Tirinhas podem ser vistas apenas como entretenimento, mas um bom autor é capaz de transformá-las em mistura de diversão e reflexão. É o caso do cartunista Walmir Americo Orlandeli, responsável pela coletânea (Sic) (Editora Conrad, R$ 19,90, 72 páginas).

Ao contrário do que se possa imaginar de uma tira de jornal, o trabalho de Orlandeli é maior (fisicamente falando) e mais trabalhado. O estilo lembra, em muito, as histórias em quadrinhos convencionais, com pequenos contos em cada nova edição.

Os diversos e engraçados personagens passam por diferentes situações. É possível encontrar o sensível açougueiro apaixonado pela cliente, o homem sem autoestima que comete loucura ao pedir que a companheira o ame, um marido que precisa inventar desculpa para que a mulher não saiba de sua mania de vestir-se com roupas femininas e o rapaz que não acredita ter sido adotado pelos pais apesar das visíveis diferenças entre eles.

Os temas são variados e parecem não seguir cronograma algum. A criatividade de Orlandeli transporta o leitor para um universo no qual pensamentos vagos sobre o mundo e a vida se misturam com piadas absurdas e criativas. A falta de cores ajuda a deixar de lado o clima infantil.

As tiras foram veiculadas aos domingos em jornal da cidade de São José do Rio Preto e ganham livro especial que reúnem as obras que merecem destaque.

"São histórias que conservam o molde da tira, mas apresentam ao leitor temas livres, marcados pela experimentação gráfica, sem a piada final", explica o jornalista Paulo Ramos, de São Caetano, ao assinar a introdução.

O dom de fazer da tragédia e das experiências diárias das pessoas fonte de inspiração para seu trabalho não é tarefa fácil. É preciso ter sutileza para que o cômico não se torne desrespeitoso e Orlandeli encontra o ponto certo com (Sic).