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Advogado vai pedir prisao de Naya outra vez
Do Diário do Grande ABC
17/01/1999 | 18:19
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O advogado Jorge Béja entra nesta segunda-feira na 20ª Vara Cível do Rio com um novo pedido de prisao contra o ex-deputado Sérgio Naya, por descumprimento de ordem judicial, baseado em entrevista exclusiva ao Estado publicada na ediçao deste domingo. Em fevereiro, Béja obteve liminar do juiz Rogério de Oliveira Souza determinando o depósito de 25% da renda do ex-deputado para o pagamento de indenizaçoes, mas até agora a decisao foi ignorada.

Na entrevista, Naya alega que nao pôde cumprir a ordem judicial por estar enfrentando problemas financeiros e culpa a Defesa Civil do município e os oito moradores mortos no desabamento do Palace 2, na Barra da Tijuca, zona oeste, pela tragédia. O edifício, que ruiu no dia 22 de fevereiro do ano passado, foi construído pela Construtora Sersan, do ex-deputado. Até hoje, 51 famílias vivem de improviso em um Hotel no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste, custeadas por Naya.

Será o terceiro pedido de prisao por desrespeito à ordem judicial impetrado por Béja contra o dono da Sersan - o primeiro foi feito em junho e o segundo, em agosto. Segundo Béja, o juiz da 20ª Vara apenas anexou-os ao processo. "Agora, porém, vou usar a matéria do jornal para reforçar o novo pedido de prisao", afirmou. Embora afirme estar "sem renda suficiente" para pagar as indenizaçoes, o ex-deputado nao quis revelar na entrevista o valor de seus bens no Brasil e nos Estados Unidos - onde possui, por exemplo, o conjunto Sandy Lanke Towers, composto por um apart-hotel e um prédio ainda nao vendido.

"Nem mesmo a Justiça sabe o que o Naya tem de fato, porque até hoje, quase um ano depois da tragédia, nao conseguimos obter a declaraçao de bens dele", disse Béja. O advogado explicou que o juiz da 20ª Vara pediu à Receita Federal um levantamento dos bens do ex- deputado, mas o órgao apresentou "um emaranhado de 900 páginas de números que nao revelavam nada". Resultado: sem saber ao certo o que Naya tem, as açoes de bloqueio de seus bens - já concedidas pela 4ª Vara de Falências e Concordatas e pela 39ª Vara Cível - perdem muito da sua eficácia. "Elas se tornam quase peças abstratas", completou Béja.

Na entrevista, Naya afirma que a Defesa Civil poderia ter impedido "que moradores retornassem ao prédio, depois da evacuaçao, para buscar documentos de carro, retirar carro, fazer sanduíche e buscar fantasia". O coordenador-geral da Defesa Civil, coronel Nilton Barros, nao quis comentar a declaraçao do ex- deputado, mas alegou que se a culpa fosse de seus subordinados, a Justiça já os teria arrolado no processo. "E nao é isso que ocorreu", disse.

Segundo Barros, um funcionário da Defesa Civil foi ao local imediatamente após o desabamento e evacuou o Palace 2, mas nao viu que ainda tinha gente no prédio. "Mesmo que tivesse visto alguém entrar, ele nao poderia impedir, porque a Defesa Civil nao tem poder de polícia", afirmou. No hotel Atlântico Sul, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, onde algumas da vítimas do Palace 2 estao morando, o clima era de revolta hoje à tarde, após a leitura da entrevista.

"Culpar os mortos é uma crueldade", lamentou a oncologista Bárbara Martins, de 42 anos, com os olhos marejados. Ela perdeu a filha, Luiza, de 12, e o ex-marido, o médico Nilton Martins, no desabamento. Luiza, Martins, sua segunda mulher, Rosângela, e Milton, de 5 anos, filho do casal, morreram dormindo. O argentino Oswaldo Benevide também estava desconsolado. Assim como Bárbara, ele perdeu um filho na tragédia - Lionel, de 18 anos. Ao lado da mulher, Cecília, que, muito emocionada, evitou falar, Benevide pediu a prisao de Naya ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.

"Será que é necessário mais alguma coisa para prender esse senhor?", perguntou Benevide. A presidente da Associaçao das Vítimas do Palace 2, Rauliette Guedes, rebateu a acusaçao do ex-deputado de que muitos dos moradores que hoje "fazem barulho" nao pagaram, juntos, "nem um R$ 1 milhao" pelos imóveis. "Havia um contrato de compra e venda e nós acreditávamos estar adquirindo um apartamento, nao uma sepultura", afirmou.




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