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Covid-19 tem efeito na economia regional

Balança comercial, com deficit de US$ 35,31 milhões. dá sinais sobre desdobramentos futuros

Por Flavia Kurotori
do Diário do Grande ABC
12/04/2020 | 00:05
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Fotos Públicas


A balança comercial (diferença entre exportações e importações) das sete cidades encerrou o primeiro trimestre negativa em US$ 35,31 milhões, quantia 76,53% menor do que o deficit de US$ 150,45 milhões registrados no mesmo período de 2019. Ainda que o saldo negativo menor seja um indicador positivo, os valores negociados também reduziram, o que preocupa especialistas, sobretudo em tempos de coronavírus.

Para se ter ideia, as exportações foram de US$ 899,32 milhões para US$ 773,55 milhões (-13,98%), diferença de US$ 125,77 milhões, entre os primeiros três meses do ano passado e de 2020. Ao mesmo tempo, as importações caíram 22,94%, equivalente a US$ 240,9 milhões, passando de US$ 1,04 bilhão para US$ 808,87 milhões (veja dados por cidade na arte ao lado). As informações são do Ministério da Economia e foram tabulados pelo Diário.

“Tínhamos uma previsão de que este ano seria de crescimento, mas, logo na virada de 2019 para 2020, queimamos a largada e, no meio do caminho, surgiu o coronavírus. Os números revelam uma queda muito parcial comparada ao que pode cair no segundo trimestre”, assinala Ricardo Balistiero, coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia. “Esta crise é diferente das outras crises que passamos, pois é uma crise de oferta e de demanda.”

O coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, estima que o Grande ABC encerre o ano com volume de vendas ao Exterior na ordem de US$ 3 bilhões, metade dos cerca de US$ 6 bilhões comercializados em 2010. “Menos vendas externas significam produção menor e menos empregos”, afirma o economista.

Na avaliação de Balistiero, mesmo que a atividade econômica seja retomada nos próximos meses, é ousado falar em recuperação. “Este ano já era e a crise pode entrar em 2021, ainda que não com a mesma intensidade”, opina. Ele lembra que novos isolamentos sociais e consequente redução de movimentação da economia podem voltar a acontecer caso haja novo ciclo de infecção. “Já se observa isso na Ásia e pode ocorrer aqui também. O Brasil é praticamente a quarta onda de infecção, então teremos que esperar e ver se a Europa e os Estados Unidos também terão reinfecção e, até por isso, há uma incerteza muito grande na economia”, detalha o especialista.

Exemplo na região é que as cinco montadoras – Volkswagen, Scania, Mercedes-Benz e Toyota, em São Bernardo, e a GM (General Motors), em São Caetano – estão com a produção suspensas. As fábricas optaram por concessão de férias coletivas e banco de horas aos funcionários, além da suspensão temporária do contrato de trabalho, no caso da GM e da Toyota. Conforme o Diário publicou no último mês, as perdas na indústria regional podem chegar a 10%, ou seja, pelo menos R$ 2,5 bilhões, no ano.

Conceição destaca que a corrente de comércio (soma dos valores exportados e importados) deve encerrar 2020 entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões – no primeiro trimestre, a soma chega a US$ 1,58 bilhão –, praticamente metade dos US$ 11,3 bilhões observados há uma década, quando o comércio exterior estava intenso no Grande ABC. Vale lembrar que 2019 encerrou com exportações a US$ 3,75 bilhões e importações de US$ 3,8 bilhões, resultando no deficit de US$ 46,75 milhões, o primeiro em meia década. A corrente de comércio ficou em US$ 7,55 bilhões.

Para este ano, projeções otimistas do mercado indicavam crescimento de 2,5% a 3% no PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Entretanto, Conceição avalia que as âncoras que seguram o crescimento do País, tais como redução do consumo familiar, gastos públicos e investimentos privados, adicionados aos impactos da Covid-19, podem resultar em retração de pelo menos 5%.

Cenário requer mudança na importação

O coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, defende que a região seja protagonista em plano nacional de substituição de importações. “Precisamos definir alguns setores estratégicos nos quais somos elevadamente importadores e, a partir de um diálogo envolvendo governos, empresários, universidades e sindicatos, buscar fixar metas de substituição de importações de itens, peças, componentes e serviços de maior valor agregado.”

O docente sugere que a medida inicie pela área da saúde. “A crise está evidenciando o quão dependente de importações de itens de saúde no País é, os ventiladores são apenas um pequeno exemplo da ponta de um iceberg no qual podemos incluir equipamentos, itens cirúrgicos, luvas, remédios e vacinas”, aponta. O plano envolveria atores em busca de substituição gradativa da compra de insumos de outros países a curto, médio e longo prazos.Posteriormente, o movimento poderia ser adotado por diversos segmentos, como o químico, de eletrônicos e automobilístico. 




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