Medida em estudo tem como foco ampliar as compras financiadas de automóveis
O governo federal estuda reduzir o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para financiamentos de veículos e ainda liberar parte do depósito compulsório - recursos dos bancos que têm de ficar retidos no Banco Central - para essas operações, a fim de ajudar a alavancar as vendas da indústria automobilística.
As medidas já foram discutidas entre representantes do Ministério da Fazenda e da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Agora, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, levará as propostas para os bancos privados e avaliará a receptividade. O diagnóstico é que as dificuldades colocadas pelas instituições financeiras para liberar financiamento para automóveis, em razão do elevado nível de inadimplência nesse segmento, são neste momento o principal entrave às vendas do setor.
Em março, a taxa de calote no pagamento desse tipo de operação atingiu o nível recorde de 5,7%, de acordo com dados do BC (Banco Central).
Mantega já determinou que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil aumentem o crédito para veículos, mas há uma avaliação de que sem Bradesco e Itaú ficará difícil dar fôlego a esse mercado. "São bancos que convivem mais com esse tipo de financiamento", argumentou uma fonte do setor.
COMPULSÓRIOS - Pela ideia em discussão, o Banco Central poderia reduzir em 0,5 a um ponto percentual o IOF para os financiamentos de carros e liberar parte dos depósitos compulsórios, desde que os recursos sejam destinados para crédito ao setor. Além disso, o BC flexibilizaria as normas que regulam os empréstimos para veículos.
Em novembro, a instituição já eliminou as restrições, colocadas no fim de 2010, para financiamentos em até 60 vezes. Entretanto, foi mantida a regra mais dura para financiamento acima de cinco anos. A exigência é que os bancos tenham capital 50% maior do que nas operações com até 60 prestações, ou seja, precisam ter mais dinheiro para fornecer o crédito com prazo maior.
REFLEXOS - Para o presidente do Sincodiv-SP (Sindicato das Concessionárias e Distribuidoras de Veículos no Estado de São Paulo), Octavio Vallejo, as medidas, se adotadas, devem ajudar a reaquecer o mercado, ao favorecer o aumento dos prazos e as vendas sem entrada.
No primeiro quadrimestre, o setor registra retração de 3,4% no volume comercializado (de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) na comparação com mesmo período de 2011. No entanto, há especialistas que divergem dessa avaliação. Para o consultor automotivo Ayrton Fontes, a principal barreira ao aumento das vendas não é a restrição do governo ao financiamento, mas a inadimplência. Os calotes fazem com que os bancos elevem os juros ao consumidor e dificultem a aprovação das fichas dos interessados em financiar a compra do carro zero.
QUINZENA - Na primeira quinzena deste mês, as vendas de veículos zero-quilômetro esboçaram reação. Com o total de 153.798 unidades vendidas, o segmento contabilizou expansão de 8,52% em relação à metade do início de abril e alta de 3,28% frente a maio de 2011.
Vallejo avalia que o ritmo mais otimista está relacionado às promoções de montadoras e concessionárias. O gerente de loja da Chevrolet em Santo André, Cristian Buttner, cita que, graças à ação promocional (plano de 50% de entrada, mais 36 meses sem juros), houve forte crescimento das vendas neste mês. (com AE)
Inadimplência deve seguir em alta, aponta consultor
Levantamento realizado pelo consultor automotivo Ayrton Fontes aponta que a tendência é de que a inadimplência dos financiamentos para a compra de veículos cresça nos próximos meses. Com isso, o governo poderá ter dificuldade para melhorar suas ações de acesso ao crédito. A taxa de 5,7% de calotes no setor se refere a atrasos superiores a 90 dias. No entanto, no fim de abril, atrasos entre 15 e 90 dias tinham crescido 28% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com sondagem feita nos principais escritórios de cobrança contratados pelos bancos na Grande São Paulo. O levantamento aponta ainda que os consumidores da classe C, que financiaram os veículos em 60 meses sem entrada entre 2009 e 2011, são os que mais estão atrasando as contas.
A perspectiva, segundo o especialista, é de que o calote cresça mesmo diante da flexibilidade das cobranças por meio dos escritórios, que oferecem taxas de juros menores e ampliam o prazo para que o devedor consiga pagar .
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