A EH (Esteatose Hepática) ou fígado gorduroso (como é mais conhecido) é o depósito de gordura dentro das células hepáticas (hepatócitos). A extensão desse acúmulo irá determinar a amplitude do comprometimento, variando de leve alteração funcional até morte celular difusa e consequente fibrose e insuficiência hepática. Os principais exames que mostram o funcionamento do fígado podem se apresentar normais quando os depósitos gordurosos não são extensos, enquanto mostrarão alterações variáveis (aumento de enzimas – TGO, TGP e Gama GT) proporcionais à magnitude da EH.
Quando o distúrbio passa a acarretar lesão celular difusa com importante alteração enzimática se estabelece a esteato hepatite (inflamação causada pelo excesso de gordura lesando os hepatócitos) e, à medida em que o processo se perpetua, pode ocorrer a destruição de extenso universo celular com cicatrização residual, resultando em cirrose.
Até há bem pouco tempo, a relação entre o consumo de álcool e EH era tão bem estabelecida conceitualmente que o diagnóstico ultrassonográfico de EH suscitava imediata desconfiança do médico quanto ao hábito etílico do paciente em questão. Porém, muito além do abuso alcoólico, numerosas condições deflagram este processo, incluindo as hepatites virais crônicas, metais pesados, substâncias tóxicas, antibióticos e vários outros fármacos, doenças congênitas do metabolismo e algumas patologias sistêmicas, entre outras causas.
Contudo, a principal causa de EH são as alterações metabólicas inerentes ao ganho desproporcional de peso, o que justifica a ocorrência desta condição entre 25% e 90% dos pacientes com sobrepeso e obesidade. Quando o acúmulo gorduroso hepático ocorre exclusivamente por circunstâncias que não envolvam o consumo de álcool o processo é chamado ENA (Esteatose Não Alcoólica).
Muito embora a ENA ocorra em muitos pacientes com doenças que já possuam sintomatologias específicas, habitualmente esses indivíduos apresentam poucas queixas relacionadas ao fígado esteatótico, representadas por sensação de peso do lado direito do abdome e sensação de plenitude gástrica (estômago cheio). Em 10% a 20% dos portadores de ENA ocorre evolução para quadro mais severo de comprometimento funcional hepático, estado conhecido como EHNA (Esteato Hepatite Não Alcoólica), com inflamação e cicatrizes esparsas. Daqueles com EHNA, 20% evoluem para cirrose e indicação para transplante de fígado.
Ao menos 2% a 3% dos norte-americanos adultos possuem EHNA, o que significa aguardar aproximadamente 1,2 milhão de novos cirróticos nos Estados Unidos. Este contexto determinará brevemente que o número de transplantes hepáticos necessários por cirroses decorrentes da EHNA ultrapasse aqueles patrocinados pela hepatite C, até então a principal causa da fibrose hepática.
No Brasil não possuímos estatísticas seguras da prevalência de EH, mas sabemos que perto de 60% de nossa população está acima do peso, enquanto 20% são obesos. Estes percentuais sugerem desconfortável volume de candidatos a comprometimentos hepáticos graves, incluindo subtrações funcionais severas com numerosas indicações de transplantes.
Fica claro que a EH resulta de vários transtornos, embora na maior parte das vezes a principal razão para essa deposição gordurosa sejam as alterações metabólicas patrocinadas pelo excesso de gordura.
O único tratamento para a EH é tratar suas causas, sem que tenha surgido qualquer outra alternativa alicerçada pela ciência. A prevenção do ganho ponderal e/ou seu tratamento é a conduta mais importante no enfrentamento da EH, pois todos os fatores que conduzam à obesidade são potencialmente capazes de induzir à ENA, à EHNA e eventualmente à cirrose.
Por outro lado, doenças que promovam EH, tais quais diabete, dislipidemias (hipercolesterolemia e/ou hipertrigliceridemia), doenças gastrointestinais e outras, devem ser tratados com esmero. Obviamente, as substâncias hepatotóxicas de qualquer origem obrigatoriamente devem ser eliminadas, assim como fármacos indutores para ENA precisam ter seu uso revisto. Antivirais estarão indicados quando a causa for a hepatite B ou C, enquanto a abstinência alcoólica é imperativa na esteatose alcóolica, mas a proibição pode ser relativa em algumas situações de ENA.
Qualquer tratamento para esteatose hepática que não contemple buscar e cuidar da causa é perigoso equívoco, o qual sugere fortemente desconhecimento do profissional assistente, tornando obrigatória a procura por outra avaliação.
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