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Graziano aposta em 'agenda verde'
Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
09/11/2009 | 07:00
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Controlar a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa sem prejuízo à atividade econômica e estimular práticas sustentáveis de transportes público e geração de energia ‘limpa'.

São esses os principais desafios da recém-aprovada Política Estadual de Mudanças Climáticas, arsenal de medidas que o governo José Serra (PSDB) pretende lançar mão a fim de levar a chamada ‘agenda verde' a todos os rincões do Estado de São Paulo. Algumas das metas são ousadas: cortar em 20% o lançamento de dióxido de carbono na atmosfera até 2020 e diversificar os eixos de mobilidade urbana, estabelecendo prêmios aos municípios que ampliarem, por exemplo, o número de ciclovias.

A lei será sancionada hoje pelo governador no Palácio dos Bandeirantes e foi delineada pela equipe do secretário estadual de Meio Ambiente, Francisco Graziano Neto, o Xico Graziano, que critica a política ambiental do governo federal e diz ser possível conciliar o desenvolvimento, inclusive do setor industrial, com práticas ambientais de vanguarda. Confira abaixo trechos da entrevista.

APJ - Como é possível adotar metas tão ousadas na redução da emissão de gases em São Paulo sem que haja prejuízo à atividade econômica no Estado?

FRANCISCO GRAZIANO NETO - Estimulando as novas atividades produtivas que vão fazer parte da nova economia mundial, a chamada ‘economia verde'. Essa é a nossa aposta. Que em dez anos o Estado abra uma nova agenda, que já está acontecendo. Novas tecnologias e novos setores produtivos trabalhando na economia descarbonificada, incluindo energia renovável, etanol, bioeletricidade, energia eólica.

APJ - Há um diagnóstico confiável e setorizado das emissões de gases que causam o efeito estufa?

GRAZIANO - A partir do inventário das emissões, teremos como ver, setor a setor da economia paulista, como está a agenda e se é possível enfrentar esta questão sem dúvidas.

APJ - Houve pressão da indústria para flexibilizar essa meta? Como o Estado reagiu?

GRAZIANO - Houve sim. As lideranças mais conservadoras ainda entendem a questão ambiental como uma ameaça ao crescimento econômico. Alguns setores temem mais, outros acham que é possível.

APJ- Quais setores estão mais atentos e preparados?

GRAZIANO - O setor de transportes, por exemplo. Muitas oportunidades já estão sendo criadas. Então, você vê uma competição de setores tradicionais com setores novos e inovadores, que estão vendo na crise ambiental novas oportunidades.

APJ - O setor de transportes foi apontado no projeto que instituiu a política estadual de mudanças climáticas como um dos gargalos. Quando as cidades do Interior, médias e grandes, vão entrar na agenda do transporte sustentável?

GRAZIANO - Todos hoje acompanham muito mais esta agenda. Há certa mobilização junto aos administradores municipais. No meu projeto chamado Município Verde e Azul, vou premiar as prefeituras que apresentarem os melhores projetos de ciclovias ou de transporte alternativo. Já estamos induzindo isso. E o governo do Estado já está investindo muito em transporte coletivo.

APJ - O Estado vai investir mais neste segmento? Faltam recursos às prefeituras para grandes projetos...

GRAZIANO - Quando apresentarmos daqui a um ano a política para transporte sustentável, o Estado vai sinalizar mais fortemente a necessidade do transporte coletivo. Não só nas cidades, mas no fluxo de cargas. Significa hidrovias, tirar gargalos de ferrovias, integrar modais de transporte.

APJ - A implantação de rodízios de veículos e pedágios no Interior é irreversível?

GRAZIANO - Só podemos pensar nessas formas de controle, nessa política de restrição de mobilidade, quando avançarmos bem no transporte coletivo das cidades. Não dá para colocar a carroça na frente do burro. Primeiro, os governos precisam melhorar seus sistemas de transporte coletivo. E, mais para frente, pensar em restrição à mobilidade. Se não, não funciona. Isso está no horizonte das políticas sustentáveis, mas o timing é outro.

APJ - O senhor considera a ministra Dilma Rousseff figura adequada para representar o Brasil na Conferência de Copenhague?

GRAZIANO - Todos os ambientalistas se surpreenderam muito com a indicação da ministra Dilma, pois ela nestes anos todos no governou atuou contra o ambientalismo. Ela foi forte defensora das usinas termelétricas. Nas obras do PAC, o governo sistematicamente tem feito gestões para amenizar e até dispensar o licenciamento ambiental, o que é inconcebível. Então, ela não tem história e nem familiaridade. Não vou dizer que ela é contra, mas é surpreendente. Mostra a falta de sensibilidade do governo Lula com a questão ambiental.

APJ - Sua trajetória é ligada ao agronegócio e agora o senhor é gestor público na Pasta do Meio Ambiente. Como conciliar interesses, muitas vezes conflitantes, entre os dois segmentos?

GRAZIANO - Eu não tenho dúvida de que as agendas são conciliáveis. A agricultura com o meio ambiente. Mas é um desafio. Até porque a falta de definição do governo federal deixou este assunto ficar muito atritado. Hoje há uma polêmica forte entre ruralistas e ambientalistas, o que é uma insanidade. Atuo há anos para fazer essa mediação. O fato de ter sido secretário de Agricultura me ajuda nisso. A minha formação profissional é de engenheiro agrônomo. Tenho um desafio de vida: trabalhar para esta conciliação.

APJ - E na prática, o que precisa ser feito? O desmate é a maior preocupação?

GRAZIANO - Na prática, significa fazer pacto contra o desmatamento no País. Proponho moratória de cinco anos, prazo suficiente para que o assunto seja melhor discutido.

APJ - O senhor considera possível a conciliação destes interesses? Há exemplos?

GRAZIANO - Não tenho dúvida, até porque em outras questões isso já acontece. Por exemplo, na conservação do solo, o plantio direto já é uma agricultura sustentável. Já é uma prova onde você produz com níveis de produtividade melhores, promove o combate à erosão e garante a conservação do solo. Na questão dos agrotóxicos, podemos ainda avançar.

APJ - Na sua opinião, falta um grande mediador nacional, um ponto de convergência?

GRAZIANO - Claramente. Nós não temos com quem conversar. Os ministros de Agricultura e do Meio Ambiente, em vez de trabalhar conjuntamente, batem boca. O Lula viaja, não decide nada. E a chefe da Casa Civil agora também só acompanha ele. No Congresso, a confusão é notória. Aqui em São Paulo, se os secretários de Meio Ambiente e de Agricultura discutissem, no dia seguinte ambos estariam demitidos. Falta comando nesta agenda. Falta querer resolver. Quem é governo precisa resolver conflitos, propor soluções.

APJ - Quais as metas para aterros sanitários irregulares

GRAZIANO - Ainda vou divulgar os dados finais. Com a intolerância que eu imprimi junto com a Cetesb e ajuda que demos aos municípios com compra de equipamentos, eu disse ao Serra que ia acabar com os lixões em 2009. E vou cumprir.




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