Ministério da Saúde comprou 3,9 milhões de doses e só distribuiu 8%; prejuízo estimado é de R$ 11 mi
Milhares de tubetes de insulina análoga de ação rápida para tratamento de pacientes com diabete tipo 1 podem ter como destino o lixo, denuncia a ADJ (Associação de Diabetes Juvenil) Brasil. Segundo a organização, o Ministério da Saúde adquiriu, em 2018, 3,9 milhões tubetes de 3 ml para atender à demanda de 396 mil portadoras da doença, mas até setembro só 330 mil (8,3%) foram consumidos, por 43.762 mil brasileiros.
A ADJ teme que até 1,4 milhão de tubetes, com vencimento em junho de 2021, não cheguem aos pacientes e percam a validade. Segundo Vanessa Pirolo, coordenadora da associação, uma das causas de os medicamentos estarem parados é o fato de serem disponibilizados na atenção especializada do SUS (Sistema Único de Saúde) e não na atenção básica, dificultando o acesso, já que existe burocracia para retirada dos remédios. O investimento feito pelo Ministério da Saúde foi de R$ 50,2 milhões na compra de 3.959.455 tubetes (R$ 12,70 a unidade), fornecidos pela farmacêutica Novo Nordisk. Caso os tubetes percam a validade, o prejuízo é estimado em R$ 11 milhões.
O material é enviado pela União aos Estados, que fazem o repasse aos municípios. No Grande ABC, o medicamento pode ser encontrado na farmácia do Hospital Mário Covas, em Santo André. Procurada pelo Diário, a Secretaria de Saúde de São Paulo informou que “a responsabilidade da aquisição e distribuição da insulina análoga é do Ministério da Saúde”. A pasta ressaltou que também compete ao governo federal providenciar o recolhimento de eventuais produtos próximos ao vencimento. Procurado, o Ministério da Saúde não retornou.
Coordenadora do departamento de saúde pública, epidemiologia e economia em saúde da Sociedade Brasileira de Diabetes, Karla Melo explica que uma das medidas que podem ser tomadas para facilitar a distribuição é acabar com a burocracia. “São vários documentos do paciente, além de relatório médico e receita. Este excesso de burocracia tem dificultado a dispensação da insulina análoga para os pacientes”, comenta.
A especialista acredita que a insulina análoga de ação rápida podia ser fornecida na atenção básica, como acontece com a insulina humana regular e a NPH, que tem ação intermediária entre a rápida e a convencional. “Temos UBSs (Unidades Básicas de Saúde) em todas as regiões e o acesso do paciente para receber insulina rápida seria mais fácil”, explica Karla.
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