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Evo Morales volta à Bolívia e diz que será 'líder sindical'

Aos 61 anos, ele retornou ao país um dia depois da posse de seu herdeiro político, Luis Arce, e horas antes de se completar um ano do dia de sua renúncia

10/11/2020 | 07:25
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O ex-presidente Evo Morales cruzou nesta segunda-feira, 9, a fronteira argentina por terra e entrou na Bolívia, quase um ano após sua renúncia e um exílio na Argentina. Aos 61 anos, ele retornou ao país um dia depois da posse de seu herdeiro político, Luis Arce, e horas antes de se completar um ano do dia de sua renúncia.

Evo disse que continuará no país como líder sindical. "Vou compartilhar minha experiência nas lutas sindicais, porque a luta continua", disse, ao cruzar a fronteira. "Enquanto o capitalismo existir, a luta do povo continuará, estou convencido disso."

Nas primeiras entrevistas que concedeu após ser eleito, Arce disse que sua gestão não seria "um governo de Evo Morales" e o ex-presidente não teria um cargo. Evo, no entanto, continua sendo a maior liderança do Movimento ao Socialismo (MAS) e coordenou a campanha de Arce da Argentina. Nenhum dos líderes do MAS foi saudá-lo na fronteira. Arce e seu vice, David Choquehuanca, ambos ex-ministros do governo de Evo, não o mencionaram em seus discursos de posse, no domingo.

"Não tinha dúvidas de que voltaria, mas não sabia que seria tão cedo", declarou Evo, em La Quiaca, cidade localizada na província argentina de Jujuy, minutos antes de entrar na Bolívia, acompanhado pelo presidente argentino, Alberto Fernández. "Parte da minha vida fica na Argentina, onde passei 11 meses", afirmou. Evo agradeceu a Fernández que, segundo ele, "salvou sua vida".

Da cidade fronteiriça de Villazón, Evo vai liderar uma caravana que percorrerá 1,1 mil quilômetros até Cochabamba, região plantadora de coca, onde fez carreira política. "Esse é um retorno triunfal", disse Huelvi Mamani, um dos encarregados da segurança do evento de boas-vindas, em Villazón. "Esperamos milhares de pessoas. Em Villazón, somos quase 50 mil habitantes", disse.

Apesar do vento gelado em Villazón, centenas de pessoas, muitos indígenas, esperaram por Evo desde a madrugada, vestidos com seus típicos trajes coloridos, agitando cartazes e muitas bandeiras, especialmente a wiphala, consagrada como símbolo oficial da Bolívia durante a gestão do ex-presidente.

Entre os moradores havia gente satisfeita e outras nem tanto. "Estamos felizes. Ele é como nosso pai, o pai de toda essa gente humilde", comentou Alejandra Choque, dona de casa de 56 anos. Muitos, porém, não alteraram a rotina. "Tenho de abrir meu negócio. A pandemia e o fechamento das fronteiras estão me matando. Não posso ir ver o Evo, ele não vai me dar dinheiro", disse Miriam Franco, açougueira de 49 anos.

A caravana de Evo passou ontem por várias cidades do sul da Bolívia, no Departamento de Potosí. Hoje, cruzará Orinoca (Departamento de Oruro) e terminará amanhã em Chimoré, em Cochabamba. A ideia é chegar no local no mesmo dia em que deixou o país um ano atrás. Foi em Cochabamba que Evo surgiu como líder dos cocaleiros, na década de 80. Nas áreas rurais, há muitos grafites com a frase "Volte, Evo" nas fachadas das casas de tijolos e adobe.

A Bolívia é um dos países da América Latina com a maior população indígena - 41% dos 11,5 milhões de habitantes. Desses, 35% vivem na pobreza, e 13%, na pobreza extrema. Em um contexto agravado pela pandemia, muitos querem que se repita o "milagre econômico" de Evo, quando Arce era ministro da Economia, com alto crescimento e redução da pobreza (de 60% para 37,2%).

Para Marcelo Silva, o cientista político da Universidade de San Andrés, em La Paz, por controlar o MAS, Evo tem mecanismos para pressionar o governo de Arce por suas demandas. "Arce está tentando uma separação nítida entre seu governo e seu partido político, mas é impossível dissociar as ações do líder do partido (Evo) no poder das ações do chefe de governo." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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