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Os profetas
Dom Pedro Cipollini
16/08/2020 | 07:00
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 Na linguagem corrente profeta é quem adivinha o futuro. Na Bíblia, de acordo com o hebraico, designa um homem que fala abertamente para proclamar a vontade de Deus. Na língua grega quer dizer arauto, mensageiro.

Os profetas clamam por fidelidade aos desígnios de Deus e aos compromissos assumidos pelo povo diante de Deus. O que Deus quer? Quer um mundo de justiça e paz, onde não haja miseráveis e milionários, famintos e glutões, injustiçados e opressores. Enfim, Deus quer um mundo como ele projetou para o ser humano: Ele sendo Pai de todos e, todos vivendo como irmãos. É seu reino.

O profeta ensina que a salvação das almas está conectada com a salvação dos corpos: “Se eu tenho fome é um problema pessoal meu, mas se meu irmão tem fome é um problema espiritual meu”. Se for insensível à fome do irmão me afasto de Deus: “Tive fome, não me deste de comer, dirá o juiz” (cf. Mt 25).

Os profetas bíblicos se entregavam à missão sem interesses por honras e lucro. Esta missão tem duas faces: anunciar os desígnios de Deus e denunciar o que vai contra o plano de Deus, autor da vida e, portanto, tudo o que gera morte. Muitos profetas, por denunciarem pessoas e instituições injustas morrem de forma trágica. Despertam o ódio dos poderosos que vivem da maldade, exploração dos mais fracos e pobres. Enfrentam situações conflitivas. São acusados de traidores e muitas outras coisas, visando desmoralizá-los e eliminá-los.

Jesus herdou a tradição profética, situou-se na perspectiva de entrega à missão profética (cf. Lc 4,24). Ele proclama uma mensagem de denúncia e libertação do pecado em suas várias formas. Após Jesus, seus seguidores levam avante sua missão profética de defesa dos direitos de Deus. Quais São? Deus tem direito a ver respeitada a sacralidade da vida humana porque só Ele é senhor da vida. E da natureza que Ele deixou para o homem administrar.

Ao longo da história da Igreja sempre existiram profetas que testemunharam, dando muitas vezes a própria vida. Aliás, a Igreja e os cristãos, pelo batismo recebido, devem ser profetas. Todo cristão deve conhecer, viver e anunciar o reino de Deus. Além de trabalhar, para não deixar os falsos profetas enganarem o povo e tirar vantagem de suas falsas profecias.

Nossa Igreja no Brasil sempre teve profetas, alguns dos quais se distinguiram. Entre eles cito Dom Helder Câmara, arcebispo de Recife, que no período da ditadura militar foi perseguido, humilhado e caluniado. Respondeu sempre com oração, bondade e inteligência: “Quando dou esmola aos pobres dizem que sou santo, quando denuncio as causas da pobreza dizem que sou comunista”.

Esta é a acusação por excelência, que os falsos profetas, falsos cristãos e pessoas de má-fé jogam sobre os profetas que Deus envia para anunciar seu reino, e denunciar as forças malignas de Satanás: mentira, ganância, exploração, falsidade e prepotência. É comunista, dizem dos cristãos, que, pela fé, profetizam, sem levar em conta que o comunista, de fato, não tem fé.

Este mês morreu mais um profeta da Igreja do Brasil: dom Pedro Casaldaliga. Defendeu fracos, pobres, posseiros, abandonados e índios, às margens do Rio Araguaia, sertão de Mato Grosso. Caluniado, perseguido e jurado de morte durante a ditadura militar, assim como dom Paulo Evaristo Arns e dom Moacyr Grechi. Este último, bispo no Acre, perseguido por denunciar o deputado que serrava ao meio seus desafetos.

Sempre é bom um alerta aos caluniadores e perseguidores de profetas: “Serão destruídos de maneira infame” (cf. Mt 21,41). A misteriosa justiça de Deus faz parte de sua misericórdia. Esta justiça tarda, mas não falta.




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