agência sob indicação do ex-presidente Michel Temer (MDB). Em seu mandato, teve inúmeros embates com Bolsonaro, o principal deles sobre avanço na discussão sobre cultivo e registro da Cannabis para uso medicinal – a substância é encontrada na maconha.

A despeito do desalinhamento político com Bolsonaro, Dib declarou ver com muita preocupação a falta de planejamento da gestão sobre a vacinação. “Os países que estão passando por pandemia igual ou menos grave que o Brasil têm proposta de logística, de vacinação, contratos assinados. O Brasil insiste em não se organizar por causa de aparentemente discussão política ideológica”, lamentou. “O ministério deveria estar atuando e não está. Apesar de eu ser médico, da carreira, não acho que precisa ser médico para ser ministro da Saúde. O problema, na minha opinião em relação ao general, é que ele montou equipe de não profissionais de saúde. Não é só ele que não é médico, a equipe também. É muito complicado.”

A tensão política em torno da vacina se elevou na semana passada, quando Doria anunciou plano para iniciar a vacinação, com a Coronavac, da população a partir do dia 25 de janeiro, data do aniversário de São Paulo. A Coronavac é produzida pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, mas ainda não recebeu aval da Anvisa. Pazuello chegou a dizer que levaria 60 dias, no mínimo, para que todo procedimento de avaliação do imunizante fosse percorrido. Recuou depois de forte reação da opinião pública. Depois disso, a Anvisa liberou pedido de uso emergencial de vacinas – não apenas a Coronavac.

“Os dois lados estão fazendo política. É ruim. De um lado o governador assume papel de que ele está fazendo tudo. Do outro, o presidente se omite, que não coordena. E um ministro obedece ao que o presidente fala. Você imagina como se sente a população que vê na vacina a esperança de ter emprego, economia, circular as pessoas, as pessoas poderem conviver?”, questionou Dib, que diz ter esperança que a Anvisa esteja blindada contra essa guerra política. “Todas as decisões da Anvisa foram baseadas nos aspectos técnicos. Apesar de não estar mais lá, não fazer parte, vejo o problema hoje não está na Anvisa”, citou. “Precisaremos de operação de guerra para vacinar todo mundo. Precisaremos vacinar 200 milhões de pessoas, e não podemos achar que será a vacinação do estilo do Zé Gotinha. Se estão achando isso... e são duas doses. Na teoria, 400 milhões de doses. Se aplicar 1 milhão de vacinas por dia, levaremos mais de um ano. Ninguém vai parar para fazer conta?” 




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