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Na região, falta de insumos afeta ritmo de produção das montadoras

Volks cogita parada de um dia; Mercedes e GM
já cancelam jornadas extras aos fins de semana

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
10/12/2020 | 00:06
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Denis Maciel/DGABC


A retomada da demanda por veículos neste fim de ano, após represamento causado pela pandemia do novo coronavírus, fez com que a cadeia de autopeças encontrasse dificuldades no fornecimento, diante da falta de insumos. Neste cenário, montadoras do Grande ABC não descartam parar a produção por um dia e cancelam jornadas extras previstas aos fins de semana.

É o caso da Volkswagen, que tem planta em São Bernardo. Ontem, em live transmitida à imprensa, o presidente e CEO na América Latina, Pablo Di Si, admitiu que é possível haver um dia de parada, e essa situação da ausência de matéria-prima, embora seja pontual, deve se estender por mais 30 ou 40 dias.

“Há cerca de um mês eu já antecipei esse problema na cadeia de valor. Na verdade, achava que isso ocorreria entre julho e julho, quando a indústria automotiva retomou as atividades. Isso porque a pandemia foi muito forte entre março e maio. Mas a cadeia respondeu muito bem”, contextualizou Di Si. “Agora temos vários fatores ao mesmo tempo. Mercados brasileiro e argentino se recuperando, o mercado chinês muito forte, e, com isso, há muita demanda. O problema não é só de fornecedores do Brasil, é um tema da cadeia global, da Ásia, América Latina e Europa também. E, na minha visão, continuaremos com problemas pontuais, alguns carros incompletos, algum dia de parada na indústria em dezembro e janeiro, até que a cadeia de valor, que é muito longa, se estabilize. Mas são coisas pontuais que já vivemos no passado e acho que são normais, e que vamos ter de conviver pelos próximos 30 a 40 dias.”

Na mesma cidade, a Mercedes-Benz reconhece que existe desafio momentâneo no abastecimento de peças e que, por enquanto, foram canceladas duas jornadas adicionais aos sábados, mas durante a semana ainda não parou. “Por conta da pandemia, todo o setor automotivo ficou parado por pelo menos dois meses (abril e maio) sem produzir, e isso não se recupera de uma hora para outra. Hoje, já estamos voltando à normalidade, mas ainda há modelos específicos que requerem prazos mais longos para entregar a customização do produto. Além disso, insumos e componentes ainda não chegam às fábricas no mesmo ritmo de antes da pandemia – sobretudo itens importados. Com a rápida volta da demanda para caminhões, alguns fornecedores ainda não se ajustaram e, somado à alta do preço de componentes, como aço, pneus etc, há grande desafio momentâneo”, assinalou, em nota.

A GM também cancelou sábado extra no fim de novembro. “Devido aos impactos da pandemia, nossa cadeia de fornecedores ainda encontra dificuldade em atender à nossa demanda”, explicou a fabricante aos trabalhadores em São Caetano. Procurada pelo Diário, a GM disse que não iria comentar. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, afirmou que, por ora, não há previsão de parada por esse motivo. “O que houve foi que perdemos a oportunidade de compensar o fim do ano, em virtude da falta de peças”, disse, referindo-se ao fato de que o chão de fábrica da montadora não terá férias coletivas neste ano. Inclusive, o assunto foi alvo de fake news, uma vez que circulou nas redes sociais que haveria férias coletivas dos dias 18 de dezembro a 4 de janeiro. “O que existe é o recesso dos mensalistas, dos dias 21 a 4. Por enquanto, continuamos na mesma situação, e dificilmente haverá tempo hábil para revertê-la. Até porque a comunicação ao Ministério do Trabalho deve ser feita 15 dias antes.”

A Toyota, em São Bernardo, confirmou que vem enfrentando dificuldades para garantir matéria-prima para produção de seus veículos. “Esse é um problema real, que toda a indústria está enfrentando e não só no Brasil, afinal, por conta da segunda onda de Covid-19 no mundo, alguns componentes importados também não estão chegando ao nosso País”, explicou, ao complementar que trabalha próxima de seus fornecedores na busca por soluções conjuntas.


Alta do dólar pressiona custos de veículos em 2021

A escalada do dólar (ontem R$ 5,17) vem pressionando os preços dos insumos, como o aço. E, neste cenário, a fim de reduzir a dependência cambial, a Volkswagen planeja ampliar a nacionalização de peças em dois ou três anos.

“Esta é uma luta diária. Temos várias conversas com os fornecedores para tentar conter os custos. Muitos deles são commodities, então o preço é mundial. Mas temos projeto, há mais de dois anos, de nacionalizar mais peças no Brasil e na Argentina, onde temos o Nivus (produzido em São Bernardo) e o Taos (SUV que começou a ser produzido no início do mês na Argentina). E eliminamos essa dependência cambial. São projetos de cinco anos ou mais. Vamos acelerar esse processo nos próximos dois ou três anos”, afirmou o presidente e CEO da Volkswagen na América Latina, Pablo Di Si.

O executivo ponderou também que, enquanto isso não ocorre, os custos aumentam, e isso deverá se refletir nos preços dos veículos nas concessionárias. Dessa forma, o crescimento do mercado em 2021 poderá ser limitado. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) estima que serão comercializados no País 2,4 milhões de veículos no ano que vem, projeção que Di Si considera “superotimista”. “Acredito que ficaremos entre 2,3 milhões e 2,4 milhões, porque temos pressão de custos muito grande, e haverá impactos.”

Di Si assinalou ainda, sem detalhar, que neste ano foram descongelados projetos, como o Taos, e que há investimentos em vista em 2021.

(Colaborou Yara Ferraz) 




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