Na entrevista, Naya alega que nao pôde cumprir a ordem judicial por estar enfrentando problemas financeiros e culpa a Defesa Civil do município e os oito moradores mortos no desabamento do Palace 2, na Barra da Tijuca, zona oeste, pela tragédia. O edifício, que ruiu no dia 22 de fevereiro do ano passado, foi construído pela Construtora Sersan, do ex-deputado. Até hoje, 51 famílias vivem de improviso em um Hotel no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste, custeadas por Naya.
Será o terceiro pedido de prisao por desrespeito à ordem judicial impetrado por Béja contra o dono da Sersan - o primeiro foi feito em junho e o segundo, em agosto. Segundo Béja, o juiz da 20ª Vara apenas anexou-os ao processo. "Agora, porém, vou usar a matéria do jornal para reforçar o novo pedido de prisao", afirmou. Embora afirme estar "sem renda suficiente" para pagar as indenizaçoes, o ex-deputado nao quis revelar na entrevista o valor de seus bens no Brasil e nos Estados Unidos - onde possui, por exemplo, o conjunto Sandy Lanke Towers, composto por um apart-hotel e um prédio ainda nao vendido.
"Nem mesmo a Justiça sabe o que o Naya tem de fato, porque até hoje, quase um ano depois da tragédia, nao conseguimos obter a declaraçao de bens dele", disse Béja. O advogado explicou que o juiz da 20ª Vara pediu à Receita Federal um levantamento dos bens do ex- deputado, mas o órgao apresentou "um emaranhado de 900 páginas de números que nao revelavam nada". Resultado: sem saber ao certo o que Naya tem, as açoes de bloqueio de seus bens - já concedidas pela 4ª Vara de Falências e Concordatas e pela 39ª Vara Cível - perdem muito da sua eficácia. "Elas se tornam quase peças abstratas", completou Béja.
Na entrevista, Naya afirma que a Defesa Civil poderia ter impedido "que moradores retornassem ao prédio, depois da evacuaçao, para buscar documentos de carro, retirar carro, fazer sanduíche e buscar fantasia". O coordenador-geral da Defesa Civil, coronel Nilton Barros, nao quis comentar a declaraçao do ex- deputado, mas alegou que se a culpa fosse de seus subordinados, a Justiça já os teria arrolado no processo. "E nao é isso que ocorreu", disse.
Segundo Barros, um funcionário da Defesa Civil foi ao local imediatamente após o desabamento e evacuou o Palace 2, mas nao viu que ainda tinha gente no prédio. "Mesmo que tivesse visto alguém entrar, ele nao poderia impedir, porque a Defesa Civil nao tem poder de polícia", afirmou. No hotel Atlântico Sul, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, onde algumas da vítimas do Palace 2 estao morando, o clima era de revolta hoje à tarde, após a leitura da entrevista.
"Culpar os mortos é uma crueldade", lamentou a oncologista Bárbara Martins, de 42 anos, com os olhos marejados. Ela perdeu a filha, Luiza, de 12, e o ex-marido, o médico Nilton Martins, no desabamento. Luiza, Martins, sua segunda mulher, Rosângela, e Milton, de 5 anos, filho do casal, morreram dormindo. O argentino Oswaldo Benevide também estava desconsolado. Assim como Bárbara, ele perdeu um filho na tragédia - Lionel, de 18 anos. Ao lado da mulher, Cecília, que, muito emocionada, evitou falar, Benevide pediu a prisao de Naya ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
"Será que é necessário mais alguma coisa para prender esse senhor?", perguntou Benevide. A presidente da Associaçao das Vítimas do Palace 2, Rauliette Guedes, rebateu a acusaçao do ex-deputado de que muitos dos moradores que hoje "fazem barulho" nao pagaram, juntos, "nem um R$ 1 milhao" pelos imóveis. "Havia um contrato de compra e venda e nós acreditávamos estar adquirindo um apartamento, nao uma sepultura", afirmou.
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