Desde 2013, a bolsa de valores brasileira não via um IPO (Initial Public Offering ou oferta pública inicial de ações, na tradução para o português) tão robusto. Ao precificar suas ações em R$ 57,92, o grupo hospitalar Rede D’Or realizou a terceira maior abertura de capital da história da B3, ao movimentar R$ 11,39 bilhões. Fica atrás apenas da estreia da BB Seguridade, há sete anos, com R$ 11,47 bilhões, e do Santander Brasil, em 2009, com R$ 13,2 bilhões.

Ao emitir 196,6 milhões em ações, sendo 145,6 milhões no lote principal mais dois lotes adicionais de 29 milhões e 21 milhões, respectivamente, a companhia atinge valor de mercado de R$ 113,8 bilhões. Dessa forma, ela debuta na bolsa de valores, o que é aguardado para amanhã, às 10h, como uma das dez maiores empresas de capital aberto, à frente de veteranas do seu setor, como a Hapvida, avaliada em R$ 50 bilhões e a NotreDame Intermédica, em R$ 43 bilhões.

“Hoje (ontem) a Rede D’Or precificou seu ativo e definiu o valor da ação em R$ 57,92, dentro da faixa esperada de R$ 48,91 e R$ 64,35. Acionistas primários, entre pessoas físicas e fundos de investimento, que já haviam feito reserva até o dia 4, devido à alta procura, puderam comprar as ações. E, a partir de quinta (amanhã), a empresa vai à bolsa para participar de seu primeiro pregão, e quem quiser pode vendê-las”, explica o economista da Messem Investimentos Gustavo Bertotti.

Segundo análise da Eleven Financial, apesar de o valor inicial das ações ser de R$ 57,92, há chances de chegar a R$ 81 no médio prazo, no que o mercado chama de valor alvo. Caso isso se concretize, Bertotti estima que o grupo pode obter valorização de 39,85%.

Um dos fatores que justificam a grande procura pelos papéis da Rede D’Or, maior grupo de hospitais privados do País criado do zero pelo cardiologista Jorge Moll Filho há cerca de 30 anos, hoje com 51 unidades e 7.000 leitos, é o fato de que a abertura de capital visa levantar recursos para expandir sua operação. “O setor da saúde está em evidência, por causa da pandemia do novo coronavírus, e em crescente demanda, portanto, é um segmento promissor, o que já gera grande procura no mercado financeiro. Além disso, como a captação é para investir, e não para pagar dívida, o interesse só aumenta”, assinala Bertotti.

NA REGIÃO

Do total de recursos obtidos na oferta primária, R$ 8,437 bilhões serão destinados às aquisições. Uma delas, inclusive, fica no Grande ABC e foi anunciada no mês passado. A rede, que possui seis hospitais na região, informou em comunicado ao mercado que celebrou contrato de aquisição do Hospital América, localizado na Vila Bocaina, em Mauá. O valor da transação, porém, não foi divulgado e a operação ainda está sujeita à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

Caso o Cade aprove a compra, realizada por meio de sua afiliada Hospitais Integrados da Gávea S.A. – Clínica São Vicente, a rede terá 1.191 leitos hospitalares e sete equipamentos em cinco das sete cidades (só ficam de fora, por ora, Diadema e Rio Grande da Serra).

O restante dos recursos obtidos com o IPO será usado para construir hospitais e expandir a operação existente.

A Rede D’Or iniciou sua presença no Grande ABC em 2010, quando realizou sua primeira aquisição, o Hospital Brasil, em Santo André. De lá para cá, já houve outras cinco compras de hospitais – Assunção (2011) e Ifor (2015), ambos em São Bernardo; Bartira (2015) em Santo André; Ribeirão Pires (2016), na cidade homônima; e a construção do Hospital São Luiz em São Caetano (2017).