Sábatha Laís, 31 anos, buscou no tatame ferramentas para enfrentar e superar trauma
Segundo dados do relógio da violência do Instituto Maria da Penha, a cada 1,5 segundo uma mulher é vítima de assédio no Brasil. Ou seja, enquanto você lia essa frase, quatro mulheres sofreram com esse tipo de violência no País. E esta foi a situação vivida pela são-bernardense Sábatha Laís dos Santos, 31 anos. Há dez anos, enquanto estava a caminho da faculdade, um motoqueiro parou perto dela e começou a fazer gestos obscenos . Sem reação, ela diz ter ficado “paralisada” em razão do medo. Buscou abrigo em um posto de gasolina, onde ficou por 40 minutos esperando o assediador ir embora. Foi ali que decidiu: precisava de uma mudança para não ser refém daquele tipo de situação. E encontrou o caminho no tatame.
“Antigamente eu não era muito ligada ao esporte, era preguiçosa. Mas a partir daquele momento (assédio), pensei: ‘poxa, eu poderia ter feito alguma coisa, mas o medo me travou’. Então, naquele momento eu procurei fazer algo que me trouxesse autoconfiança. Foi quando encontrei o jiu-jitsu. Me apaixonei, estou nele até hoje e fiz dele o meu sentido e sustento de vida”, conta Sábatha, que hoje é faixa preta, integra a equipe Ryan Gracie e participa pela primeira vez de uma etapa do Abu Dhabi Grand Slam Jiu-Jitsu, na Arena Carioca 1, no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, na categoria médio até 70 kg. Sua primeira luta está marcada para às 14h de hoje.
Dona de quatro títulos sul-americanos, aparece em quarto lugar no ranking brasileiro feminino kimono da CBJJ (Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu), atualizado em 28 de setembro. Revezando treinos e preparação física entre o Grande ABC e a Capital (na Gracie Morumbi Academy, com Juliano “Pedrita” e Alexandre “Mestrinho”), Sábatha conta que nesta temporada treinou três horas diárias em cinco dias da semana e, mesmo durante a pandemia, manteve os treinamentos em casa “para não perder o ritmo”. “A pandemia atrapalhou os atletas no geral, principalmente porque nós, profissionais, precisamos das competições para nos promovermos. É por meio das disputas que mostramos o nosso potencial e somos vistos, e com isso angariamos patrocínio. Com a pandemia perdemos muito nesse quesito da visibilidade”, explica. Ainda assim, se orgulha em ser a única mulher na categoria adulto da equipe Ryan Gracie. “Sinto-me muito lisonjeada em fazer parte do time da família Gracie”, comenta.
Sobre esta etapa do Abu Dhabi Grand Slam Jiu-Jitsu, Sábatha Laís indica que terá pela frente adversárias bastante qualificadas – cada luta terá duração máxima de cinco minutos e, caso não haja finalização de alguns dos oponentes, caberá ao árbitro a definição do vencedor. “As chaves de lutas foram sorteadas e divulgadas, e disputarei com meninas altamente qualificadas. Cada luta será um desafio extremo, exigindo muita técnica, fôlego e concentração em cada golpe”, explica ela, que, caso seja campeã, embolsa US$ 5.000 como prêmio.
Além disso, voltar a participar de uma competição presencial, na opinião da são-bernardense, já é uma vitória para ela e todos os que estarão na Arena Carioca 1 neste fim de semana (cerca de 1.000 lutadores). “Na atual circunstância (sem disputas), participar deste evento trará um marco importante para os participantes, que estão ávidos por lutas e vitórias. Todos passaram meses treinando, dedicando-se e aguardando a hora de entrar no tatame. Por isso, acredito que todas as lutas serão extremamente acirradas, com as atletas na sua melhor forma”, afirma. O objetivo de Sábatha está claro: evoluir para o MMA (da sigla, em inglês, artes marciais mistas). “Sonho em poder entrar no octógono representando minha região”, conclui a lutadora são-bernardense.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.