Quando as câmeras de televisão flagraram o goleiro Rogério Ceni ajoelhado, instantes antes de receber o prêmio como melhor jogador do Mundial, foi difícil imaginar o que se passava pela cabeça do jogador. Afinal de contas, o que mais poderia querer o ícone desse time do São Paulo e que assumiu, no coração dos torcedores, o lugar que em um passado recente pertenceu a Raí? Ele próprio tratou de definir o espírito do pós-conquista: “Isso aqui é um sonho. E mais do que eu mereço em minha vida. É demais para mim. Hoje acabou o ciclo. Hoje este grupo mostrou que é vencedor, e somos eternos”, definiu o capitão da equipe.
Eternizar-se como um dos maiores no Morumbi. Ter a foto do pôster do título emoldurada no CCT da Barra Funda. Ir ao Japão para erguer a taça mais cobiçada do São Paulo. Coisas que Rogério deve ter observado em 1993, quando ainda jovem atravessou o planeta ao lado de Raí, Cafu, Müller e Zetti – sua maior referência na profissão – e sentiu de perto o que o famoso Mundial de Tóquio representa para a torcida tricolor. No domingo ele estava em Yokohama. E reviveu toda a mágica de ser um campeão mundial. “Quero mandar um beijo para cada torcedor são-paulino. Hoje é um dia especial para cada torcedor do São Paulo”, mandou o seu recado lá do Japão.
Diante do embalado Liverpool, só não foi possível subir ao ataque para tentar anotar o 55º gol da carreira, e repetir o feito conquistado na quarta-feira, quando marcou de pênalti contra o Al Ittihad, na semifinal. Feito, inclusive, que deixou registrada outra importante marca na carreira: Rogério foi o primeiro goleiro a fazer gol em Mundiais organizados pela Fifa. O rival Chilavert, do paraguai, deixou o seu apenas em Eliminatórias.
Além de ser coroado como o melhor jogador do Mundial de Clubes da Fifa, ao superar o inglês Gerrard e o costarriquenho Bolaños (do Saprissa), segundo e terceiro, respectivamente, o arqueiro também levou para casa a chave do carro da empresa que patrocina o torneio – a Toyota, repetindo o que Raí e Toninho Cerezo conseguiram em 1992 e 1993.
Domingo, Ceni cumpriu seu verdadeiro papel: defender a equipe. Três lances decisivos no jogo. Uma cabeçada que ele tirou do canto esquerdo no reflexo, já que a bola cresceu apenas momentos antes de chegar à meta são-paulina. Um chute à queima-roupa desviado com a ponta dos dedos. E o mais espetacular de todos: uma cobrança de falta feita por aquele que acreditava ser “quase imbatível”. Quando o meio-campista Gerrard levou as mãos na cabeça, todos olharam admirados para o uniforme negro de letras brancas que pareciam profetizar o nome da partida: era o nome de Rogério Ceni que surgiu nas telas de televisão do mundo todo.
“Lembram tanto dos meus gols e às vezes esquecem que minha principal função é ficar embaixo das traves. É por esse trabalho que estou há tanto tempo no São Paulo”, lembrou o goleiro. Tempo suficiente para colocá-lo na história dos maiores do clube. Domingo, levantar o troféu de campeão teve um gostinho especial para Rogério Ceni. “Agora, isso não acaba, é eterno”. Como ele sempre quis que fosse.
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