Política Titulo Eleições
Postulantes com patentes triplicam na região

Em 2016, 18 usaram cargos no nome de urna; após vitória de Bolsonaro, volume atinge 49 candidatos

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
10/10/2020 | 23:27
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Fernando Frazão/Agência Brasil


A vitória do capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (sem partido) na corrida à Presidência da República, com o general Hamilton Mourão (PRTB) como vice, motivou candidatos no Grande ABC neste ano. Tanto que triplicou o número de postulantes que ostentam as patentes em nomes de urna na comparação com o pleito de 2016.
Há quatro anos – antes, portanto, do êxito de Bolsonaro e do triunfo, nas mais variadas esferas de poder, de pessoas oriundas das polícias ou Forças Armadas – 18 apostaram no vínculo. Agora, são 49, conforme identificou o Diário junto ao sistema de registro de candidaturas.

A maioria dos candidatos disputa vagas para o Legislativo – 44 ao todo –, mas há pleiteantes na corrida majoritária, seja como o nome que encabeça a chapa, como é o caso do vereador Sargento Lobo (Patriota), em Santo André, ou do policial federal Mauro Roman (PRTB), em Mauá. Entre os postulantes a vice-prefeito estão o Sargento Borges (PTC), número dois de Denise Ventrici (PRTB), em Diadema, e Major Carota (PSB), aliado de Marcos Michels (PSB), também em Diadema. Em Mauá, Tenente Mesquita (PSL) é o vice de Professor Betinho (PSL).

Especialista em marketing político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Gondo vê associação direta entre o fenômeno Bolsonaro com o aumento dos candidatos de patente. “É a ideia da militarização da política dentro do universo democrático. São candidatos que estão apostando nessa onda presidencial, nessa posição do bolsonarismo e tentam, obviamente, angariar votos.”

No Grande ABC, São Caetano é a cidade que mais recebeu candidaturas utilizando patentes e cargos ligados à ala militar. Entre tenentes, cabos e GCMs (Guardas-Civis Municipal), 13 postulantes decidiram utilizar o título como nome de urna. Avante e PTB mantêm o maior número de candidatos militares, com três cada partido. Já em 2016, por exemplo, esse número era apenas metade, pois somente sete candidatos utilizaram a patente como nome de urna. Coincidentemente, São Caetano é cidade que mais depositou votos em Bolsonaro na região na eleição de 2018, com apoio de 75% do eleitorado.

Mauá aparece em segundo lugar, com 11 candidaturas ostentando patentes para a eleição deste ano. Em 2016, a cidade teve apenas duas candidaturas ligadas aos setores militares, com Sargento Simões (Podemos), que à época obteve 1.952 votos, e Coronel Barthasar (ex-PSD, atual DEM) e que disputou o pleito como candidato a vice-prefeito na chapa com Márcio Chaves (PSD). Os dois estão de volta neste ano, concorrendo a cadeiras na Câmara mauaense.

Em Santo André, nove candidatos aparecem com suas patentes nas urnas. Vereador em busca da reeleição, Edson Sardano (PSD) voltou a utilizar a nomenclatura ‘coronel’ nesta eleição. Em 2016, ele evitou o termo sob alegação de que o ambiente eleitoral não estava propício à época.

“Não devia ter retirado a patente naquela ocasião, mas achei melhor porque a eleição (naquele ano) foi muito acirrada, com a questão de polaridade. Acredito que esteja mais tranquilo, por isso, voltei a utilizar. Mas, antes disso tudo, queria dizer que uso patente porque, afinal de contas, sou coronel da Polícia Militar”, afirmou. “E não acredito que usar patente pode trazer mais votos.”

Na eleição de 2016 em São Bernardo, apenas Delegado Kazu (Cidadania) disputou o pleito com nome ligado à ala policia. Na disputa, o candidato obteve só 433 votos. Neste ano, quatro candidatos tentam vaga como candidatos à vereança. Um deles, Investigador Nehemias (SD), por exemplo, disputou eleição passada sem o cargo de policial.

Ribeirão Pires, que em 2016 não recebeu nenhuma candidatura ligada aos militares, neste ano conta com cinco candidatos a vereadores. Diadema mantém quatro pleiteantes com patentes e Rio Grande da Serra apenas três.  




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