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Cadeirante vence em estreia na urna para ser vereador em Santo André

Samuel Dias presidia time de futebol da várzea e credita vitória à mão divina: ‘Não tem explicação’

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
12/12/2020 | 00:52
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DGABC


Eleito vereador em Santo André logo em sua estreia na disputa à Câmara, Samuel Dias (PDT), 55 anos, admitiu que durante o processo eleitoral desconfiava do próprio resultado nas urnas. “Era a primeira vez. Não sabia se teria um, dez ou 100 votos”, alegou. Cadeirante e presidente há 24 anos do Flamenguinho – clube de várzea da cidade –, ele registrou 2.635 votos. “Fazemos trabalho social, de escolinha (de futebol). Já ajudei políticos em outras caminhadas, mas nunca tinha colocado a cara. Acredito que eu ter sido eleito é mão divina. Não tem explicação.”

A votação de Samuel deixou para trás o parlamentar e correligionário Zezão Mendes, coincidentemente também dirigente de time da várzea, no caso o Guaraciaba, que teve 80 votos a menos e ficou fora da próxima legislatura. “Zezão é amigo, da bola, da várzea. Adversário só dentro de campo”, disse, ao acrescentar que o clube, hoje já afastado do comando, atua junto a uma ONG para dar assistência a 180 crianças. “Exigência é que eles mantenham estudo. Nunca fizemos pensando em política. Já tinha recusado vários convites. O trabalho lá é formar cidadãos. Tem moleque com 18 anos que está no Palmeiras, outros na Tailândia.”

Samuel jogou na base do Santo André e em times do Sul de Minas Gerais. A entrada dele na direção do Flamenguinho se iniciou após acidente sofrido há quase 27 anos, exatamente em janeiro de 1994, quando tinha 28. Ele e amigos fretaram ônibus para viagem ao Paraguai e no percurso de volta o veículo bateu de frente com uma carreta – 12 pessoas morreram. “Acidente foi grave, mas não tenho recordação (do momento). Só recorte de jornal. Foram 27 dias em coma, quatro meses internado e três anos sem conseguir mexer do pescoço para baixo. Fiquei todo esse período (três anos) revoltado, não queria ver ninguém.”

O pedetista frisou que teve melhora a partir de trabalho de reabilitação física e psicológica na Casa da Esperança, em Santo André. Cerca de oito meses de tratamento para percepção de avanço efetivo. “Movimentei as mãos e o pescoço. Comecei a dar palestra lá dentro, vi muitas coisas, crianças que não viveram nada, em estado irreversível. Com isso, não que tenha aceitado naquela ocasião, mas fui me adaptando.” Somente depois deste intervalo é que Samuel voltou a frequentar o Flamenguinho, vizinho da residência de sua mãe, que mora no Jardim Alzira Franco. “Jogava (no clube), mas não fazia parte da minha vida. (Local) Estava largado, com ocupações (de moradias). Resolvi participar ativamente (da retomada).”

O agora parlamentar eleito pontuou que sua principal bandeira será a questão da acessibilidade, incluindo a própria Câmara, além de esporte e saúde. “Pretendo agir, por exemplo, para que tenhamos uma oficina de cadeira de rodas na cidade. Não há fábrica de conserto, atualmente, no Grande ABC. Quero também mapear praças e parques sobre acesso a atividades físicas.” Não esqueceu, contudo, de promessa do governo Paulo Serra (PSDB), do qual ficará na base, para reforma e gramado sintético no Flamenguinho. “Acredito que no ano que vem seja o primeiro a entrar (no pacote). Indiretamente nunca vou estar longe.”

Pedrinho garante prédio adaptado, mas cita ampliar acessibilidade

Presidente da Câmara de Santo André e cotado a ser reconduzido ao posto, Pedrinho Botaro (PSDB) assegurou que o prédio legislativo está adaptado para cadeirantes e que os principais mecanismos de acesso estão em funcionamento – desde banheiro a elevador do térreo para o primeiro andar, bem como o equipamento dentro do plenário, que leva a pessoa até a mesa diretora. O tucano reconheceu que em diversas oportunidades no passado o aparelho de locomoção se encontrava quebrado, o que provocava medidas de improviso com público cadeirante que visitava o espaço.

“Há, atualmente, contrato vigente para manutenção constante nos elevadores. São três no total, sendo dois para cadeirantes. Tem banheiro adaptado. Para pessoas cadeirantes não têm dificuldade para acesso. Quando eu assumi bati nesta questão, até porque, tenho funcionário que é cadeirante. No início do mandato teve ocasião em que foi preciso levá-lo no colo (ao piso superior), porque o equipamento não estava funcionando”, disse o tucano. Há informações que a casa deve estudar meios para ajustar a altura da mesa diretora. Espaço é tombado como patrimônio histórico. Cadeirante, o vereador eleito Samuel Dias tende a utilizar o gabinete número seis, em tese, menos apertado.

Pedrinho adiantou que há proposta em andamento para ampliar a acessibilidade, incluindo adaptação para cegos e surdos. “Iniciamos contratação de empresa especializada para elaborar projeto visando tornar a Câmara mais acessível, principalmente ao deficiente visual. Hoje não tem piso tátil e não há sinalização no corrimão em Braile, assim como totens com desenho do layout do espaço todo, como existe no (equipamento) Reabilita. A ideia é finalizar com contratação de serviço de Libras para tradução das sessões ordinária, extra e solene, além de atender população no balcão, com funcionário à disposição para fazer interpretação em qualquer gabinete.”




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