Entidades se manifestam contra mudança, que manteve isolamento no Grande ABC
As sete cidades da região ficaram de fora da flexibilização da quarentena anunciada ontem pelo governador João Doria (PSDB). Sem a reabertura gradual dos comércios e serviços não essenciais, ao contrário do que vai acontecer na Capital, os representantes da economia do Grande ABC classificaram a decisão como “equivocada” e “absurda”. Os estabelecimentos estão de portas fechadas desde o início do decreto estadual, em 24 de março.
Um dos setores mais afetados é o comércio, já que apenas supermercados, farmácias e outros classificados como essenciais podem operar. De acordo com o presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Pedro Cia Junior, deixar a região de fora “foi uma decisão absurda, estamos repudiando essa ação que só está beneficiando a Capital”. “Eles mesmos dizem que a situação (da pandemia) é complicada na Região Metropolitana e que a Capital é o epicentro, então, isso é um contrassenso”, afirmou. “Os sete prefeitos devem se juntar para flexibilizar aqui, senão o consumidor da região vai para São Paulo, prejudicando não só no privado, mas também no público, com arrecadação de impostos, que vão ficar na Capital. Foi decisão estapafúrdia e política”.
O presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, afirmou que a decisão deve ser tomada pelos municípios. “Como pode a cidade de São Paulo flexibilizar para shoppings enquanto nós, que somos vizinhos, que estamos ao lado, não podemos? O que vamos fazer, enviar nossos consumidores para a Capital? É um absurdo”, disse. “Quem deve decidir sobre a reabertura ou não do comércio deveriam ser os prefeitos, porque um município é diferente do outro. A decisão do governador é inconsciente e desnecessária”, disse, acrescentando que é preciso “fazer algo para planejar 2021, porque 2020 já está perdido”.
A crítica também partiu do presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema, José Roberto Malheiro. “A cada dia que passa, os comércios vão morrendo. Só hoje (ontem), soube de três que tiveram que fechar. Esta notícia é mais um baque, porque já perdemos as vendas de Dia das Mães e vamos ficar sem o Dia dos Namorados também. As vendas estão praticamente zeradas. Em alguns casos, só não estão zeradas por causa das vendas on-line, mas a maioria não estava preparada para isso e o que vende não chega nem perto do que venderia com as portas abertas.”
A decisão também traz consequências para bares e restaurantes, segundo o presidente do Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC), Beto Moreira. Ele afirmou que muitos estabelecimentos nem devem reabrir, e que a maioria já aguardava a retomada a partir do dia 1º de junho.
“Eu só queria entender como a prefeitura de São Paulo consegue ser uma ilha de excelência em meio a esse caos com a pandemia. É lamentável! E ainda mais, o que quer o governador com esse decreto, que a gente mande os nossos clientes daqui para consumir na cidade de São Paulo? É muito absurdo, pois é uma concorrência desleal”, disse.
SHOPPINGS
Com a região dentro da quarentena, os shoppings do Grande ABC devem continuar fechados. O Diário questionou os estabelecimentos sobre a decisão do Estado e os preparativos para uma possível retomada. Em Santo André, o Grand Plaza afirmou que reabertura depende do cumprimento de critérios estabelecidos pelo governo estadual e posterior definição do município. O estabelecimenro pretende seguir protocolo de reabertura, contendo procedimentos que ofereçam segurança e proteção aos colaboradores e clientes.
Em São Bernardo, o Shopping Metrópole afirmou que seguirá as determinações dos órgãos competentes e aguardará diretrizes da Prefeitura. “O empreendimento está se preparando para o momento de retomada de seu funcionamento, adotando um rigoroso protocolo para garantir uma operação zelosa, segura e adequada e preservar o bem-estar de todos, colaboradores e terceirizados, lojistas e clientes”, informou, em nota.
O Golden Square Shopping, localizado na mesma cidade, informou que avalia as medidas de flexibilização do isolamento físico e possui plano de retomada, que contempla medidas de biossegurança e protocolo de prevenção com procedimentos de sanitização e desinfecção com produtos de higiene.
Os demais estabelecimentos não se posicionaram. A Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers) informou que também preparou um protocolo de recomendações para o retorno.
Para indústria, expectativas também foram frustradas
A indústria do Grande ABC também se posicionou contra a decisão de deixar a região fora da flexibilização da quarentena. Para o setor, o comércio é visto como essencial para o escoamento da produção, por isso a importância de uma reabertura no atual momento de crise econômica, causado pela pandemia do coronavírus.
“Para a indústria fluir a produção precisa de comercialização. Nós vemos a decisão com muita preocupação, e sem entender bem o critério. Fiz contato com o Consórcio (Intermunicipal do Grande ABC) e foi importante ouvir que pelo menos a posição deles é não concordar com essa medida. Pretendemos conversar e continuar acompanhando isso. Agora, o que não pode é a economia continuar parada”, disse o diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Santo André, que também responde por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Norberto Perrella.
O diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior, afirmou que a expectativa era de uma reabertura gradual, a partir de 1º de junho. “A região tem números melhores do que a Capital. Não dá para ter medidas diferentes, porque estamos na divisa com a Capital. Por exemplo, não dá para separar São Caetano da Vila Prudente. em São Paulo. Enxergamos isso com muita preocupação, porque o comércio é onde se desova todos os produtos”, afirmou o diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior.
O diretor do Ciesp Diadema, Anuar Dequech Júnior, afirmou que as empresas tiveram queda de cerca de 70% na produção. Disse ainda que a entidade já tinha defendido a reabertura que foi anunciada pelo prefeito da cidade, Lauro Michels (PV), mas foi barrada pela Justiça. “É necessário flexibilizar. Esse decreto (de flexibilização) ainda deixou pendente a questão da indústria, que precisa ser classificada como essencial”, reclamou.YF
Representantes dos trabalhadores defendem que a quarentena continue
Na contramão dos empresários, os sindicatos representantes das principais categorias da região defendem a continuação do decreto de quarentena. Para os sindicalistas, o fim do isolamento físico pode provocar onda de contaminação, principalmente para os moradores do Grande ABC que precisam se deslocar para a Capital para trabalhar.
“Acredito que nenhuma medida de flexibilização deveria ser adotada sem a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde). Deveríamos estar em um cenário de declínio de contágio e também de mortes. Mas não estamos em condições de fazer isso, pois o que existe é aumento dos números. A diferença para outros países que vêm fazendo isso (reabertura) é que este não é o momento de flexibilização”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.
De acoreo com o sindicalista, há muitas pessoas na região que trabalham na Capital. “Não existem muros nas cidades. Temos diversas pessoas que vão trabalhar na Capital e nas demais cidades, o que facilita o contágio”, afirmou.
O presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Raimundo Suzart Lima, também afirmou que os casos na região têm aumentado. “É muito perigoso, neste momento, colocar muita gente na rua e os espaços sem controle. O mais importante é salvar vidas”, disse.
“Com relação à flexibilização, é uma medida equivocada no momento em que a pandemia não está controlada e o sistema de saúde continua sobrecarregado. O governo deveria anunciar medidas de acesso ao crédito para incentivar os setores econômicos a manter a quarentena e aumentar o isolamento das pessoas”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira. Segundo ele, a medida deve agravar ainda mais a situação de contágio na região, por causa da interligação. YF
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