As pessoas só deveriam dar opinião sobre aquilo que realmente conhecem. O autor dessa frase é o historiador Luiz Roque, que a disse em entrevista sobre seu livro recém-lançado Não Basta Citar, Tem que Explicar (Saraiva, 224 págs., R$ 44), com o subtítulo Frases Importantes e Poderosas e seu Contexto Histórico.

A aspereza da declaração indica, de certa forma, qual a intenção do autor com a obra. "Acredito que, ao ler o livro, a pessoa possa se interessar por história, já que ele traz frases chamativas acompanhadas da razão e do momento em que foram ditas", explica Roque.

Impossível afirmar se o objetivo será bem-sucedido, mas Não Basta Citar é um compilado muito curioso e, como pretende, bem elucidativo em relação aos fatos que marcaram suas épocas. São 265 frases desde a Idade Antiga até a Contemporânea, com seus devidos créditos e contextualização suficiente para dar ao leitor condições de conversar com o autor, caso tenha a felicidade de o encontrar.

"Tenho dificuldade em discutir alguns assuntos com pessoas sem nenhum conhecimento histórico", diz Roque. Como exemplo, questiona como alguém pode falar sobre o surgimento da esquerda e da direita "se não souber ao menos localizar a Revolução Francesa".

O livro vem em ordem cronológica, a partir de uma citação de Krishna a Arjuna que consta na obra sagrada hindu Bhagavad Gita (cerca de 1500 a.C.): "O Eu nunca nasceu nem jamais morrerá. E, uma vez que existe, nunca deixará de existir".

Seguem outras frases de personalidades da religião, política, ciências e artes, entre outras. O critério para seleção foi a lembrança do autor e sua pesquisa para alimentar um site de conteúdo histórico e cultural. Portanto ficaram de fora apenas aquelas que não foram lembradas a tempo. "O processo de confecção desse livro foi lento, cerca de quase um ano. Meu trabalho fiz em três meses, mas cada vez que os originais iam para editora demoravam para voltar", desabafa Roque.

Apesar de parecer um problema para a ansiedade do autor, a demora foi benéfica para o resultado final. "Eu ficava irritado, mas em compensação o livro ficava mais rico. Se a editora fosse mais rápida, talvez teríamos apenas umas 190 frases", afirma.

Variedade - No desfile de personalidades andam Hitler, Jesus, Napoleão, Getúlio Vargas, Bertolt Brecht, Júlio César, Caetano Veloso, Einstein, papa Bento XVI e até personagens da literatura, como Dom Quixote. "Dá-me o escudo, Sancho amigo! Vou enfrenta-los!", do cavaleiro diante dos moinhos.

Se está registrado em livro, a frase é extremamente confiável. Caso contrário há que se duvidar. "A maioria não é fidedigna porque não se pode provar. Quem foi que anotou a frase no momento em que foi dita?", questiona Roque, ao mesmo tempo que defende: "De qualquer forma, são frases pitorescas, com sentido histórico e utilidade para estudar uma época".

Talvez seja o caso do embate verbal, posto no livro na sequência, entre Winston Churchill (1874-1965) e Adolf Hitler (1889-1945), durante a Segunda Guerra. "Só posso oferecer-lhe sangue, suor e lágrimas", disse o britânico quando seu país enfrentava sozinho a Alemanha. A Inglaterra é comandada por um bêbado shakespeareano", foi a frase de Hitler, que, ao contrário de Churchill, não fumava, não bebia e era vegetariano.

Hoje em dia - Em 2007, em visita ao antigo campo de concentração de Auschwitz, papa Bento XVI proferiu "Onde estava Deus nesse momento?". E, em 1996, ao assumir o governo do Afeganistão, o Talibã decretou em primeiro lugar "É proibido às mulheres andarem descobertas".

Sobre as citações mais recentes, Roque faz ressalva a seu valor. "Com mais distanciamento histórico, vai-se dando seu valor devido. Um texto recente pode embarcar uma visualização correta ou desvairada", acredita.